Na manhã da passada quarta-feira, 20 de novembro, um banco de madeira instalado no interior de uma das novas paragens de autocarro da Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa, surpreendeu dezenas de moradores. O novo mobiliário foi imediatamente utilizado por quem esperava pelo transporte — um cenário que não acontecia desde que há cerca de um ano, a Câmara Municipal de Lisboa arrancou com as obras de substituições das paragens, que trocaram os assentos por um mero encosto de metal.
Por detrás desta intervenção está a Infraestrutura Pública (IP), um coletivo fundado por um grupo de lisboetas que se uniu para apontar o dedo aos problemas do mobiliário e de infraestruturas públicas na capital. A missão é clara: “Reclamar o espaço que nos foi roubado”, explicam à NiT.
“Somos todos residentes e cidadãos de Lisboa que fomos percebendo que tudo o que antes era público está-nos a ser tirado. E estes espaços são muito importantes para continuar a haver vida na cidade. Nem tudo tem de ser pago”, diz Marta Gaspar, de 27 anos, um dos membros do coletivo.
Desde setembro de 2023 que têm vindo a devolver aos lisboetas “o que que lhes tem sido tirado” pela autarquia. Primeiro, intervieram na Praça Paiva Couceiro, na Penha de França, ao devolver os bancos e as mesas que a Junta de Freguesia tinha retirado. “Queremos sentar-nos para conversar, descansar, jogar, comer, ler. Usamos o espaço público como um espaço de passagem quando também é um espaço de estar. A cidade está desenhada para maximizar o rendimento e a mobilidade. Um banco pode mudar isto.”
O mesmo está a acontecer atualmente com as novas paragens de autocarro, que viram os seus assentos desaparecer. No último ano, as estações de autocarro sofreram obras de melhoria, no âmbito do contrato de publicidade assinado entre a Câmara de Lisboa e a JCDecaux, mas o resultado da intervenção tem gerado inúmeras críticas.
O desaparecimento dos bancos onde as pessoas podiam esperar sentadas pelo transporte não passou despercebido à Infraestrutura Pública, que fez questão de “repor o que as novas paragens tiraram”.
“Muitos dos bancos foram substituídos por ‘encostos’. Pagamos transportes públicos, que não vêm todos os minutos e agora já não temos o direito a esperar sentados. Nestes últimos meses vemos em pé, à espera, pessoas com bengalas e muletas, trabalhadores cansados, mães com bebés ao colo, crianças, mãos a dar de mamar, grávidas”, criticam.
Dependendo da estação, foram colocados diferentes modelos de abrigos, consoante o espaço disponível. Algumas dessas paragens nunca mais viram os seus assentos. O motivo da autarquia, nota o coletivo, foi “a acessibilidade pedonal”.
“Dizem-nos que as paragens que têm apenas o encosto não têm espaço no passeio para ter um banco. O que não faz sentido nenhum, porque antes desta obra estava lá um. Caso fosse mesmo esse motivo, a solução seria aumentar a calçada, não retirar o assento.”
Perante este súbito desaparecimento, o coletivo dirigiu-se a uma das novas paragens da Avenida Fontes Pereira de Melo e instalou um banco de madeira na passada quarta-feira, 20 de novembro. Ao longo do dia, muitos foram os que se sentaram enquanto esperavam pacientemente pelo autocarro. “Uma das senhoras disse-nos que trabalhava o dia inteiro em pé numa pastelaria e que o único tempo em que podia descansar as pernas era quando esperava pelo autocarro. Ultimamente tem apanhado outro transporte, no Saldanha, onde se consegue sentar, mas perde o dobro do tempo”, revela.
Outro dos utilizadores do banco improvisado “tinha o joelho inchado e preparava-se para fazer uma ressonância magnética” no dia seguinte. Sem o banco colocado pelo coletivo, teria de esperar de pé.
Em conversa com outros moradores, os membros do IP perceberam que muitos acreditavam que a obra ainda não estava concluída. Diziam que “não fazia sentido terem retirado um banco da paragem”.
O novo assento, com capacidade para três pessoas, ofereceu descanso a dezenas de pessoas, muitas delas com mobilidade reduzida, entre as 7h30 e as 20h30. E podia ter ajudado ainda mais pessoas, se não tivesse sido retirado no dia seguinte. “Não sabemos quem o retirou, mas é demasiado pesado para ter sido apenas uma pessoa”, admite.
O coletivo tem sido autor de uma série de intervenções pela cidade no último ano. Depois da colocação de bancos e mesas da Praça Paiva Couceiro — uma ação que incentivou a Junta de Freguesia a devolver os equipamentos —, já fizeram uma digressão com um WC portátil para mostrar a falta de sanitários públicos em praças da cidade e conseguiram que o chafariz do Intendente voltasse a ter água. Pelo caminho, ainda devolveram as 12 cadeiras que a freguesia de Arroios retirou do Jardim Constantino.
Esta última ação, contudo, viu o seu propósito cumprido: despertar a atenção para o problema. “Foi-nos dito que era uma obra de melhoramento, mas para além de não ter melhorado nada, piorou. Perdemos o direito de esperar sentados pelo autocarro. Antes já era algo básico, só cabiam umas três pessoas. Agora nem isso”, desabafa.
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O objetivo agora é que a autarquia ou a empresa responsável devolva o que tirou às estruturas. “Podíamos estar a lutar por bancos maiores, mas ainda estamos a lutar pelo direito a sentar.”
Dependendo da estação, foram colocados diferentes modelos de abrigos, consoante o espaço disponível. Algumas dessas paragens nunca mais viram os seus assentos. O motivo da autarquia, diz o coletivo, foi “a acessibilidade pedonal”.
“Dizem-nos que as paragens que têm apenas o encosto não têm espaço no passeio para ter um banco. O que não faz sentido nenhum, porque antes desta obra estava lá um. Caso fosse mesmo esse motivo, a solução seria aumentar a calçada, não retirar o assento”, sublinham.
Perante este súbito desaparecimento, o coletivo dirigiu-se a uma das novas paragens da Avenida Fontes Pereira de Melo e instalou um banco de madeira na passada quarta-feira, 20 de novembro. Era por volta das 7h30 quando o grupo chegou ao local com um banco de madeira feito pelos próprios membros.
Ao longo do dia, muitas foram as pessoas que se sentaram enquanto esperavam pacientemente pelo autocarro. “Uma das senhoras contou-se que trabalha o dia inteiro em pé numa pastelaria e que o único tempo que podia descansar as pernas era quando esperava pelo autocarro. Ultimamente tem apanhado outro transporte, no Saldanha, onde se consegue sentar, mas perde o dobro do tempo”, revela.
Carregue na galeria para ver o uso dado ao banco que o coletivo Infraestrutura Pública instalou na paragem de autocarro.