Em 2022, na pequena quinta nos arredores de Évora, Miguel e Anni Oliveira acolheram, durante duas semanas, um grupo de jovens em risco de diversos países. Para os receber, montaram várias tendas espaçosas que hoje seriam consideradas tendas de glamping. O objetivo era outro.
“Viveram aqui duas semanas e a ideia era mostrar-lhes como é possível viver num meio rural ligado ao mundo através dos meios digitais. Partilhámos com eles os princípios que seguimos aqui, da permacultura, de interagir com o mundo de forma sustentável”, explica o português de 41 anos, que há dois anos começou a sério o projeto de mudar de vida, em conjunto com a mulher finlandesa e as duas filhas.
O projeto continua bem vivo e as tendas servem, desde este verão, o propósito de receber hóspedes para poderem usufruir da calma e da pacatez da região. E, pelo caminho, beber dos ensinamentos de Miguel e Anni — ou participar num dos muitos eventos que estão sempre a organizar.
A história começa na África do Sul, onde Miguel nasceu, antes de regressar com os pais a Portugal. Formou-se em design de comunicação e já adulto, quis regressar a África para redescobrir as suas origens. Foi lá que decidiu revolucionar a sua vida.
“Estive três anos em Joanesburgo e outros três em Cape Town. Trabalhava em design, mas comecei a sentir-me cansado da carreira como mera forma de pagar as contas. Desinspirei-me”, recorda. “Comecei a interessar-me pela biologia, pela vida selvagem; a trabalhar mais ligado à conservação animal e eis que descubro a permacultura, uma forma de interagir com o mundo natural de forma mais equilibrada, respeitando os ciclos da natureza.”
Pelo caminho, e não menos importante, conheceu Anni, que se tornou numa parceira de vida e de projeto, após abandonar a carreira como gestora de empresas — profissão que trocou por um lado mais espiritual ligado ao ioga.
De regresso a Portugal, começaram a procurar por um sítio onde pudessem assentar e educar os filhos de forma condizente à sua visão. “Queríamos que os nossos filhos crescessem ligados à natureza”, reafirma Miguel, que encontrou na “savana alentejana” o local ideal.
O glamping “era um sonho antigo” que se concretizou como consequência do trabalho que faziam. Com uma associação criada, organizavam workshops de permacultura e sessões de ioga. “As pessoas perguntavam sempre onde é que podiam ficar e nós decidimos aproveitar o sol e o bom tempo para, pelo menos entre a primavera e o outono, recebermos hóspedes nestas tendas.”
Nos dois hectares da Quinta Shiva, Miguel e Anni planeiam plantar uma floresta. “Já temos cerca de 3500 plantas, de árvores a arbustos”, nota. Construíram também um lago natural para “dar apoio à vida selvagem” e fazem captação da chuva para lutar contra a aridez crescente na região.
É sob esta filosofia que pregam nos muitos workshops que realizam regularmente. E a atração do glamping serve também o propósito de “atrair um público mais variado” para poder “ter esta experiência imersiva na permacultura”.
Calhou em sorte um dos hóspedes ser um experiente carpinteiro que, numa das tardes, decidiu interromper o descanso para dar uma mão na construção de uma pequena casinha de madeira. No final, Miguel e Anni descontaram o préstimo no preço final. “É recorrente. As pessoas acabam por se interessar pelo trabalho que fazemos na quinta e envolvem-se. E, claro, compensamos sempre isso com a oferta de algum do nosso azeite ou com um desconto.”
Apesar de terem seis destas tendas de grandes dimensões, apenas três estão de momento disponíveis. Um arranque ponderado e sustentável, que poderá alargar-se a mais tendas na próxima estação.
As condições são as mesmas dadas a quem usa a quinta para acampar ou como local de poiso da autocaravana. “Temos casas de banho, balneários com duches quentes, uma cozinha comunitária e uma pequena piscina”, nota. Quem quiser, pode trocar a água límpida da piscina pela mais natural do lago. O preço por noite? 70€.
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