Quem tem filhos bebés e costuma visitar em família os restaurantes, já conhece bem o ritual: “Pode aquecer esta sopinha, por favor?”, enquanto passamos ao empregado um lindo tupperware redondo, livre de plásticos nocivos, com uma (mais ou menos) deliciosa refeição orgânica que tivemos de levar de casa e esperar que não entornasse na mala. E andamos nisto durante meses, até termos confiança suficiente para servirmos uma simples sopa passada, que costuma ser igual à dos adultos. Porém, há um sítio em Portugal onde podemos tirar férias até das sopas dos bebés: no Martinhal Sagres Family Beach Resort, em Sagres. Os dois restaurantes do hotel têm um menu com opções de sopas e purés de fruta a partir dos quatro meses. Quatro meses, sim. Melhor: incluem combinações deliciosas como puré de quinoa e óleo de coco ou mirtilos e pêra.
O hotel está integrado na cadeia Martinhal Family Hotels & Resorts e, tal como se adivinha pelo nome, é virado para as famílias, especialmente com crianças pequenas. No meu caso, que tenho uma bebé com quatro meses e um filho de quatro anos, há vários pormenores que nos deixaram realmente felizes. Como o facto de as crianças serem recebidas com um saco cheio de presentes. A melhor alegria para quem acabou de fazer uma viagem de carro.
O hotel tem 37 quartos e 200 casas e villas, distribuídos por uma área total de 415 mil metros quadrados. O investimento é ainda mais impressionante: 82 milhões de euros ao longo dos seus dez anos de vida.
Nós ficámos numa Ocean House, com uma vista maravilhosa para a praia do Martinhal. Os quartos ficam no piso de baixo enquanto que no primeiro piso está a cozinha aberta para a sala, onde podemos ver tudo o que os miúdos estão a fazer. O ambiente é super luminoso e perfeito para beber um copo ao final do dia enquanto assistimos ao pôr do sol no oceano.
Além disso, a cozinha estava completamente equipada para fazer refeições para toda a família, com cadeirinha para bebés e talheres e loiça. Havia ainda banquinhos para o lavatório nas casas de banho, redutores para a sanita, caixote de lixo para fraldas, barra de proteção de escadas e barra lateral de segurança na cama. Tudo para acalmar a ansiedade de qualquer mãe durante as férias. Porém, é uma pena que já comecemos a sentir o peso dos dez anos do hotel, sobretudo na decoração que é pouco original e surpreendente. Outra nota negativa vai para o facto de as portas em vidro do quarto das crianças abrirem diretamente para a rua. Pormenores que fazem a diferença quando os valores da estadia exigem mais esforço dos hóspedes. Os preços dos quartos começam nos 210 euros por noite e nas villas — como esta em que a NiT ficou —, há opções a partir de 415€.
Seguimos para a piscina, na Village Square, que é parcialmente coberta e aquecida — o sítio onde passámos a maior parte do nosso tempo, tal como as outras famílias que preenchiam o resort. Os escorregas para os miúdos, espreguiçadeiras e camas para os adultos compunham o resto do cenário. É uma pena que esta zona feche às 18 horas, sobretudo quando o tempo está bom, com sol e calor. Talvez seja o horário normal de recolhimento para a grande maioria dos hóspedes que frequenta aquele hotel (no ano passado, o share de mercado estrangeiro foi de 94%), mas os portugueses adoram aproveitar a luz até ao fim do dia. A alternativa é passar para uma das outras quatro piscinas do hotel — mas que são muito menos confortáveis, quentes e divertidas.
À noite, se não quiser jantar pelo quarto, pode visitar o restaurante Gambozinos, com opções de cozinha italiana e mediterrânica. Mais uma vez, tudo está pensado para que ter filhos nas férias seja divertido e não um motivo de ataques de pânico. Mesmo em frente do restaurante, à vista de qualquer mesa, existe um parque infantil com casinhas, barcos de piratas e até trampolins. Depois, quando a comida chegar e eles estiverem exaustos, tudo será mais fácil. Sobretudo se a comida for boa, como é o caso. Pedimos um creme de abóbora trufado, um risotto de camarão e um brownie de caramelo. O jantar terminou como um sonho de qualquer mãe: com o nosso filho a adormecer em cima da mesa.
Existem várias atividades disponíveis por marcação. Este ano, o destaque foi para as atividades ao ar livre: desportos aquáticos, aluguer e tours de bicicleta, padel surf, ténis… Enfim, existem tantas opções que o melhor mesmo é procurar no site.
Todas as reservas das refeições são feitas online. Também é possível pedir o pequeno-almoço no quarto ou take away dos restaurantes e até do supermercado que existe no resort. Portanto, se não lhe apetecer, não precisa de sair da sua villa. Imagino que essa opção seja bem mais tentadora se estiver numa das Pinewood Houses ou Luxury Villas, com piscina privativa. Aliás, estas casas até estão à venda com um sistema de Renda Garantida.
Nós optámos por tomar o pequeno-almoço na sala comum, no deck com vista para o mar. O serviço é ao estilo buffett, mas por causa das novas regras ditadas pela pandemia, é servido pelos empregados, que levam as bebidas e pratos quentes à mesa. O que tem uma desvantagem evidente: sentimos vergonha de pedir aquela quantidade de comida inenarrável que comemos nos pequenos-almoços dos hotéis. “Dois pastéis de nata, por favor. Não, não. Não é nada, afinal. Estou bem.”
Esta é uma das desvantagens das novas regras de segurança, mas a verdade é que, mesmo com máscaras e o distanciamento, senti sempre uma enorme simpatia e preocupação dos funcionários com todos os hóspedes. Há um carinho genuíno com os miúdos e uma vontade em criar um ambiente perfeito para que os hóspedes aproveitem realmente as férias de forma leve e descontraída. Isso é um mérito gigantesco do staff e, sem dúvida, o melhor bilhete postal do Martinhal.
Essa sensação prolonga-se em qualquer recanto, incluindo os almoços no segundo restaurante do hotel, o Dunas — que fica literalmente a dois minutos da praia. A carta aposta nos produtos da época e da região, como o peixe e o marisco frescos que o chef Micael Valentim traz da lota de Sagres. A experiência arrancou com umas ostras que sabiam a mar, seguidas de uma cataplana bem composta — mas não especialmente saborosa e que se traduziu na maior desilusão do dia. Ainda assim e mais uma vez, o staff salvou o momento quando trouxe chapéus personalizados de chef para que os miúdos nunca deixassem de se sentir especiais. Já disse que este hotel adora crianças? Melhor ainda: já disse que as crianças adoram este hotel?