O terreno dos avós de Miguel Sobral, em Valeflor, entre Trancoso e Mêda, sempre foi um dos seus locais favoritos. Embora a propriedade tivesse apenas carvalhos, castanheiros e pedras cobertas de musgo, era precisamente essa simplicidade que o encantava. Ali podia “passear com os primos no meio do nada”.
“Todos ficavam fascinados com a beleza do lugar e da paisagem a perder de vista. O silêncio era tão profundo que, por vezes, tornava-se perturbador”, começa por contar à NiT o engenheiro do ambiente, de 48 anos. A pequena aldeia da Beira Alta está aninhada num vale suave, rodeado de campos agrícolas. Contudo, um deles sempre se destacou por estar situado na subida para o planalto, mais afastado da aldeia, num lugar isolado e com uma vista incrível.
Ali nasceu a Casa no Castanheiro, um refúgio que remete para um “universo imaginário e quase irreal”. A Miguel e Hélder Silva sentiram a necessidade de partilhar este local especial com outras pessoas que, como eles, valorizam o isolamento, a natureza, o descanso e a autenticidade.
“É uma região muito peculiar e autêntica, algo que é difícil de encontrar hoje em dia. Já estávamos habituados a procurar espaços para escapadinhas, mas era sempre mais do mesmo. Queríamos criar algo especial, tanto para nós como para os outros”, enfatiza Miguel.
Assim, decidiram construir uma casa no terreno pertencente aos avós de Miguel. No entanto, não poderia ser “um alojamento qualquer”. Já familiarizados com o trabalho do arquiteto João Mendes Ribeiro, decidiram contactá-lo para dar início ao projeto.
“Além da sua experiência em reabilitação, tem uma forte ligação às artes performativas. Já o conhecíamos através das peças de teatro que costumamos ver, com construções que nos fascinam sempre. Concluímos que era a pessoa ideal”, explica.
O arquiteto aceitou o desafio e o primeiro passo foi conhecer o terreno para determinar o local onde a casa seria construída. “Demos-lhe liberdade total para escolher e acabou por se fixar num castanheiro muito antigo. Decidiu que a árvore seria o ponto central do alojamento”, conta.
O projeto arrancou em 2016 e todo o processo foi realizado “calmamente, sem pressas”. Abraçada a um castanheiro secular, nasceu uma estrutura modular simples e leve, construída em madeira e cortiça, que “aproveita ao máximo a paisagem e favorece o carácter de isolamento”. Com paredes de cor preta, a casa destaca-se na vegetação, mas sem se tornar “um objeto estranho” no cenário.
A “casa no meio do nada”, como a descrevem, valeu o Prémio Nacional de Arquitetura em Madeira de 2021 ao arquiteto. O edifício, que “questiona o modo de habitar”, recebeu os primeiros hóspedes em 2020, durante a pandemia.
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Com uma área de 25 metros quadrados, a Casa no Castanheiro está preparada para acolher duas a três pessoas no máximo (dois adultos e um miúdo). Ao entrar, os hóspedes encontram, à esquerda, uma cama. Uma escada de madeira leva ao mezzanine, onde está a segunda cama.
O alojamento conta ainda com uma casa de banho equipada com chuveiro, kitchenette e uma zona de estar com sofá e salamandra. “É um espaço reduzido, mas possui tudo o que é necessário para uma estadia curta”, realça Miguel.
O interior prolonga-se para o exterior, permitindo aproveitar plenamente o espaço em todas as estações do ano. Graças às paredes envidraçadas, os hóspedes mantêm um contacto próximo e constante com a natureza — e a árvore desempenha um papel crucial.
“No verão, o castanheiro protege a casa do sol, e quase a esconde entre as folhas. No outono, quando as folhas caem, parece que a casa reaparece do nada. A experiência da estadia é, portanto, distinta em cada estação. Ao longo do ano, é possível observar as transformações da paisagem, desde os verdes da primavera até aos vermelhos do outono e aos castanhos do inverno. É um ciclo que se repete, mas que nunca deixa de surpreender”, comenta.
Os hóspedes têm total liberdade para explorar o terreno circundante. Embora esteja suficientemente afastado das aldeias vizinhas para garantir privacidade, o alojamento é o ponto de partida ideal para descobrir esta região de Portugal.
Os preços da estadia variam rondam os 200€ por noite (mínimo de duas noites), com pequeno-almoço incluído. As reservas podem ser realizadas online.
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