As gerações mais novas possivelmente nunca ouviram falar dele, mas, em tempos, um dos jogos de tabuleiro mais famosos de Monsaraz era o Alquerque. Considerado um dos mais antigos do mundo — começou a ser jogado no antigo Egipto há mais de três mil anos — foi introduzido na Europa no século VIII por influência dos mouros e ainda hoje está representado em lajes dispersas pela vila medieval no Alentejo.
Diz-se que é o antepassado do atual jogo de damas, mas há ainda quem se reúna nos degraus da Igreja de Nossa Senhora da Lagoa, para mexer as pedras no tabuleiro que está gravado nas pedras de xisto. Para muitos dos habitantes, é uma forma de sair da rotina e a autarquia tem reunido esforços para manter viva esta tradição — tal como o casal José Cabrita e Carmen Oliveira.
O jogo de tabuleiro inspirou o nome do alojamento que abriram recentemente na muralha do Castelo de Monsaraz, a mais de 300 metros de altitude. A Casa Alquerque começou a receber hóspedes no início do mês de junho e, assim como o tabuleiro árabe, o objetivo é ser “um lugar para sair da rotina”.
José, de 41 anos, é natural de Cuba, no distrito de Beja, e apaixonou-se por Monsaraz quando conheceu a mulher, Carmen, que passou toda a sua infância na vila medieval. De áreas distintas — ele licenciou-se em direito e ela é profissional de saúde — sempre se interessaram pelo mundo do turismo.
“Ia com muita regularidade ter com a Carmen a Reguengos de Monsaraz e fazíamos muitos passeios por ali. Sempre ambicionei ter um negócio naquela zona”, José começa por contar à NiT. Quando decidiram abraçar um projeto de turismo juntos, ainda ponderaram abrir um alojamento em Cuba, onde vivem, mas foi em Monsaraz que surgiu “uma oportunidade única” em 2017.
Assim que o consultor imobiliário com quem trabalhavam na altura lhes mostrou as primeiras imagens da propriedade, ficaram rendidos “à vista impressionante”. Sem pensar duas vezes, marcaram de imediato uma visita e voltaram a confirmar a primeira impressão: a paisagem era, de facto, incrível. “Talvez tenhamos sido imprudentes, mas fizemos logo a aquisição da propriedade sem nos preocuparmos com mais nada”, confessam.
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Mais de 700 anos após D. Dinis ter mandado edificar naquele cume o emblemático o Castelo de Monsaraz, o casal deu início à construção da sua “pequena fortificação”. Por ser uma zona protegida, foram obrigados a cumprir uma série de exigências e as obras demoraram cerca de quatro anos. O imóvel, apesar de não estar completamente abandonado ou inabitável, precisava de várias intervenções.
“São cerca de 300 metros quadrados de área, o que para aquela zona é muito pouco habitual. Por norma as casas junto às muralhas do castelo são mais pequenas”, revelam. A 1 de junho, abriram oficialmente as portas à Casa Alquerque, uma villa com três suítes, duas salas de estar, cozinha totalmente equipada e um pátio interior.
Todo o alojamento é baseado no conceito de slow living, de “viver lentamente e apreciar o momento”. “É um projeto imperfeito, as paredes não são direitas porque quisemos que permanecessem irregulares, como antigamente. A decoração é muito minimalista, mas damos muito valor aos objetos que chegam da natureza, como a madeira, o barro e a cortiça”, destaca o casal.
O jardim, que tem uma churrasqueira, ocupa quase metade da área da casa. É ali, no exterior, que se destaca a piscina de borda infinita. “Sem sabermos, fizemos a piscina precisamente no local onde o sol se põe todos os dias, bem no centro”, contam. Por enquanto ainda não está disponível nenhum jogo do Alquerque para os hóspedes, mas o objetivo é gravá-lo à entrada do alojamento e ter o tabuleiro para que todos possam jogar.
Com capacidade para 10 pessoas, os preços da estadia começam nos 160€ por noite, por quarto. As reservas podem ser feitas online.
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