A humanidade passa, a partir deste sábado, 22 de agosto, a consumir recursos que apenas devia ser utilizados em 2021, visto que já esgotou os que a Terra tinha disponíveis para este ano, segundo cálculos da organização internacional “Global Footprint Network”.
Segundo adianta a “Lusa“, o calendário da organização dedicada à sustentabilidade, divulgado esta sexta-feira pela associação ambientalista portuguesa Zero, salienta que este ano se começa “a usar o cartão de crédito ambiental” três semanas mais tarde do que no ano passado, mas sublinha que tal se deve apenas à pandemia de Covid-19 e não a planeamento e mudanças estruturais.
A Zero lembra, em comunicado, que a resposta mundial à Covid-19 levou à redução da pegada ecológica da humanidade em quase 10 por cento e ao adiamento do Dia da Sobrecarga do Planeta; mas que mesmo assim se esgotaram agora os recursos existentes para o ano inteiro, pelo que vão ser usados em 2020 os recursos naturais equivalentes a 1,6 planetas Terra.
Devido à pandemia, a redução da pegada ecológica permitiu ver “o mundo que podemos ter se agirmos no sentido de criar um futuro sustentável”, mas é preciso agora construir “um futuro onde todos possam prosperar dentro dos limites do planeta”, refere a Zero. E esse futuro constrói-se, adianta a organização, com mudanças na forma como se produzem e consomem alimentos, na quantidade de bens que se consome, na forma de mobilidade ou nas fontes de energia utilizada.
Segundo o comunicado, a redução da pegada de carbono para metade iria fazer com que o “cartão de crédito ambiental” só começasse a ser usado no fim de novembro (93 dias mais tarde). E reduzir para metade a pegada ligada à mobilidade, com mais quilómetros andados a pé ou de bicicleta, faria com que o cartão só fosse acionado em setembro. O mesmo acontecendo com uma redução para metade do consumo de carne, ou a redução também para metade do desperdício alimentar.
“O défice ecológico global começou no início da década de 1970. Agora, a dívida ecológica acumulada resultante é equivalente a 18 anos terrestres. Por outras palavras, o planeta necessitaria de 18 anos de regeneração para inverter os danos decorrentes do uso excessivo dos recursos naturais, assumindo que o uso excessivo seria totalmente reversível”, salienta a Zero, acrescentando que seria possível antes de 2050 consumir os recursos do ano sem ir buscar recursos futuros se em cada ano se reduzisse o défice em cinco dias.
No comunicado a associação alerta ainda para as emergências que a humanidade vive, que combinam alterações climáticas, perda de biodiversidade e pandemias de saúde humana e diz que ciência é clara quando alerta que clima, biodiversidade e saúde humana “estão totalmente integrados e interdependentes”.
Em maio, “Global Footprint Network” revelou que na questão dos recursos, Portugal está com uma má prestação: os recursos do planeta para 2020 esgotavam-se a 25 de maio, sem o ano ainda ir a meio, se todos os países consumissem como a média dos portugueses, divulgou então.