Eliseu Araújo tem grandes memórias dos tempos de infância passados em Meixedo, Viana do Castelo, onde viveu até ter idade para ir para o liceu. Uma delas é a matança do porco. Hoje é difícil cruzar-se com uma, mas era um evento que reunia as personalidades mais importantes da freguesia e onde se juntava toda a família.
Os dias passados a desfolhar o milho também nunca os esqueceu. “Íamos todos juntos para a desfolhada e quando aparecesse uma espiga vermelha, mandava a tradição que alguém tinha que dar um beijo à rapariga que a apanhava”, recorda Eliseu, de 61 anos.
Quando era miúdo, recorda-se ainda de, uma vez por ano, visitar o homem que fazia os cestos que eram utilizados na altura das vindimas. “Tínhamos televisão, mas não havia mais nada. Ver o cesteiro era uma diversão para nós, um entretenimento”, conta à NiT.
As lembranças dos tempos passados ainda as guarda, mas com o passar dos anos a quinta acabaria por ficar abandonada. Quando os caseiros foram embora, a propriedade ficou sem ninguém — e Eliseu, que foi delegado de informação médica na indústria farmacêutica, decidiu dar-lhe um novo propósito. Queria transformá-lo num projeto de turismo rural.
“Na altura ainda não existia muito este conceito de turismo rural no Minho, mas mantive sempre esta ideia. Como tínhamos aquelas ruínas, podíamos abrir um espaço do género. Arranquei com o projeto em 2010”, diz. O agroturismo abriu ao público em 2015, com duas casas, e deu-lhe o nome de Quinta do Fortunato, em homenagem ao bisavô Luís Fortunato, um “homem poderoso ligado à política que era muito conhecido na freguesia”.
Com vista para a montanha, os hóspedes tinham à disposição a antiga casa dos caseiros e a da adega, mantendo viva a história por trás da quinta, que sempre se dedicou à agricultura e à vinha. Um dos maiores desafios foi a reconstrução da alvenaria de pedra, uma vez que se encontrava em avançado estado de degradação.
O projeto foi um sucesso, mas passou por ligeiras alterações nos últimos anos. O turismo rural encerrou em 2022 por questões pessoais, mas reabriu com uma imagem nova no mês de julho.
Atualmente está disponível apenas a casa dos caseiros, com três suites, cozinha totalmente equipada e uma “sala fantástica com janelas enormes viradas para o vale”. Com 130 metros quadrados e capacidade para oito hóspedes, toda a unidade de alojamento está preparada para receber pessoas com mobilidade reduzida.
Apesar da fachada em pedra, tal como antigamente, a decoração mistura apontamentos tradicionais e contemporâneos. “Há detalhes que fazem toda a diferença, como os espelhos brancos redondos e quadrados de Siza Vieira, que surgem no meio da pedra, do xisto e granito”, destaca.
A localização do edifício, embora não seja em grande altitude, permite vistas incríveis para a Serra d’Arga. Tudo isto foi tido em conta na distribuição espacial interior, garantindo desde o início a relação com o meio ambiente. Prova disso são as enormes janelas, tanto no quarto como na sala, que permitem avistar a paisagem envolvente sem sair de casa.
Uma das maiores novidades foi a piscina privada, também virada para o vale, que é a protagonista nos dias de verão. Os hóspedes podem ainda aproveitar toda a zona exterior, como o jardim, e podem colher frutas e passar tempo com os animais da quinta, como ovelhas e cavalos autóctones.
“Toda a zona é muito rica em fauna e flora. Estamos perto da Serra d’Arga, com várias lagoas a cinco quilómetros de distância”, diz. Completamente isolado, é um local onde “só se ouvem os pássaros” e os outros pequenos habitantes da fauna da região.
Os preços da estadia rondam consoante a época do ano, e começam nos 300€ por noite até 15 de setembro. A partir dessa data, os preços descem para 250€. As reservas podem ser feitas online.
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