Na cidade

Um ano depois, acesso às praias da Arrábida continua fechado. Setubalenses estão revoltados

Em fevereiro de 2023, a autarquia encerrou o troço entre a Figueirinha e Galapos, com a promessa de que reabriria no final desse mês.
A situação arrasta-se há um ano para desespero dos setubalenses.

As praias da Arrábida são um dos bilhetes-postais da região de Setúbal. Todos os anos, sobretudo nos meses de verão, os areais enchem-se de milhares de setubalenses e turistas de várias partes do mundo. Porém, há mais de um ano que não é possível visitar esta zona da cidade. O troço da Arrábida entre as praias da Figueirinha e de Galapos foi encerrado pela Câmara Municipal de Setúbal no dia 8 de fevereiro de 2023, por questões de segurança.

Na altura, a autarquia afirmou que, na origem da decisão, estava a detenção de um bloco de rocha de grandes dimensões, que apresentava indícios de instabilidade e uma extensa fissura de afastamento. Além disso, a previsão de encerramento da via era até ao dia 28 de fevereiro do mesmo ano. “É o prazo que entendemos necessário para concluir os estudos, fazer as avaliações e decidir que medidas tomar no sentido de controlar a situação e também o risco e o perigo iminente que é considerado neste momento”, afirmou o presidente, André Martins.

Apesar da promessa, um ano depois, não existem quaisquer perspetivas de avanço no processo e a estrada continua inacessível. Por isso mesmo, os condutores que fazem a viagem a partir de Setúbal, para visitar as praias da Arrábida, têm de percorrer 60 quilómetros — 30 na ida e outros 30 no regresso —, um percurso que, sem o encerramento do troço, se fazia em cerca de 20 quilómetros. 

O encerramento da estrada de acesso às praias da Arrábida contribuiu para uma redução drástica do número de visitantes naquela região da Arrábida. Um dos grandes lesados com este corte foi o proprietário do bar Ondagalapos, Paulo Ribeiro. O espaço tem mais de 40 anos, mas nunca passou por uma situação assim. O empresário já sofreu uma quebra de cerca de 50 por cento de clientes, desde o encerramento do troço.

“O meu negócio está a ir por água abaixo. Estamos com dificuldades em pagar salários, impostos e uma série de burocracias que uma empresa tem de se suportar, tudo devido ao corte da estrada. E o pior é que não há novidades, nem perspetivas de estudos. O meu negócio sobrevive graças aos clientes de Lisboa e também estrangeiros. Ao fim de semana, temos algum movimento, mas os clientes não são setubalenses. Não chegam por Setúbal”, conta o responsável.

“Não temos apoios nenhuns. Tive uma quebra de cerca de metade dos clientes neste último ano. Estamos a falar de muito dinheiro. A praia, no verão, só teve cheia em agosto. As perspetivas do futuro são incertas. Vou tentando aguentar, como consigo, até onde posso, e tenho nove pessoas aqui a trabalhar. A Câmara Municipal de Setúbal, a quem pagamos as licenças, devia dar algum apoio, mas nem uma visita fizeram ainda”, critica Paulo, relembrando o caso do projeto dos passadiços por cima do rochedo, que ainda não avançou.

Por outro lado, o setubalense Pedro Gaiveu, que sempre adorou aproveitar os tempos livres para passear nas praias do concelho, assume que é “muito mais complicado” manter essa rotina. Até porque agora tem de ir dar a volta à Arrábida.

“É incómodo. Não se justifica e não sei o que está a acontecer. Noutros locais, ao fim de dois ou três meses está tudo resolvido e neste caso já lá vai um ano”. Gaiveu assume ainda que costumava ir uma vez por semana até ao Ondagalapos, por exemplo, mas, neste momento, deixou de frequentar o local. 

A opinião é partilhada por Fernando Botelho. “A viagem é muito mais demorada, muito menos económica e dá algum transtorno. Ia lá praticamente todas a semanas e deixei de o fazer. No meu horário de almoço, se a estrada tivesse aberta, ia com alguma facilidade. Com este cenário, não é exequível”, frisa.

Neste cenário, Fernando acaba por ir apenas para a praia nos fins de semana em que é possível. “Nem estou a falar na praia de Galapos, que é a minha favorita. Ia para lá todos os dias. Tudo isto alterou a rotina e a solução passa pelos culpados que identificaram a situação, ou outros responsáveis, resolverem-na. Estamos a falar de um retrocesso, de há 50 anos atrás, em que a estrada terminava antes de Galapos. Aliás, neste momento, estamos até piores, e mesmo assim sou dos velhos resistentes”, conclui. 

Nas redes sociais, os comentários sobre o caso têm-se acumulado, com comentários violentos de setubalenses e moradores de outras cidades que estão revoltados com a perpetuação deste bloqueio às praias. 

Na última reunião pública de Câmara, realizada no passado dia 7 de fevereiro, a oposição interrogou o executivo sobre esta situação. Os vereadores pretendiam saber, uma vez que tiveram “pouca informação sobre qual é a circunstância atual de risco”, as “medidas que estão a ser ponderadas para mitigar e eliminar esse risco e permitir a reabertura do trânsito nesse troço e ser possível a circulação”.

André Martins, presidente do Município de Setúbal, explicou que a situação é “complexa” e está a ser acompanhada desde o início “com preocupação”, com consciência da “penalização que tem para as praias e para os investidores com negócios”. Depois de várias reuniões, com governo e entidades responsáveis, seguiu-se uma reunião no Ministério do Ambiente, com o secretário de Estado com a tutela das áreas protegidas, e outra com a APA — Agência Portuguesa do Ambiente.

Na sequência dessa reunião, foi pedido um relatório com o estudo sobre qual seria a melhor forma de intervenção, com “menos impactos”, e, em seguida, seria feita a intervenção. Foram feitos “contactos com empresas da especialidade para darem uma base financeira para começar o procedimento”. Apesar de o relatório ter sido realizado e enviado, a autarquia garante que não obteve resposta dos secretários de Estado.

Na próxima reunião do conselho municipal de segurança, o presidente da autarquia garante que irá fazer uma exposição e apresentará o relatório, uma vez que “já que não há contacto com a entidade que superentende nos domínios”.

Recorde-se que, neste troço de ligação entre as praias da Figueirinha e de Galapos, é proibida toda a circulação rodoviária, sejam veículos motorizados ou velocípedes, bem como pedonal, não sendo, assim, possível qualquer presença humana na área para qualquer fim, incluindo atividades como a pesca, o turismo, de lazer e desportivas.

Devido ao encerramento deste troço, o acesso do lado de Setúbal só será possível até à praia da Figueirinha. O restante percurso deverá seguir pela estrada superior da Serra da Arrábida, reentrando depois via Portinho da Arrábida, praia do Creiro ou praia de Galapos.

A New in Setúbal contactou a Câmara Municipal de Setúbal para obter esclarecimentos sobre o tema, mas até à data de publicação deste artigo ainda não obteve resposta.

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