Na cidade

Rui Santos nem sabia onde era Mação, mas trocou Berlim pela vila na Beira Baixa

Sempre foi uma pessoa “extremamente urbana”, até que foi viver para uma zona rural em 2018. Agora já não quer outra coisa.
Mudou-se em 2018.

Quem nasceu e cresceu em pequenas aldeias ou vilas, costuma sonhar com o dia em que começa a fazer vida numa cidade grande, onde os vizinhos não se conhecem e há mais oferta de emprego. Durante muito tempo, acreditava-se que era nos centros urbanos que existia maior qualidade de vida — mas não há nada como o silêncio e a tranquilidade de viver numa zona rural. 

Com a evolução do trabalho remoto, fazer as malas e fugir para longe da confusão das cidades tornou-se, não só uma possibilidade, mas uma necessidade. Foi com o objetivo de desmistificar esta ideia de que só podemos viver nos centros urbanos que surgiu a Rural Move, uma associação sem fins lucrativos que quer incentivar pessoas a mudarem-se para o interior do País — e um dos coordenadores contou à NiT a sua história.

Rui Santos tem 53 anos, nasceu em Angola, mas veio para Portugal quando tinha apenas quatro anos. Cresceu na cidade de Braga e foi no Norte que se formou e começou a trabalhar com produção têxtil. Aos 35 anos, voltou a mudar de País e, desta vez, foi morar para Berlim.

Depois de mais de uma década a viver na Alemanha, sentiu que estava na altura de mudar e pediu para começar a trabalhar remotamente. “Naquela fase da vida, por razões pessoais, ponderei sair de Berlim e decidi que estava na hora de dar o salto e começar um outro projeto”, conta à NiT. Chegou a pensar em Maputo ou até mesmo Braga, mas o destino tinha outros planos para Rui.

Quando começou a procurar sítio onde pudesse morar e arranjar uma casa “dentro das possibilidades”, encontrou, quase por coincidência, uma propriedade à venda em Mação, no distrito de Santarém. “Nem sabia onde era Mação, nunca tinha ido lá. Ainda assim, fui fazer uma visita e, assim que entro na vila, vi o potencial da casa”, recorda. 

Em fevereiro de 2018, cinco meses após a visita, mudou-se definitivamente para a vila portuguesa da Beira Baixa, cujo nome os seus amigos de Berlim nem conseguiam pronunciar. Aquilo que antes nem sabia que existia, passou a tornar-se a sua casa. Sempre foi uma pessoa “extremamente urbana”, mas foi quando teve a oportunidade de se mudar que começou a perceber as vantagens que existiam numa zona rural. “Se precisar de ir ao advogado ou à loja de cidadão, consigo fazer isso tudo numa manhã e muito mais”, diz. 

“Isto foi-se construindo e fui-me apercebendo que, vivendo aqui, tudo é muito melhor. Gasto menos dinheiro, há uma maior ligação com as pessoas, os vizinhos conhecem-nos. Além disso, estamos muito próximos da natureza.” O facto de trabalhar remotamente facilitou a decisão: podia deslocar-se à vontade e até chegou a ir várias vezes a Berlim e a Lisboa.

Porém, no início, a mudança foi um choque. Para uma pessoa que estava habituada a viver em grandes cidades, foi estranho ver que as ruas estavam vazias, à noite ficava tudo deserto, as casas estavam desabitadas, muito comércio estava fechado e havia muitas ruínas. 

Foi-se habituado a este modo de vida e hoje adora morar ali. E não foi o único a apaixonar-se: os amigos e conhecidos que o visitavam também se deixaram encantar por Mação. Tanto que, assim como o Rui, fizeram as malas e mudaram-se para lá. “Recebi aqui várias pessoas e, desde que cá estou, já foram vendidas 12 casas. Esta fusão gera uma coisa muito engraçada e há uma dinâmica diferente”, confessa.

Ao ver a potencialidade da vila, sentiu necessidade de procurar uma associação que o pudesse ajudar a dinamizar o território rural. Foi nessa altura que conheceu a Rural Move e se juntou, inicialmente, como voluntário. Agora faz parte da coordenação da associação e é o gestor de comunidade em Mação. Quer isto dizer que, se estiver interessado em mudar-se para lá, o Rui é uma das pessoas que o vai ajudar a fazer essa mudança.

Nos últimos quatro anos, tem visto a vila a crescer cada vez mais e a ganhar reconhecimento. Se, quando chegou, existiam várias casas à venda, agora são raras as que têm uma placa a dizer “vende-se”. “Adoro a proximidade com a natureza e o poder fazer muito em pouco tempo. Para já não tenho intenções de sair daqui e até tenho alguns projetos que estou a pensar implementar”, revela.

Criada em outubro de 2020, a associação sem fins lucrativos nasceu com o objetivo de incentivar pessoas a mudarem-se para o interior do País. É nesta plataforma que podem aceder às informações sobre os municípios, espaços de trabalho, alojamento e oportunidades de emprego.

Mais do que incentivar esta mudança, a Rural Move acompanha todo o processo com a ajuda de um parceiro local que vive na localidade e faz essa ponte, como é o caso de Rui Santos. O objetivo é, na verdade, bastante simples: promover a sustentabilidade a todos os níveis nestes territórios que estão a perder, cada vez mais, os seus habitantes.

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