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Este novo hotel do Porto tem a esplanada mais instagramável do verão — e piscina

O Torel Palace Porto demorou dois anos a construir, nasceu num palacete do séc. XIX e faz homenagem aos escritores nacionais.
A piscina no terraço exterior

“Já estou aqui há algum tempo, mas sempre que saio do elevador, ainda fico a olhar para ela espantada”, confessa uma das responsáveis do novo Torel Palace Porto. Novo, é como quem diz: foi inaugurado em fevereiro de 2020 e esbarrou numa imprevisível pandemia.

Este não foi o único imprevisto naquele que deveria ter sido o primeiro hotel do grupo e um projeto que começou com a aquisição do palacete romântico do século XIX em 2015. A abertura devia ter acontecido em 2017. Abriu três anos depois.

Uma das grandes culpadas por esse atraso foi precisamente a claraboia que hoje ainda impressiona Mariana Baldé, a assistente de direção da unidade. Foram necessários longos meses de minuciosos trabalhos de restauro para recuperar aquela que é, sem dúvida, a peça mais icónica deste boutique hotel com um rasgo de história.

O atraso transformou aquele que deveria ser o primeiro hotel Torel no seu quarto — depois do Palace, em Lisboa, e dos 1884 e Avant Garde, no Porto. A espera terá valido a pena, até porque a recuperação do palacete permitiu, como sempre procuram fazer em cada unidade, refletir um período e uma faceta da história e da cultura portuguesa.

Pelos salões amplos de imponentes pés direitos e tetos trabalhados, passaram os funcionários da Real Companhia Velha e, mais tarde, os alunos do Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto, antes de o edifício ficar deitado ao abandono. Mas os hóspedes mais ilustres foram os primeiros, os que emprestaram ao palacete toda a sua personalidade — que viria, mais de 100 anos depois, a inspirar o conceito do hotel.

Foi mandado construir pela família Campos Navarro, exportadores de tecidos e vinho e distintas figuras da alta burguesia portuense. Apaixonados pelas artes, revestiram a sua casa com tetos de estuque onde pontificam famosos autores portugueses, de Camões a Bocage, a Almeida Garrett e Alexandre Herculano.

Decidiram então os responsáveis que o hotel deveria celebrar a literatura portuguesa. Assim foi: os nomes dos escritores e poetas batizaram os quartos, cuidadosamente decorados com retratos de cada um, da autoria do artista portuense Jorge Curval. Em cada um, livros do autor, acompanhados de pequenos detalhes decorativos que remetem para um traço da personalidade.

A suite de Eça de Queiroz

Escondido na estreita rua de Entreparedes, a meio caminho entre os Poveiros e a praça da Batalha, o hotel de cinco estrelas regressou finalmente à sua antiga glória. Não foi um trabalho fácil: classificado como imóvel de interesse municipal, a adaptação aos confortos que se exigem de um hotel de cinco estrelas obrigou a umas quantas soluções criativas.

Desde logo, com a impossibilidade de modificar paredes, os quartos de alto pé direito receberam uma solução prática — na sua maioria, a casa de banho existe num pequeno bloco independente colocado no meio do quarto, completamente envidraçado, quase que invisível. Mantiveram-se assim intactos os tetos trabalhados, subdivide-se o quarto e mantém-se intacta a traça, dando aos hóspedes tudo o que eles precisam.

É também um hotel familiar, com apenas 24 quartos distribuídos pelos quatro pisos do edifício. Mas é no topo que está o tesouro, a imodesta claraboia repleta de minuciosos floreados e simbolismo. De um lado, o deus romano do comércio, Mercúrio; do outro, Minerva, a deusa das artes e da ciência; e entre eles, a alegoria da indústria e da navegação.

A imponente clarabóia

Desafiante foi igualmente o processo de manter os elementos decorativos originais — gastaram-se horas a fio a recuperar as pinturas que replicam mármore, tão usuais à época —, num estilo mais clássico e romântico, conjugando-os com mobiliário mais moderno e as necessidades de um hotel citadino.

Como tem sido hábito nos hotéis do grupo, esse papel coube à designer de interiores Isabel Sá Nogueira. Como contraponto aos volumosos lustres, encontramos peças de iluminação modernas nas mesinhas de cabeceira ou nas secretárias dos quartos, ocasionalmente decoradas com peças de outros tempos. No Eça de Queiroz, por exemplo, salta à vista uma velhinha e gasta máquina de escrever Remington.

Com áreas entre os 21 e os 60 metros quadrados, as configurações diferem de piso para piso. Há quartos com casas de banho com teto envidraçado, outras maiores, com a sua própria varanda; e um tem até o seu jacuzzi privado. Pernoitar no Torel Palace pode custar entre 150€ e 450€, dependendo da tipologia e da época do ano.

Para lá dos quartos, o Torel Palace Porto tem ainda uma suite dedicada ao wellness, que os hóspedes podem reservar para uma massagem de relaxamento, a sós ou em casal — um espaço que é hoje gerido pelo próprio grupo.

A última surpresa está reservada para o exterior, onde se chega por dois caminhos: da entrada da rua ou por uma escadaria interior que opta por lançar os hóspedes num caminho mais escuro e sombrio. É ali que se esconde o gastrobar e o terraço, que divide o espaço entre uma esplanada e uma pequena piscina.

Quando não está a servir o pequeno-almoço, o restaurante e bar Blind está a servir refeições, saídas de uma carta criada pelo chef Vítor Matos — à frente do restaurante Antiqvvm, uma estrela Michelin; e do Vidago Palace. Inspirado na obra de José Saramago, “Ensaio Sobre a Cegueira”, parte de uma experiência sensorial que foi também ela travada pela pandemia.

Uma das sobremesas, a banana da Madeira caramelizada

O menu de degustação que prometia apelar aos sentidos dos clientes ficou assim em pausa, enquanto é reformulado para se adaptar aos novos tempos. Não há problema, até porque existem muitos outros pratos para provar, sobretudo criações do chef que partem da cozinha nacional e criam pontos de ligação com outras gastronomias do mundo.

Podemos, pois, começar com uma alheira crocante com ovo a baixa temperatura, cogumelos e grelos (16€) ou com tostas de recheio de sapateira, guacamole e gel de laranja (18€); prosseguir com um robalo do Atlântico com xerém de marisco, emulsão de caril e chutney de manga (25€), um arroz de costelinhas em vinha de alhos com espigos, enchidos e feijão (22€) ou uma coxa de pato confitada com molho de citrinos (23€). Por fim, o doces: do crepe de laranja com Grand Marnier (12€) a uma banana da Madeira caramelizada com massa folhada gelado de baunilha e pó de amendoim (12€).

No interior do bar, salta à vista a enorme garrafeira. São, aliás, duas, recheadas com muitas opções de vinhos mais e menos conhecidos. Tanto pode encontrar uma referência de um pequeno produtor, como das casas mais famosas. E se for adepto, espreitar a carta de charutos e cigarrilhas, para acompanhar com um dos cocktails de assinatura.

Um par de décadas depois, o palacete regressa à função que lhe foi desenhada pelos donos originais: um sítio para relaxar, viver e sobretudo apreciar as artes. Valeu a pena esperar.

Carregue na galeria para ver mais imagens do Torel Palace Porto.

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Rua de Entreparedes 42, 4000-198 Porto
    4000-198 Porto
ESTILO
hotel
PREÇO MÉDIO
mais de 250€
AMBIENTE
urbano

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