Se é um admirador confesso das obras de Eça de Queiroz, o primeiro cinco estrelas de Aveiro vai ser tornar-se num daqueles hotéis aos quais terá sempre vontade de regressar. Ali poderá sentir-se como uma das personagens de livros como “Os Maias” ou “O Crime do Padre Amaro”. Se nunca teve oportunidade de ler as páginas escritas por um dos maiores romancistas portugueses, também não há nada a temer. O que não faltam são livros do escritor na biblioteca do MS Collection Aveiro ‒ Palacete de Valdemouro, inaugurado a 14 de setembro.
Aveiro está a transformar-se num “destino muito interessante”, o que levou o MS Group (que detém outros dois hotéis no Porto e em Braga) a eleger a chamada “Veneza de Portugal” para avançar com um novo projeto. Afinal, ainda não existia nenhuma unidade hoteleira de cinco estrelas no centro da cidade — e cedo perceberam o motivo. Encontrar um edifício que pudessem transformar num hotel de luxo foi uma tarefa bem mais difícil do que previam.
Estavam prestes a desistir da ideia, quando, “já com pouca esperança”, foram convidados a conhecer o Palacete Valdemouro, outrora residência do pai e família do escritor Eça de Queiroz. “À primeira vista pensámos que não ia servir, porque é relativamente pequeno, só daria para 10 quartos. Descobrimos, depois, que a parte de trás tinha um terreno maior e que podíamos fazer ali coisas interessantes. Foi um achado”, começa por contar à NiT Margarida Antão, diretora-geral da marca MS Collection.
Construído no início do século XVIII, tornou-se um dos mais requintados edifícios oitocentistas da cidade. Começou por ser uma casa de habitação e, posteriormente, abriu portas à comunidade. Acolheu aulas de catequese e, por trás do imóvel, faziam-se reuniões dos escuteiros. Porém, acabou por “ficar um pouco ao abandono” e acabou por se tornar devoluto.
“Era um sítio já com história e fez todo o sentido para nós devolvermos o palacete à cidade. Estava muito mal estimado e grande parte do espólio, como os tetos trabalhados em estuque, encontravam-se em mau estado de conservação”, confessa. Assim, em 2019, arrancaram com as obras do projeto, que representou um investimento de sete milhões de euros.
A prioridade foi “salvaguardar a traça característica do palacete” e conseguiram manter, por exemplo, a escadaria original. “Os quartos continuam com os tetos e pés-direitos bastante altos, tal como era antigamente”, afirma. Além do “restauro complexo” da casa original, o grupo construir ainda um segundo edifício, mais moderno, para terem possibilidade de acomodar mais hóspedes.
Quanto à decoração, não foi difícil escolher o tema. Todo o conceito do hotel — que combina o charme e a nostalgia com o requinte e elegância do presente — é inspirado na vida e obra do escritor e diplomata Eça de Queiroz. Não podia faltar, portanto, apontamentos que fazem lembrar o estilo francês do século XIX, país onde residiu até ao fim dos seus dias. “Grande parte do mobiliário foi escolhido em lojas de antiguidades em Paris, onde foi cônsul”, diz.
Com uma fachada neoclássica brasonada e quatro pisos, o hotel tem à disposição 39 quartos, espalhados pelos dois edifícios. Existem seis tipologias, divididas em três categorias: 10 quartos temáticos, 20 clássicos e nove signature.
Se escolher pernoitar num dos alojamentos temáticos, prepare-se para embarcar numa aventura pelas obras de Eça de Queiroz. Têm nomes de personagens e decoração é alusiva às épocas ou estilos referidos nos livros. Os hóspedes podem alojados nos quartos “Carlos da Maia”, “Maria Eduarda”, “Primo Basílio”, “Artur Covelo”, “Afonso da Maia” ou “João da Ega”.
A suite “Padre Amaro”, por exemplo, tem um “ar mais eclesiástico e mais simples”, um pouco a puxar “ao pecado, ao crime e ao adultério”, com as paredes em tons de vermelho. Já o quarto “Amélia”, personagem do mesmo romance, destaca-se pelos tons cor de rosa, “a puxar para o feminino”.
Embora não sejam temáticos, os quartos clássicos têm alguns elementos que fazem lembrar o método de escrita antigo, como as penas e os tinteiros. Já os signature apresentam-se com uma decoração inspirada no estilo Art Déco.
Junto à receção do MS Collection Aveiro ‒ Palacete de Valdemouro, os hóspedes podem ainda encontrar a sala de leitura, “uma ode ao escritor e diplomata”, com um espólio disponibilizado pela Fundação Eça de Queiroz. Além das fotografias, objetos pessoais e outros artefactos, estão disponíveis vários livros do autor para consulta ou até mesmo aquisição. O grande destaque, contudo, é um busto dourado do autor, concebido propositadamente para o efeito.
O chef Rui Paula é o responsável pelo restaurante de fine dining Prosa, que se encontra no piso térreo e está aberto a não hóspedes. Já no exterior, além da piscina com fundo em vidro, destaca-se o mural “Scratching the Surface ‒ Eça”, criado por Vhils.
O empreendimento oferece também momentos de bem-estar graças ao Spa Moments com água termal. É lá que encontra três salas de tratamentos, uma piscina interior de água aquecida, jacuzzi, sauna, banho turco e duche sensorial, bem como um ginásio. No último piso, existe ainda uma sala multiusos que pode ser utilizada para reuniões, com capacidade para 10 a 12 pessoas.
Quanto aos preços da estadia, variam entre os 230€ e os 700€, com pequeno-almoço incluído (e disponível até ao meio-dia). As reservas podem ser feitas online.
A seguir, carregue na galeria para ficar a conhecer melhor este hotel inspirado nas obras de Eça de Queiroz.