Maria Goretti, de 68 anos, recorda-se bem da propriedade onde passou os primeiros anos de vida. Passava os dias a saltar nas camas com colchões de molas, a andar descalça no quintal e a colocar os pés na água às escondidas. Acabava por ficar sempre doente, mas nunca se atrevia a contar à mãe — tinha a sorte de ter o pai como aliado, que alinhava em todas as brincadeiras e aventuras da filha na pitoresca casa da família, em São Torcato, em Guimarães.
Volvidas mais de cinco décadas, as recordações desta infância feliz continuam bem presentes na memória de Maria Goretti. Nunca se desapegou daquele sítio, mesmo depois da a mudança com a mãe para o centro Guimarães, após a morte do pai. Tinha apenas 10 anos quando perdeu o progenitor e a casa, em tempos era cheia de vida, tornou-se “demasiado grande para duas pessoas”.
“A minha mãe não gostava muito de lá estar, a vila ficava longe de tudo. Na altura, só havia liceu em Guimarães e existiam poucos meios de transporte. E ela sempre quis que eu estudasse e tirasse uma licenciatura”, começa por contar à NiT a empreendedora. Maria cresceu e realizou o sonho da mãe: formou-se em economia, casou, teve filhos e deu aulas no ensino público até se aposentar, há cerca de três anos.
Ao longo dos anos, nunca deixou de visitar a casa da sua infância, construída no século XIX, que foi ficando “um pouco abandonada”. “Pedimos a um casal para tomar conta da propriedade, para cultivarem o terreno como entendessem. A casa degradou-se muito porque não tínhamos muitos rendimentos para a manter. Às tantas, as telhas do sótão começaram a deixar entrar água da chuva”, confessa.
Assim que teve oportunidade, decidiu investir no espaço e restaurar o terreno. Quando finalmente conseguiu fazê-lo, um incêndio provocado pelo fogão da cozinha destruiu grande parte da propriedade, em dezembro de 2017. “Quando me avisaram sobre o fogo, nem queria acreditar. As salas de estar arderam e parte dos quartos. Felizmente, não ardeu tudo, mas as mobílias ficaram estragadas com a água usada para combater o incêndio. Um prejuízo enorme”, recorda. Ainda assim, não desistiu.
Maria decidiu vender “outras coisas que tinha” para investir ali. “A propriedade, embora nada rentável, sempre teve um significado especial para mim. As minhas filhas iam para lá brincar em miúdas e não estou nada arrependida”, assegura. Tal como da primeira vez, a reconstrução voltou a ser feita “aos poucos e conforme as possibilidades”. As obras demoraram cerca de dois anos e, quando voltou a ver a propriedade como nova, concluiu que era demasiada bonita para não ser partilhada.
A Casa da Costeira abre esta quinta-feira, 5 de outubro. Está preparada para acolher os hóspedes em dois estúdios independentes (no mesmo edifício) onde poderão “desfrutar do ambiente bucólico que o rodeia”. Cada suite, com capacidade para três pessoas, dispõe de um quarto com cama de casal e uma de solteira, casa de banho e uma kitchenette.
No exterior, encontrará um “jardim muito romântico”, com flores, árvores e chafariz, uma zona de refeições ao ar livre, um lago e uma piscina. Os hóspedes podem colher maçãs e pêras das árvores que rodeiam a propriedade e conversar com o caseiro que, todas as tardes, “mostra como se cultiva” por lá. Os vegetais estão por toda a parte e variam ao longo do ano, consoante a estação.
“Podemos ensinar tudo o que sabemos sobre hortas e flores, porque sou eu que trato do jardim. É um sítio muito agradável e sossegado. Aqui não se ouve nada”, destaca. Recentemente, a família começou também a cultivar novas vinhas na quinta, onde têm também uma pequena adega.
Com uma localização privilegiada, situada no topo de uma colina, a Casa da Costeira fica a cerca de sete quilómetros de Guimarães. A estadia na suite ronda os 100 e os 150€ por noite e as reservas podem ser feitas online.
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