Há muitos anos, na aldeia de Cristóbal, em Melgaço, vivia um homem conhecido por “Demo”. A alcunha, diminutivo de demónio, acabou por ser transmitida às gerações seguintes da família. Embora o termo esteja associado a uma criatura demoníaca — segundo a crença cristã, um anjo que se rebelou contra Deus e luta pela perdição da humanidade —, o habitante da aldeia não se encaixava nesse perfil. Na realidade, apenas queria proteger e defender o que lhe pertencia.
Cristóval era uma zona de regadios, onde se utilizava a prática da irrigação (o fornecimento controlado de água) para assegurar o desenvolvimento das plantas. No entanto, esse processo era dificultado devido aos furtos de água que ocorriam na região. Segundo Samuel Alves, atual dono da casa onde vivia o tal Demo, durante as horas de rega, a água era retirada durante a noite, levando o homem a esconder-se atrás dos muros para assustar os ladrões.
Os sustos que dava aos meliantes renderam-lhe o apelido que ainda é lembrado na família. Quando ele passava pelas ruas, as pessoas comentavam: “Lá vem o bicho”. Samuel descobriu a história graças ao neto, que lhe contou a fama do avô Demo, quando lhe vendeu a casa, em 2020.
Formado em engenharia informática e a trabalhar atualmente como técnico de aparelhos de climatização, o atual proprietário, natural de Melgaço, já há muito que gostava de ter um negócio diferente. “Comecei por ver umas casas na zona para transformá-las num alojamento, mas nenhuma delas me chamava a atenção e não tinham condições para fazer algo diferente”, explica o jovem de 33 anos.
No meio da procura, descobriu então a moradia da família demo que, apesar de precisar de obras profundas, tinha potencial para crescer. A aventura de remodelação começou em plena pandemia, em setembro de 2020, e só após quatro anos de “muito trabalho, suor e noites sem dormir” é que abriu ao público. O alojamento, que herdou o nome dos seus antepassados, começou a receber hóspedes no dia 18 de maio.
Da antiga moradia, só ficaram mesmo as paredes. “Estava praticamente abandonada. Os antigos donos saíram por volta de 2012 ou 2013 e nunca mais voltaram”, refere. Com dois pisos, a casa, construída na década de 70, funcionava como habitação na parte de cima e adegas e cortes para os animais na parte de baixo.
Do zero, conseguiu construir o alojamento que sonhou desde o início, com 680 metros quadrados de área habitável. Decidiu pintá-la de azul, “para se enquadrar com a história da região”.
A Casa do Demo dispõe de três quartos, todos eles com casa de banho privada, uma cozinha e uma sala de estar. O grande destaque, contudo, é mesmo o exterior, que conta com um terraço enorme com vista para a envolvente, e uma zona de churrasco.
Os hóspedes podem ainda aproveitar a piscina infinita e, ligeiramente mais acima, um jacuzzi exterior aquecido. O alojamento fica apenas a dois minutos de Cevide, a aldeia mais a norte de Portugal, onde está o marco de fronteira número 1, pelo que poderá visitar Espanha num “salto”.
Quanto aos preços da estadia, os valores rondam os 230€ e os 250€ por noite, a casa completa, que pode acomodar até sete pessoas. As reservas podem ser feitas online.
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