Plantada a poucos metros do mar, erguida com as tradicionais e negras rochas vulcânicas, a antiga destilaria carrega pelo menos 200 anos de história. Foi, em tempos, local de trabalho árduo. Longe das populações — até porque teriam que estar próximas das vinhas —, estas adegas e destilarias acolhiam os trabalhadores dia e noite.
“Como se ia para laborar, ficavam lá por períodos de tempo e tinham uma casa de apoio com cozinha e quartos onde dormiam. No final do dia cantava-se e dançava-se, celebrava-se depois do dia de trabalho. Já era uma casa de convívio e a ideia passou também por restaurar um bocadinho dessa história do Pico”, explica à NiT Benedita Branco, a proprietária da Adega do Fogo e apaixonada desde pequena pela ilha açoriana.
A ligação à ilha começou cedo, quando aos 15 anos começou a namorar com um rapaz cujo pai tinha origens no Pico. “Vim pela primeira vez com essa idade e depois passei a vir todos os verões”, recorda. Profissional de publicidade, manteve sempre a ligação com os Açores, comprou casa e, quando estava longe, alugava-a a outros visitantes. Acabou por ganhar o gosto, vendeu as empresas e dedicou-se à área da hotelaria ou, como quem diz, a partilhar com os outros a sua paixão pelo Pico.
“Comprei mais duas ou três casas. O projeto foi crescendo e acabou no resort Lava Homes [um dos mais recentes e entusiasmantes alojamentos da ilha] e depois surgiu a oportunidade de comprar o edifício da Adega do Fogo”, conta.
Comprou o terreno com mais de quatro mil metros quadrados e recuperou-o integralmente. Apesar dos seis quartos que ali nasceram, a ideia de alugar individualmente depressa foi descartada. Por dois bons motivos: o primeiro é óbvio, já que sendo impossível garantir distanciamento entre pessoas, a Covid-19 seria um impedimento; o segundo e talvez mais importante, a manutenção da tradição de convívio e proximidade.
É, no fundo, uma casa de férias com capacidade para 12 pessoas — com capacidade extra para crianças em cada quarto, por um acréscimo no preço — que podem gozar de todo o espaço só para si. E há muita coisa para descobrir.
Além dos quartos, existe uma sala de jantar comum, um espaço de cozinha e, no exterior, muito ar puro, uma piscina infinita com vista para o Pico, uma sauna e um forno a lenha.
As fachadas de rocha vulcânica foram mantidas intactas, de forma a manter todo o ambiente o mais natural possível. Os pequenos ajustes focaram-se em manter a linha decorativa e, claro, proporcionar um maior conforto com mínima intervenção. Madeira e rocha são os materiais que sobressaem, sobretudo as vigas expostas nos quartos.
O exterior também mereceu alguma atenção, sobretudo com a criação das zonas lounge e de piscina, bem como as áreas comuns e de refeição. Nos jardins, há plantas que vieram um pouco de toda a ilha.
Apesar de contar com cozinha, forno e churrasco, quem preferir deixar a arte e o trabalho em mãos mais sábias pode requisitar o serviço de almoço e/ou jantar. “Se assim for, ao fim de cinco dias já tiveram um verdadeiro menu de degustação de especialidades da ilha”, nota Benedita.
À mesa podem chegar caranguejos estufados, lapas, queijos, bolo de milho, molha de carne — “parecida com a chanfana, mas de vaca” —, albacora no forno, caldeirada, caldo de peixe ou estufado de lulas à picarota. A refeição inclui vinhos, claro, e tem por base um valor de 50€ por pessoa, que pode ser mais baixo consoante as opções, mas também pode ser mais alto, se optar por ingredientes ou vinhos premium. Ao contrário destas refeições, que implicam um extra no preço, o pequeno-almoço está incluído no preço e disponibiliza tudo, dos pães aos sumos, passando por todo o tipo de ovos.
Apesar de se tratar de uma casa de férias, a experiência imersiva é uma regra na Adega do Fogo. É possível fazer workshops de manteiga ou de bolo de milho, de pesca, de preparação de especialidades da ilha; e quando não quiser estar ocupado, pode simplesmente relaxar na piscina ou na sauna; ou, por fim, aproveitar os serviços de massagem.
As massagens podem ser feitas ao ar livre ou nos quartos e incluem tratamentos com óleos essenciais com plantas locais.
Enquanto não chegam as licenças, a experiência da destilaria está indisponível. Mantendo-se fiel à tradição, será comunitária. Quem quiser poderá fazer lá a sua aguardente, pagando uma pequena taxa de produção. Será também feita uma aguardente com marca própria e assente nos sabores locais.
Para os hóspedes, a experiência poderá ser semelhante: poderão aprender e fazer a própria destilação, bem como ser acompanhados por chefs e refeições que fazem reviver o ambiente de adega. Benedita acredita que em 2022 já estará tudo à disponibilidade dos hóspedes.
Fora de portas, há toda uma ilha por descobrir, sobretudo a zona que circunda a adega, parte da Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico, que é Património da Humanidade da UNESCO. Pode partir para passeios pelas vinhas, visitar a Madalena e os seus museus ou simplesmente mergulhar na poça de mar a 20 metros da casa. Existem também bicicletas à disposição que lhe permitem fazer alguns percursos pela ilha.
Com tantos planos, Benedita deixa ainda uma proposta valiosa, vinda de alguém que conhece a ilha há quase quatro décadas: “Descansar. Há muita gente que vem para o Pico com uma agenda que até cansa, acho que deve haver sempre tempo para descansar”.
O descanso pode ser feito nas espreguiçadeiras da piscina infinita, em posição privilegiada para admirar a beleza e a altura incomparável do Pico. A estadia na Adega do Fogo tem um custo único de 2.000€ por noite, com um limite de 12 pessoas distribuídas pelos seis quartos, e estadia mínima obrigatória de cinco dias no verão e três dias no inverno.
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