Turismos Rurais e Hotéis

Matilde é nómada digital há 7 anos. Agora vai abrir um espaço de coliving na Ericeira

Já viajou pelo mundo inteiro e adora o conceito de partilhar a casa com outras pessoas que trabalham remotamente.
Tem 29 anos.

Tudo começou com um anúncio no Facebook. Após concluir a licenciatura em Terapia Ocupacional, Matilde Leitão, que estava a dar os primeiros passos na sua carreira, deparou-se com uma publicação sobre um curso de nomadismo digital e bloguers de viagem. Naquela época, o conceito de trabalhar remotamente ainda era pouco explorado, mas despertou a curiosidade da jovem de Torres Vedras.

Dois meses após a conclusão do curso, decidiu marcar uma viagem para a Índia de apenas de ida. “Foi em outubro de 2017. Queria visitar destinos económicos, como o sudeste asiático, e a minha intenção era criar o meu próprio blogue”, conta a viajante de 29 anos à NiT, também conhecida nas redes sociais como “That Girl Digital Nomad”.

A decisão acabou por se revelar um caminho sem volta. Rapidamente percebeu que queria trabalhar em algo que lhe permitisse manter esse estilo de vida. Então, criou a sua própria marca, onde partilhava tudo sobre as suas viagens. “Com o tempo, aprendi cada vez mais sobre como trabalhar online. Durante meses trabalhei no crescimento da marca, ainda não era muito coisa muito falada na altura”, recorda.

Os primeiros oito meses foram passados a explorar o sudeste asiático, seguindo-se a América do Sul. Na Colômbia deparou-se com o coliving pela primeira vez, um conceito onde se vive em comunidade com outros empreendedores.

“Já usava muito os espaços de coworking, mas o coliving é completamente diferente, porque estamos todos debaixo do mesmo teto. Veio solucionar um problema, porque viajar sozinha por vezes também pode ser muito solitário”, refere a jovem.

Funciona quase como uma espécie de residência universitária, com a diferença de que a maioria dos hóspedes não está a estudar, mas sim a trabalhar. “Mesmo que sejam de áreas diferentes, é um espaço onde todos trabalham remotamente. Depois há várias atividades ao longo da semana para nos conhecermos melhor”, explica.

Passou cerca de um mês no Flamingo Coworking & Coliving, na cidade de Santa Marta, na Colômbia, e a experiência foi tão boa que decidiu “nunca mais fazer outra coisa na vida”. Conhecer outras pessoas com quem podia aprender todos os dias, tudo isto enquanto trabalhava na sua marca foi, para Matilde, algo impactante.

“Comecei a aprender cada vez mais sobre o ramo. Uma das minhas últimas experiências, agora na pandemia, foi em Bansko, na Bulgária, que é uma grande base para os nómadas digitais”, revela. Foi lá que se estreou a transformar um apartamento num espaço de coliving — o primeiro de muitos.

Os espaços de coliving em Portugal

Após desenvolver vários projetos relacionados com o nomadismo digital, conheceu Bill Rutten, que fundou a Nomadico. A empresa, fundada em 2022, pretende criar casas de coliving em locais incríveis, mas não tão turísticos.

Tudo começou numa viagem que fez à Madeira, onde ficou hospedado num alojamento chamado Cecilia’s, na freguesia de Paúl do Mar. “Apaixonou-se pela Madeira e soube logo que era o início perfeito para a marca que há tanto tempo queria criar. Só precisava de uma comunidade e mesas nos quartos.”

Bill desafiou Matilde para se juntar à Nomadico e a jovem de Torres Vedras foi uma das responsáveis por transformar a casa onde ficou hospedado na Madeira, na primeira parceira do projeto. “O nosso objetivo não é comprar hotéis ou apartamentos, mas sim colaborar com parceiros locais. Queremos trabalhar com locais que já existem para os transformar em espaços adequados para o coliving, que passam a funcionar neste modelo especialmente nas épocas baixas”, explica.

Hoje, a empresa já conta com outras localizações pelo mundo fora, como Marrocos ou Colômbia, sempre em zonas consideradas remotas. “Costumamos dizer que são destinos mágicos, que ainda não estão muito explorados, mas têm muito para oferecer”, salienta.

O próximo projeto vai abrir na Ericeira já no dia 23 de novembro. Trata-se da reconversão de um surf camp — a Ericeira Portugal Surf Camp —, que costuma abrir apenas na época alta. Este ano, contudo, vai receber nómadas digitais nos restantes meses.

 
 
 
 
 
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“Já estávamos à procura ativamente na Ericeira porque foi um local que começou a atrair muitos nómadas digitais. Depois era só encontrar um espaço com alguns critérios, como área de estar comum para os hóspedes conviverem, espaço de trabalho no quarto e ótima Internet”, explica.

No caso do alojamento na Ericeira, fizeram umas ligeiras alterações. Um dos quartos principais foi transformado num espaço de coworking com vista para o mar, por exemplo. A sala também sofreu remodelações, até porque é lá que vão acontecer as movies nights.

Outro dos requisitos é ter uma cozinha partilhada, até porque, às terças, realiza-se o family dinner, um convívio em que todos cozinham e comem juntos. Aos quartos, adicionaram espaços de trabalho para que todos possam ter um lugar privado para trabalhar.

Situado a 10 minutos a pé da praia Foz do Lizandro, o Nomadico Ericeira conta com 11 quartos, sendo que alguns deles são partilhados, pelo que podem acomodar até 19 pessoas. Uma das zonas favoritas de Matilde é uma sala comum, onde todos podem comer juntos e tem também mais duas mesas, uma de pingue-pongue e outra de bilhar.

No exterior também existem infraestruturas coletivas, como a piscina e envolvente, onde é possível apanhar banhos de sol, e até uma rampa de skate. “Queremos que as pessoas se sintam em casa, porque vão passar aqui grande parte do tempo”, explica.

A inauguração será aberta ao público e está marcada para o próximo sábado, 23 de novembro. A ideia é aproveitar para dar a conhecer este estilo de vida, com provas de vinho e momentos musicais. Todos os espaços da Nomadico organizam, em média, três eventos semanais. Um deles é o tal family dinner, mas também se juntam uma vez por semana para ir jantar fora, por exemplo. 

“Um deles é sempre uma experiência autêntica, implica fazer algo tipicamente local. Na Madeira vamos a um bar de poncha, em Marrocos vamos beber um chá marroquino ou aos mercados tradicionais”, sublinha. No caso da Ericeira, o surf terá, sem dúvida, um lugar de destaque. 

A temporada de coliving estende-se entre 23 de novembro a 15 de maio. Daí em diante, o espaço volta a ser apenas um surf camp. Quanto aos valores, os preços começam nos 196€ por semana, num quarto partilhado, e podem chegar aos 1.090€, se passar um mês numa das suites premium. As reservas podem ser feitas online.

Carregue na galeria para ver mais imagens do novo espaço de coliving da Ericeira.

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Pct. do Miradouro 6
    2655-350 Ericeira
ESTILO
guesthouse
PREÇO MÉDIO
Entre 100€ e 200€
AMBIENTE
negócios

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