Turismos Rurais e Hotéis

Novo hotel Vila Galé gera polémica. É acusado de “desrespeitar o património”

O projeto hoteleiro no Paço do Curutelo tem obras suspensas devido a embargo da autarquia. Presidente do grupo está indignado.
É alvo de polémica.

Desde 2023 que o grupo Vila Galé tem trabalhado na conversão do Paço do Curutelo, em Ponte de Lima, num hotel de quatro estrelas. Erguida no ano de 1125, esta casa senhorial que faz lembrar um castelo, está implantada em área rural, na envolvente do monte de São Cristóvão dos Milagres, e está classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1977.

Poucos dias antes da inauguração da adega do projeto turístico, agendada para sábado, 12 de outubro, a Câmara Municipal de Ponte de Lima embargou parcialmente a construção do hotel vínico. A decisão surge após o Bloco de Esquerda (BE) ter questionado o Ministério da Cultura sobre a reconversão do castelo, que considera estar “a destruir e a descaracterizar o imóvel”.

O partido questiona ainda se foi efetuado o acompanhamento arqueológico atendendo à ocupação medieval do local. “Além de nova construção de grandes dimensões e completamente dissonante com a envolvência e com o monumento, a malha anciliar do paço foi sujeita a grandes alterações, bem como a paisagem em redor foi transformada drasticamente. Esta situação tem criado muita indignação na população do Alto Minho”, refere o BE.

Em comunicado, a Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do Património Cultural e Natural considera que “o espírito da intervenção que agora se perfila é dum completo desrespeito por qualquer noção integral do património representado pelo Paço de Curutelo, entendido na sua dignidade, na sua autonomia e na organicidade da sua implantação no território”.

Perante todas estas questões, a Câmara Municipal decretou um embargo parcial ao projeto no dia 10 de outubro. “O projeto atual previa uma intervenção residual dentro do paço e fizeram-lhe alterações de monta. O requerente terá de apresentar um novo projeto para a parte que está em incumprimento, para ser submetido a análise e aprovação por parte das entidades competentes”, adiantou Vasco Ferraz, presidente da autarquia, citado pelo “Expresso”.

O embargo, explica, resultou de uma “vistoria conjunta da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) e da Câmara Municipal”. A fiscalização permitiu detetar uma “intervenção dentro do paço que não estava devidamente licenciada”, como a substituição de pavimentos, de cobertura e de reforço estrutural através da “aplicação de uma cinta interior que, segundo os técnicos, parece ser em betão armado”.

O presidente do grupo Vila Galé, Jorge Rebelo de Almeida, já reagiu ao embarco parcial das obras de construção. “A intervenção no castelo estava licenciada e autorizada. Não se justifica o embargo. Não vejo razão nenhuma para nos estarem a complicar a vida”, afirmou o responsável, citado pelo “Expresso”.

O projeto hoteleiro, adianta, “demorou dois anos a licenciar” pela CCDR-N, pela Cultura, turismo e pela autarquia. “Disparate total. Nós temos aqui uma obra que devia alegrar as pessoas da região e do país. A Vila Galé não é uma empresa de vão de escada. Está tudo aprovado”, sublinhou.

Quanto à intervenção realizada no teto do castelo, Jorge Rebelo de Almeida adiantou ter contratado uma empresa pública especializada que garantiu que “a madeira não tinha ponta por onde pegar”. “Quando temos uma emergência, quando se abre um telhado e se vê a estrutura de madeira à beira de cair, avançamos com uma solução para travar aquilo”, afirmou.

O responsável considera que é um “projeto estruturante para a região” e que o grupo está a recuperar “aquilo que destruíram”. “A fachada estava rebocada com cimento e pintada a tinta plástica. Nunca se mete cimento numa obra classificada. Tinha lajes de vigotas pré-fabricadas, tijoleiras e telha contemporânea. Estragaram o castelo todo. O património nunca se preocupou com isso”, afirma.

Quando o Vila Galé adquiriu o imóvel, em 2022, estava “totalmente descaracterizado”, completamente abandonado, “tudo partido, cheio de lixo por tudo quanto era lado”. O empresário adianta que não vai desistir do projeto e avançará para tribunal. “Está tudo abandonado neste País e quando aparece um camelo, que sou eu, que venho gastar dinheiro e recuperar esta coisa, é que nos chateiam. Ninguém ligou a isto. Fizeram ali barbaridades. Faziam o que queriam”, sublinhou.

O projeto hoteleiro, que voltará a ser discutido esta quarta-feira, 16 de outubro, prevê 87 quartos, piscinas exteriores para adultos e crianças, spa, salão de eventos para casamentos e reuniões, bar, dois restaurantes, biblioteca e um espaço museológico dedicado à história do local. Os grandes destaques do Vila Galé Collection Ponte de Lima – Vineyards Historic Country Resort Hotel serão a adega e a vinha. Além da abertura do hotel, o grupo está a preparar tudo para lançar o primeiro vinho a 25 de abril de 2025.

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