O mar é de todos e o surf é sem limites. Só que, na prática, não é bem assim. Na passada quinta-feira, 13 de setembro, os surfistas da praia de São João da Caparica, na Costa de Caparica, Almada, foram retirados da água pela Polícia Marítima. Foram ainda autuados e as pranchas foram-lhes retiradas — vão ter de ficar sem elas durante vários dias e eventualmente pagar para as recuperar.
O motivo? Estariam na zona errada do mar. As praias portuguesas têm corredores próprios para o surf e os praticantes sabem-no. O objetivo é que não interferiram com os banhistas, mantendo a segurança de toda a gente.
Mas, entre a proliferação de escolas de surf e o mar nem sempre a colaborar, o espaço que sobra para os surfistas por vezes é inexistente, dizem. Mesmo assim, os praticantes conhecem as regras e garantem que estavam, esta quinta feira, pelas 17 horas, a respeitá-las— ou assim pensavam.
“O problema ali é que existem vários corredores de surf e as escolas usam-nos, e depois não há espaço para fazer surf. Mas o que os surfistas me contaram foi que estavam na única zona do mar onde havia ondas, que as bandeiras dos nadadores salvadores estavam conforme, mas foram entretanto mudadas para zona de banhos. E que a polícia chegou no momento em que eles estavam a mudar de lugar”, conta à NiT Miguel Gomes, presidente da Associação de Surf da Costa de Caparica.
Os surfistas foram então chamados para sair da água. Depois foram identificados, multados e as suas pranchas apreendidas.
“E o pior é que havia lá miúdos, de 9 e 10 anos”, explica Miguel Gomes. “”Não me lembro de nada assim. Só talvez nos anos 80. Nem nos anos 80”.
Segundo o presidente da associação de surf, que não estava no local mas soube do incidente pelos membros do seu clube, a polícia foi chamada por um banhista.
À “SurfTotal“, um dos surfistas autuados contou os restantes detalhes. “Estávamos a surfar no único pico onde quebravam ondas em toda a extensão da praia. Quando nos apercebemos, os nadadores salvadores tinham mudado a zona de banhos precisamente para a frente onde quebravam as ondas. Nessa altura os nadadores começaram a acenar e a apitar para que nós fossemos mais para a esquerda, e nós fomos obedecendo mas um pouco confusos pelo que se estava a passar, e entretanto apareceu a polícia”.
O resultado: “A polícia marítima chegou e mandou toda a gente que estava a surfar sair da água. Multaram-nos e apreenderam-nos as pranchas. Uma semana sem as pranchas. (…) Quando tentamos explicar à policia que os Nadadores Salvadores nos tinham pedido para ir mais para a esquerda, os próprios nadadores negaram tal situação… bom foi uma vergonha o que ali se passou”.
A NiT contactou a Polícia Marítima da Caparica e de Lisboa, mas não conseguiu obter ainda esclarecimentos sobre o sucedido.