A Quinta de Cypriano, localizada em Ponte da Barca, tem uma história que se estende por nove gerações, tão rica que poderia inspirar um livro — algo que, de facto, aconteceu. Publicada em 2019, a obra “Cypriano Joseph da Rocha” narra a vida do antigo dono, que partiu numa nau para o Brasil, mas nunca esqueceu as vinhas e a terra que deixou para trás.
Quando António Andresen Guimarães, o atual proprietário, começou a visitar com mais frequência a propriedade do século XVII, acabou por encontrar cartas enviadas do Brasil que despertaram a sua curiosidade. “Cypriano Joseph da Rocha estava do outro lado do oceano, a correspondência demorava meses a chegar, mas mantinha contacto regular com a mulher. Perguntava-lhe sobre as vinhas, explicava como se tratavam os lagares e demonstrava interesse pelo quotidiano da família”, conta à NiT a filha, Leonor Guimarães.
A 26 de maio de 1728, Cypriano Joseph da Rocha embarcou com dois dos seus filhos — um de 15 anos e outro de 11 — em direção ao Brasil, onde assumiu o cargo de juiz dos órfãos na capitania da Baía. Anos depois, em Minas Gerais, tornou-se “ouvidor da comarca de Rio das Mortes, um território maior do que o reino que abandonara”.
Enquanto se adaptava à nova realidade, Cypriano continuou a trocar correspondência com a mulher, que permanecia na propriedade de Ponte da Barca. Numa das suas missivas, datada de 10 de junho de 1729, recomenda-lhe: “Trata bem das nossas vinhas”. Essas cartas, nas quais pedia que lhe enviasse vinho, provam que já no século XVIII existia produção vitivinícola na quinta.
Com base nessa correspondência, o atual proprietário, descendente de Cypriano, decidiu publicar um livro que relata a experiência do seu antepassado no Brasil. “É considerado um documento histórico inédito para a época, por ser uma descrição das suas vivências do outro lado do oceano, com muitos pormenores engraçados”, destaca.
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Volvidos 14 anos regressou a Portugal e tanto ele como a mulher, estão sepultados na capela do século XVIII que integra a propriedade. O livro que conta a sua história de vida pode ser consultado pelos hóspedes da Quinta de Cypriano, que abriu portas em outubro.
Antes mesmo de conhecer esta história familiar, Leonor já nutria uma paixão pela casa em Ponte da Barca. Embora tenha crescido em Lisboa, era ali que a família se reunia durante as férias. “A minha avó adorava passar tempo com os netos e todos nós valorizávamos as tradições. Recordo-me de como a minha avó gostava de me vestir à moda minhota, de ver o rancho a dançar no terreiro quando era pequeno e de participar nas vindimas”, confidencia Leonor, de 44 anos.
Durante as festas de Ponte de Lima, a quinta da família acolhia mais de 30 amigos. Apreciavam ter a casa cheia, preparar feijoadas e celebrar as tradições da região. “Sempre tive o desejo de me mudar para aqui, mas diziam que era uma loucura. Entretanto, há cerca de nove anos, decidi realmente fazê-lo”, acrescenta.
A mudança teve outra motivação por trás; a família queria assegurar que “a quinta permaneceria na família por mais gerações”. Durante quase todo o século XX, a propriedade ficou desabitada, exceto durante as férias de verão, e acabou por se degradar.
“Não estava em ruínas, mas a parte agrícola já não era sustentável. Assim que o meu pai herdou a quinta, começou a reestruturar a vinha e a plantar mais, tal como Cypriano havia sugerido séculos antes”, salienta. Com um forte desejo de contar a sua história, decidiram também avançar com um projeto de turismo: a Quinta de Cypriano – Wine & Nature.
Rodeado de vinhas e com vista para a Serra Amarela, é um “paraíso escondido no coração do Minho”. A casa principal foi restaurada, preservando a sua “traça autêntica”, incluindo o teto original do século XVIII. Na sala, por exemplo, os hóspedes podem sentir-se “como reis ou rainhas”.
Os seis quartos situam-se num edifício anexo, pensado para “oferecer conforto e sofisticação”, com tetos em madeira. No futuro, a intenção é expandir para 13.
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No piso térreo, encontram-se os quartos com acesso ao terraço, com acesso direto ao jardim e à piscina, todos dotados de casa de banho e kitchenette. Já os quartos com varanda, no primeiro andar, proporcionam uma vista incrível sobre as vinhas e o rio Lima. Uma característica comum a todos é a ausência de televisão, para permitir “momentos de tranquilidade, descontração e comunhão com a natureza”.
A antiga cozinha transformou-se numa sala de pequenos almoços. O edifício principal colhe ainda um espaço dedicado às provas e as adegas. No exterior, destacam-se os jardins, a poucos passos do rio, bem como uma piscina infinita com uma vista privilegiada. No futuro, a família planeia investir em desportos náuticos
A propriedade conta ainda com uma capela com séculos de tradição e um espigueiro antigo, legado de gerações anteriores. Desde que descobriram as cartas onde Cypriano ensinava como produzir vinho, a família começou a sua própria produção. “Temos boas uvas e lagares de qualidade. Com isso, conseguimos fazer vinho como antigamente, de forma natural”, revela.
Quanto aos valores, a estadia ronda os 150€ e os 200€ por noite, por quarto. As reservas podem ser feitas online.
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