Turismos Rurais e Hotéis

Já pode dormir na quinta onde nasceu o famoso poeta setecentista Malhão

O novo turismo rural de Óbidos abriu em março, tem uma história de três séculos e um fontanário património de interesse municipal.
Fica em Óbidos.

Conhecido por participar em festas e folguedos na sua juventude, Francisco Manuel da Silveira Malhão, também conhecido como Malhão Velho, estabeleceu-se como advogado em Óbidos, mas foi como poeta que ganhou mais reconhecimento. Em termos literários, dedicou-se à poesia sentimental e humorística, com referências ora à vida escolar — matriculou-se no curso de Leis da Universidade de Coimbra — ora à vida amorosa. Com influência da Nova Arcádia, os rumores dizem que manteve uma amizade forte com Barbosa du Bocage. Diz-se, também, que a vida boémia do famoso poeta setecentista terá inspirado a dança popular portuguesa “Ó Malhão, Malhão”.

Primeiro de 12 irmãos, nasceu em Óbidos, no ano de 1757, e toda a sua vida foi passada na Quinta da Pegada, onde nasceram também os seus quatro filhos, frutos da relação com Josefa Margarida de Oliveira. Um deles, que recebeu o mesmo nome do pai, era o padre Francisco Rafael da Silveira Malhão, considerado “o maior orador sagrado do seu tempo”, apesar de se ter destacado também como poeta de temas religiosos. Ambos residiram na famosa Quinta da Pegada, que foi um dos primeiros postais turísticos de Óbidos, no início do século XX, quando se começou a fomentar o turismo em Portugal. Agora, a propriedade do século XVIII que viu crescer estas duas figuras ilustres transformou-se num renovado espaço de turismo rural, que abriu ao público a 18 de março.

Depois de ter passado pelas mãos da família Malhão, foi também residência do poeta Camilo Pessanha, até que chegou às mãos da família de Francisco Santos, há 101 anos. “Os meus avós sempre viveram na propriedade e também eu cheguei a viver lá. Lembro-me perfeitamente do meu avô, que era agricultor, a vender as frutas e hortícolas à porta da quinta, na parte de fora”, recorda à NiT o jovem, de 24 anos.

As memórias desses dias ainda estão bem presentes e mostram  a importância que a exploração agrícola teve na Quinta da Pegada. Recorda-se dos dias de verão em que ia brincar dentro do fontanário cheio de água e das ceias de Natal onde se juntava toda a família. Ainda hoje mantêm uma parte do terreno como exploração agrícola, mas recentemente o foco passou a ser outro. Para a sustentabilidade do espaço, decidiram abrir ao público a Casa de Campo. 

“O meu avô sempre lidou com a questão do património com bastante cuidado, mas não tinha capacidade financeira para o restaurar como nós tivemos agora”, conta. A ideia surgiu inicialmente com a necessidade de restaurar o fontanário, que está classificado como património de interesse municipal há cerca de 40 anos e é um dos poucos registos de arquitetura barroca na localidade. Destaca-se especialmente por não ser feito de pedra, mas sim com argamassa.

“Tendo em conta esta necessidade de preservar o fontanário e restaurar também a casa, fizemos um investimento grande e queríamos rentabilizar de alguma forma”, adianta. As obras arrancaram há cerca de cinco anos, ainda antes da pandemia, e só agora tudo ficou concluído. “A ideia é oferecer ao hóspede uma experiência turística ligada à história. Cada quarto é uma homenagem às pessoas que passaram por cá ou têm uma ligação com a quinta”, diz.

Pode dormir, por exemplo, no quarto Francisco Malhão, no quarto do Bocage, no quarto Padre Malhão, no quarto Camilo Pessanha, no quarto Júlio César Machado (escritor que era muito amigo do padre) ou no quarto Rodrigo Franco, arquiteto que projetou o santuário barroco da localidade e que, possivelmente, também projetou o fontanário da quinta, uma vez que há várias semelhanças entre os dois objetos arquitetónicos. 

No interior de cada quarto os hóspedes podem ter acesso a toda a história e contexto do nome da pessoa que dá nome à unidade de alojamento. Há um total de sete quartos, todos duplos e com casa de banho privada. “Acredita-se que Bocage também tenha passado temporadas na quinta devido à ligação com o poeta Malhão. Há vários relatos de encontros entre eles”, revela o responsável.

O turismo rural dispõe ainda de uma receção, que nasceu na antiga adega, de uma sala de estar, situada no antigo lagar, e de uma sala de pequenos-almoços. Um dos destaques é o terraço com vista para as serras e, claro, toda a parte do jardim principal que vai dar até ao famoso fontanário monumental barroco, “a joia da coroa” da propriedade.

No terreno, com cerca de 1000 metros quadrados, encontram-se ainda alguns animais, como cabras anãs. Inserida num ambiente rural e com uma rica e diversa história de vida, a Casa de Campo da Quinta da Pegada é uma oportunidade única “de contemplar um património artístico ímpar e exuberante”, com uma decoração acolhedora e confortável que se funde com a nobreza altiva da sua arquitetura tradicional.

As reservas podem ser feitas online e os preços rondam os 80€ por noite.

Carregue na galeria para conhecer melhor o novo turismo rural de Óbidos. 

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Rua Antiga Estrada Real Quinta da Pegada
    2510-132 Óbidos
ESTILO
turismo rural
PREÇO MÉDIO
Entre 50€ e 100€
AMBIENTE
rural

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