Na cidade

Rita, a urban explorer que já dormiu num palacete abandonado. “Foi muito assustador”

Tem 29 anos, estudou História da Arte e é guia turística, mas nos seus tempos livres dedica-se ao urbex.
Tem 29 anos.

Sempre em voz baixa, para ninguém a ouvir, Rita Constantino falou com a NiT numa sexta-feira ao final da tarde. Andava a explorar um local abandonado no Norte, que descreveu como um “Palácio de Queluz” abandonado, com camas do século XVII cheias de pó, quadros pendurados na parede e passagens secretas. Tinha passado o dia inteiro ali, a conhecer cada canto, como faz sempre que visita estes locais cheios de história que parece que ficaram parados no tempo. E não foram poucos — já explorou cerca de 300.

Rita tem 29 anos, estudou História da Arte na Faculdade de Letras de Lisboa e considera-se “bastante rebelde”. É guia turística privada na empresa Portugal Unknown Tours, que organiza passeios únicos fora dos roteiros habituais, e, nos tempos livres, dedica-se ao urbex, uma abreviação da expressão em inglês urban exploration (exploração urbana).

É curiosa desde que se lembra e apaixonada por tudo o que é ligado à arte e ao património. “Sempre estive ligada ao turismo e gosto muito de história. Foram essas paixões que me fizeram começar a visitar locais abandonados. É uma compilação de tudo, mas com mais aventura e adrenalina”, conta à NiT a guia turística, que começou a explorar estes sítios quando tinha 16 anos. 

Desde palácios grandiosos, cemitérios de carros e até mesmo centros comerciais, Portugal possui um dos maiores patrimónios abandonados do mundo — e é a história desses locais, muitas delas ainda desconhecidas, que Rita pretende contar. Foi isso que a motivou a partilhar, no verão de 2020, fotografias e vídeos nas redes sociais Instagram e Tik Tok.

Lembra-se que o primeiro local que partilhou foi a famosa Disney abandonada de Sintra, mas já tinha passado por outros sítios emblemáticos, como o Palácio da Comenda e o Rei do Lixo, ambos na Margem Sul. “O Palácio de Sintra começou a ficar bastante popular e daí nasceu a ideia. Já que sou guia turística, podia fazer um pequeno resumo em registo fotográfico sobre estes locais”, diz.

Costuma passar horas a explorar cada sítio e até já chegou a dormir dentro de um palacete abandonado em Portugal — o pai é que não gostou muito. “Dessa vez liguei ao meu pai antes de ir dormir a dizer que estava naquele lugar e mandei-lhe a localização. Ele ficou muito chateado comigo, disse-me que era louca”, revela. Ainda assim, isso não a impediu de passar a noite numa tenda no antigo palacete, conhecido como “A Casa dos Sonho”s. Afinal, também já estava habituada a acampar, devido aos anos que passou nos escuteiros.

O soalho, as portas e as janelas faziam barulho sempre que a Rita e o amigo, Daniel, se mexiam. Já para não falar da corrente de ar constante, os morcegos e os pássaros. “Foi uma experiência bastante assustadora, porque não são só os animais, as aranhas e os morcegos. Há sempre aquele medo de apanharmos pessoas que possam entrar e fazer-nos mal”, revela.

Tudo correu bem e acabou por ser “uma das melhores experiências” que já teve desde que entrou neste mundo do urbex. “O simples facto de pegar na tenda e partir à aventura sem ter previsão do que me irá acontecer é algo que me move. Talvez, seja no desconforto que me sinto mais confortável”, confessa. 

@ritalexandraconstantino

DORMIMOS DENTRO DE UM PALACETE ABANDONADO! 👻🔦🦇🏚 @lugares.esquecidos #foryou #fyp #fy #abandoned #urbex #portugal #adventure #palace #art #painting #aventura #abandonado #lost #old #pinturas #fypage #foryourpage

♬ love nwantinti (ah ah ah) – CKay

Por outro lado, também já viveu algumas situações mais perigosas que prefere esquecer, como quando estava a explorar um palacete e foi obrigada a ir-se embora a correr. “Estava uma pessoa lá dentro, achei que era um explorador como nós. Entretanto percebemos que era um senhor que ia lá frequentemente para roubar as coisas e ir-se embora. Quando percebeu que tínhamos materiais fotográficos, veio atrás de nós”, conta.

Além de destemida, também é curiosa. Não quer partilhar os locais “só por partilhar”: vai sempre à procura da história do património que está abandonado. Costuma pedir autorização para entrar nos locais e, por vezes, consegue mesmo falar com os proprietários do espaço — apesar de muitos dos donos “sentirem vergonha” do estado do património. “Ainda esta semana estive num lugar onde o proprietário nos contou como brincava ali, mostrou-nos onde jogava às cartas. Notava-se a emoção dele, porque aquilo no fundo era um local onde passava os seus verões”.

A exploradora urbana revela que conhece cerca de 300 locais abandonados em Portugal. Já visitou “um bocado de tudo” e, quando acha que já nada a vai surpreender, consegue encontrar coisas novas. Como quando foi explorar um palacete gigante, com três andares, e encontrou vestidos de noiva num dos quartos. Ou quando, depois de um longo fim de semana de explorações, estava a caminho de casa e encontrou  bonecos de Carnaval abandonados na berma de uma estrada nacional.

Apesar da maior parte das suas aventuras serem em Portugal, já comprou bilhetes de avião só para conhecer locais abandonados fora do País, como a Luková, a igreja dos fantasmas na República Checa, considerada um dos sítios mais assustadores do mundo.

De seguida, carregue na galeria para ver algumas das fotografias que Rita Constantino tirou em locais abandonados.

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