Sofia Miguel Castro venceu, nesta sexta-feira, 6 de janeiro, o concurso de lifestyle New Talent 2022, promovido pela NiT, TVI e Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. A jovem vai receber uma bolsa de 10 mil euros para realizar uma peça de teatro interativa onde serão plantadas centenas de árvores.
Sofia nasceu em Oliveira de Azeméis, onde viveu até aos 18 anos. Fez ballet, tocou violino, mas foi o teatro amador, que começou a fazer com 11 anos, que a apaixonou. Aos 16, começou a tirar um curso noturno de teatro em Aveiro. Dois anos depois, sufocada pela “falta de oferta cultural” da terra onde nasceu, pegou nas malas e foi para Lisboa.
Não acredita no teatro apenas como forma de entretenimento, mas também como forma de revelação e de expressão artística. Uma arte que pode mudar o mundo. E é precisamente isso que a atriz de 22 pretende fazer com o prémio do concurso New Talent.
Na pandemia começou a plantar árvores na Serra da Freita, que foi devastada por um incêndio. Sonhava com a possibilidade de mobilizar as pessoas para a reflorestação. Foi quando se voltou a cruzar com “Alice no País das Maravilhas” que teve a ideia de criar uma peça de teatro diferente: uma que permita reflorestar uma serra inteira, até que volte a ser como era.
É precisamente neste projeto que irá aplicar os dez mil euros de prémio.
É a vencedora da quarta edição do concurso New Talent. Como se sentiu ao receber a notícia?
Foi uma notícia assim avassaladora e ainda não estou bem em mim. Eu tinha expetativas, como é óbvio, mas não estava assim tão confiante. Estava com um mindset de, se eu ganhar, perfeito, mas se não ganhasse, na verdade não perdia nada. Fui ouvida e agora mais pessoas conhecem o meu nome e o meu trabalho, por isso nada de errado podia sair daqui. Não estava propriamente à espera de ganhar, mas estou super feliz.
Ficou surpreendida com todo o apoio que recebeu?
Não estava à espera de tanto apoio, tinha erradamente a ideia de que as pessoas talvez não se importassem muito com a cultura ou com o ambiente, mas de alguma forma este projeto acabou por tomar uma proporção gigante. As pessoas sentiram-se também acolhidos pelo projeto e queriam fazer parte dele, ainda sem ele estar a acontecer. E querem mesmo que aconteça, cheguei a receber mensagens a dizer: Sofia, quando fores plantar árvores chama-me e eu vou contigo. De certa forma, é quase como se o projeto já estivesse a acontecer.
Vai receber uma bolsa de 10 mil euros para apoiar o projeto. Por onde vai começar?
Vou começar a tratar do elenco, da encenação e da produção. Ainda não tenho a certeza se vou encenar ou se passo a pasta a outra pessoa e fico como atriz no projeto. Também vamos começar a tratar da parte burocrática, sei que vou precisar de imensas autorizações e começar a entrar em contacto com empresas para começarmos a marcar os dias.Vamos tentar estrear o espetáculo em setembro. Será um espetáculo com caminhada e plantação de árvores, uma ótima oportunidade de ligar pessoas em contexto de team building.
Qual é o objetivo deste projeto?
O objetivo do projeto é a reflorestação da Serra da Freita, uma serra que vai do distrito do Porto ao distrito de Viseu e que foi desflorestada devido a sucessivos incêndios que aconteceram. Vou traçar um percurso e as cenas do espetáculo, que em princípio será baseada na “Alice no País das Maravilhas”, vão acontecer ao longo desse percurso. As pessoas vão caminhando de cena para cena e a ideia é que em cada cena haja um momento de plantação de árvores. Assim que aquela zona do percurso estiver repleta de árvores bebés, o espetáculo passa para outra zona da serra e assim sucessivamente até que esteja repleta de árvores.
Acaba por ser uma peça interativa?
Sim, claro. As pessoas podem e devem participar em todo o processo.
Porquê a Serra da Freita? Tem alguma ligação especial consigo?
É a serra mais próxima do sítio onde moro. É uma serra um bocado triste porque era cheia de árvores e agora só restam cemitérios de árvores. É um bocado arrepiante. Foi engraçado porque coloquei o projeto num grupo do Facebook com pessoas de Arouca, porque a serra também apanha o concelho, e tive imensas pessoas a escreverem-me coisas bonitas. Acho que até vou usar algumas para promover o espetáculo. Disseram-me, por exemplo, “lembro-me de estar a passear com a minha Maria na serra e o cheiro, as plantas e os animais e agora já não há nada disso”. Tive assim uma mega força das pessoas que sentem falta da serra como eu.
Como surgiu a ideia deste projeto?
Eu gosto muito do livro “Alice no País das Maravilhas” e gosto muito de caminhar. Comecei a plantar árvores há coisa de dois anos na Serra da Freita e já plantei, com um grupo de pessoas, mais de 300 árvores. E é assustador porque 300 árvores não cobrem quase nada, a serra é gigante. Quero tanto ver esta serra reflorestada em vida, mas sozinha não consigo. Então começou a surgir esta necessidade de criar um projeto que juntasse pessoas. Depois, muito organicamente, estava a ler “Alice no País das Maravilhas” e estava a imaginar aquilo tudo num planalto. Depois comecei a juntar as peças e o projeto aconteceu. Com o concurso da NiT, o salto foi gigante.
Porque decidiu concorrer ao New Talent?
Ainda só tinha falado deste projeto a algumas pessoas, mas achava que nunca o ia conseguir fazer sem um financiamento. É um projeto que queria muito fazer, tem um potencial incrível, mas cuja concretização não achava exequível. Quando chegou esta oportunidade de concorrer, achei que este projeto fazia sentido.
Foi a finalista mais votada desta edição. A partir do momento em que o projeto foi divulgado, como apelou ao voto?
Acho que tentei sempre que o meu apelo ao voto fosse ao meu trabalho. Nunca foi um votem em mim, mas sim votem nisto, neste projeto. Tanto que no vídeo de apresentação que fiz, tentei que fosse sobre o trabalho e não focado em mim. E acabou por funcionar. As pessoas começaram a sentir que o projeto era um bocadinho delas e que era também uma oportunidade de fazerem alguma coisa por este sítio.
Se tudo correr como planeado, espera levar este projeto para outras serras?
Sim. Se vier muita gente ver o espetáculo, mas ainda existir muita terra por reflorestar, faz-se mais.
Daqui a um ano, o que espera já ter alcançado?
Espero ter a peça inaugurada em setembro. Tendo em conta que é um espetáculo ao ar livre, vamos tentar evitar os meses com muita chuva. Portanto deverá ser em setembro, outubro, março ou abril. A ideia é fazer os espetáculos durante a semana e sei que em setembro já terei coisas para apresentar.