Na cidade

Paragem de autocarro em Lisboa voltou a ter assentos — mas por pouco tempo

O coletivo Infraestrutura Pública colocou várias cadeiras para quem esperava pelo autocarro na Avenida Fontes Pereira de Melo.
Foto: Infraestrutura Pública.

Em novembro do ano passado, um banco de madeira surgiu de forma inesperada no interior de uma das novas paragens da Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa. Esta aparição surpreendeu dezenas de residentes, que desde que a Câmara Municipal de Lisboa iniciou as obras de substituição das paragens, deixaram de ter onde se sentar enquanto aguardavam o autocarro.

O assento desapareceu na manhã seguinte, mas agora, dois meses depois, os passageiros voltaram a ter onde se sentar na paragem de autocarro da Avenida Fontes Pereira de Melo. Este regresso é mais uma iniciativa da Infraestrutura Pública (IP), um coletivo criado por um grupo de lisboetas que se uniu para criticar as deficiências do mobiliário e das infraestruturas públicas na cidade.

Hoje voltámos à paragem de autocarro, mas com cadeiras”, partilhou o grupo nas redes sociais. Os assentos foram colocados na manhã de quinta-feira, 23 de janeiro, proporcionando um merecido descanso a várias pessoas que aguardavam o transporte. “Muitas delas são empregadas domésticas que passam oito horas em pé a limpar casas e que sentem falta do antigo banco, que lhes foi retirado com as ‘obras de melhoria’”, destacam.

Contudo, o descanso não durou muito. Três horas depois, as cadeiras foram removidas do local. “A JCDecaux apareceu com a carrinha do serviço de manutenção. Mais do que uma simples manutenção, parece uma agressão retirar as cadeiras às pessoas que estavam sentadas”, enfatiza o grupo.

 
 
 
 
 
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Com estas intervenções, o grande objetivo do coletivo é reclamar o espaço que está a ser roubado aos cidadãos. “Somos todos residentes e cidadãos de Lisboa que fomos percebendo que tudo o que antes era público está-nos a ser tirado. E estes espaços são muito importantes para continuar a haver vida na cidade. Nem tudo tem de ser pago”, contou à NiT Marta Gaspar, de 27 anos, um dos membros do coletivo.

Desde setembro de 2023 que têm devolvido aos lisboetas “o que lhes tem sido tirado” pela autarquia. Primeiro, intervieram na Praça Paiva Couceiro, na Penha de França, ao devolver os bancos e as mesas que a Junta de Freguesia tinha retirado. “Queremos sentar-nos para conversar, descansar, jogar, comer, ler. Usamos o espaço público como um espaço de passagem quando também é um espaço de estar. A cidade está desenhada para maximizar o rendimento e a mobilidade. Um banco pode mudar isto.”

O mesmo está a acontecer atualmente com as novas paragens de autocarro, que viram os seus assentos desaparecer. Nos últimos meses, as estações de autocarro sofreram obras de melhoria, no âmbito do contrato de publicidade assinado entre a Câmara de Lisboa e a JCDecaux, mas o resultado da intervenção tem gerado inúmeras críticas.

O desaparecimento dos bancos onde as pessoas podiam esperar sentadas pelo transporte não passou despercebido à Infraestrutura Pública, que fez questão de “repor o que as novas paragens tiraram”.

“Muitos dos bancos foram substituídos por ‘encostos’. Pagamos transportes públicos, que não vêm todos os minutos e já não temos direito a esperar sentados. Nestes últimos meses vemos em pé, à espera, pessoas com bengalas e muletas, trabalhadores cansados, mães com bebés ao colo, miúdos, mães a dar de mamar, grávidas”, criticam.

Dependendo da estação, foram colocados diferentes modelos de abrigos, consoante o espaço disponível. Algumas dessas paragens nunca mais voltaram a ter assentos. O motivo da autarquia, nota o coletivo, foi “a acessibilidade pedonal”.

“Dizem-nos que as paragens que têm apenas o encosto não têm espaço no passeio para ter um banco. O que não faz sentido nenhum, porque antes desta obra estava lá um. Caso fosse mesmo esse motivo, a solução seria aumentar a calçada, não retirar o assento.”

O coletivo tem sido autor de uma série de intervenções pela cidade no último ano. Depois da colocação de bancos e mesas da Praça Paiva Couceiro — uma ação que incentivou a Junta de Freguesia a devolver os equipamentos —, já fizeram uma digressão com um WC portátil para mostrar a falta de sanitários públicos em várias praças da cidade e conseguiram que o chafariz do Intendente voltasse a ter água. Pelo caminho, ainda devolveram as 12 cadeiras que a freguesia de Arroios retirou do Jardim Constantino.

 
 
 
 
 
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