Na cidade

Têm as melhoras notas, mas não podem entrar nas universidades portuguesas. Porquê?

O projeto educativo criado pelo empresário Tim Vieira não é reconhecido em Portugal, mas é aceite no estrangeiro. “É uma escola antes do seu tempo”.
Não é reconhecida em Portugal.

Uma estudante portuguesa foi a melhor aluna do mundo a Inglês, Literatura e Economia. As notas, obtidas nos exames feitos em junho deste ano, levaram-na a ser distinguida, em novembro, no “Outstanding Pearson Learner Award”, prémios atribuídos pela Pearson, uma entidade internacionalmente reconhecida que organiza e avalia exames académicos. Aliás, este é mesmo o maior órgão de premiação do Reino Unido, que destaca os melhores desempenhos globais e regionais em diferentes disciplinas no mundo.

A jovem não é um caso isolado. Outros dois alunos que estudam na Brave Generation Academy (BGA) — um projeto educativo criado pelo empresário e candidato à Presidência da República Portuguesa, Tim Vieira, — conseguiram alguns dos melhores resultados em Portugal e na Europa, nas disciplinas de Química, Inglês B e Business. Além das notas altas nos exames internacionais realizados e avaliados pela Pearson Edexcel, estes jovens recém-formados têm outro aspeto em comum: nenhum deles pode seguir os estudos nas universidades portuguesas. 

O motivo, explica à NiT o empresário de 49 anos que ficou conhecido pelo público pela participação no “Shark Tank”, é que o projeto que criou em setembro de 2021 ainda não está reconhecido em Portugal. “A Direção-Geral da Educação (DGE) e a Direção-Geral da Administração Escolar (DGAE) têm dificuldade em encontrar forma de enquadrar, legalmente, este ensino inovador num modelo escolar tradicional”.

Na Brave Generation Academy, não há propriamente uma sala de aula ou professores como nas escolas tradicionais. Aqui, os alunos têm acesso aos currículos educativos numa plataforma multimédia e podem estudar a matéria à velocidade que precisam, num ambiente dinâmico e colaborativo, conhecido como hubs. A BGA segue currículos internacionais reconhecidos, como o International GCSE e o A Level da Pearson Edexcel, aceites por universidades e instituições internacionais (como Berkeley, Penn State e Stanford nos EUA), incluindo em Portugal. Por serem currículos internacionais, “não estão submetidos à certificação da DGAE ou DGE, que regulamentam exclusivamente o ensino nacional.”

Nestes espaços físicos, há sempre orientadores de aprendizagem que acompanham individualmente cada estudante quando ele tem dúvidas. Estes são “profissionais qualificados, com experiência e formação específica nas áreas de que são responsáveis”. Além disso, são treinados para trabalhar com currículos internacionais, assegurando um acompanhamento personalizado e adequado ao progresso de cada aluno.

Paralelamente, existem os “learning coaches”, todos licenciados, mestres ou doutorados, que ajudam os alunos a aprender. No entanto, o facto destes hubs não estarem equipados com ginásios ou refeitórios tem causado uma série de problemas. 

“Os jovens vão todos os dias para um local estudar, mas, como não tem estes serviços, não é reconhecido como uma escola e os nossos alunos não podem seguir para as universidades portuguesas”, sublinha o empresário sul-africano. Como o objetivo do projeto é chegar ao máximo de lugares possíveis, incluindo a zonas mais remotas com pouca oferta de ensino de qualidade, a criação destes pequenos espaços físicos, muitas vezes dentro de edifícios que oferecem outros serviços, é a forma mais prática de chegar a todo o lado. Por outro lado, isso faz com que não seja possível oferecer os mesmos serviços que as escolas tradicionais.

 
 
 
 
 
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Quando completam o A Level, todos recebem um diploma emitido pela Pearson Edexcel, que é equivalente ao 12.º ano e reconhecido internacionalmente, mas a BGA continua a não ser reconhecida como escola, nos “termos em que o conceito é definido em Portugal”. “É uma discriminação grosseira”, sublinha o fundador.

Os cerca de mil alunos que estudam nas 34 hubs espalhados por Portugal são “obrigados a emigrar no final do 12.º ano para terem acesso a universidades estrangeiros”. Em Portugal, o acesso às universidades continua vedado, mesmo depois de realizarem exatamente os mesmos exames IGCSE e A-Leves que todos os outros estudantes de escolas internacionais no País, feitos em centros de exame acreditados para esse efeito. As provas são elaboradas e avaliadas pela mesma entidade independente reconhecida pelo governo britânico.

“Os alunos da BGA com esses certificados não têm equivalência e não podem candidatar-se às universidades portuguesas, porque o Ministério da Educação considera que não somos uma escola”, justifica. A única opção seria, como qualquer aluno em geral, inscreverem-se como externos para realizar os exames nacionais portugueses.

Desde 2022 que a BGA está a tentar reverter a situação, mas a única forma de o instituto ser reconhecidos é “alterando a lei”.

“Já foi tudo posto em hipótese, mas não nos dão nenhuma solução, porque não há enquadramento legal. A partir de dezembro também vamos pedir audiência a todos os grupos parlamentares”, acrescenta Tim Vieira.

A NiT tentou entrar em contacto com as entidades, mas não obteve resposta até à data de publicação do artigo.

O que é a Brave Generation Academy?

Depois de estar vários anos ligados à educação, de ter investido no cinema e até em projetos de jovens empreendedores, Tim Vieira sentiu necessidade de criar uma nova forma de ensino, que fosse ao encontro de uma nova realidade.

“A ideia surgiu depois de ter feito uma volta ao mundo com a minha família. Regressei inspirado para mudar a educação, que sentia estar estagnada. Há cada vez mais jovens desinteressados da escola, mas o problema não é deles, é do sistema”, confessa à NiT.

O empresário decidiu “colocá-los em primeiro lugar” e tentou perceber de que forma poderiam obter melhores resultados. “Os mais novos já sabem todos trabalhar com um computador e estas plataformas online permitem uma maior flexibilidade nos estudos”, explica.

Durante a pandemia, fundou então a BGA, um modelo híbrido que junta o uso das novas tecnologias como ferramenta de ensino a uma flexibilidade de horários que agrada a toda a gente. Com uma aposta no currículo internacional, abriu o primeiro hub em Cascais, numa sala adaptada para o efeito, nas instalações do clube D. Carlos I. 

Em cada uma das escolas, são os alunos, a partir dos 12 anos, que têm autonomia para escolher o que estudar, quando e onde. “Nas salas existem alunos de todas as idades, então também se podem ajudar entre eles, é um trabalho de equipa”, explica.

Apesar de não disporem de ginásios ou refeitórios, têm parceiros que permitem aos alunos praticar atividade física ou almoçar nos seus espaços. Há casos em que um restaurante próximo do hub disponibiliza o espaço para as refeições, por exemplo.

Três anos depois, o projeto cresceu. Hoje em dia, existem 44 hubs espalhados por sete países, incluindo Espanha, Estados Unidos, África do Sul, Namíbia, Moçambique e Quénia. O próximo passo é chegar ao Reino Unido, Suíça, Cabo Verde e Austrália. Outro grande desejo de Tim Vieira é estender este modelo de ensino inovador às escolas públicas. Atualmente, a matrícula na BGA custa 990€, com mensalidades a partir de 510€.

Além de atribuir bolsas a mais de 30 por cento dos alunos de Portugal, a BGA financiou a construção de uma escola num dos maiores campos de refugiados do mundo em Kakuma, no Quénia, e foi selecionada para ministrar o currículo internacional britânico a mais de 110 jovens refugiados da faixa de Gaza que ficaram impedidos de frequentar a aulas devido aos conflitos na região.

O estado da educação em Portugal foi um dos grandes motivos que levaram o empresário a candidatar-se à Presidência da República em 2026. “O que me fez candidatar foi ver um País com mais obstáculos do que oportunidades, com cada vez mais jovens a perderem a esperança e a escolherem outros sítios para viver”, revela Tim Vieira. 

O empreendedor acredita que os “jovens não têm de sair de Portugal em busca de um futuro melhor, por falta de oportunidade” e que “é possível construirmos um futuro melhor”.

“Na vida podemos ficar calados ou podemos tentar a mudança. No entanto, quando tentamos, somos castigados, como está a acontecer com a BGA. É uma escola que nasce antes do seu tempo”,. 

 
 
 
 
 
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