É preciso recuar até 1721 para encontrar o registo de matrimónio daquele que é apontado como o fundador da Casa do Silvestre, apelido de um dos moradores da aldeia de Vilarinho do Monte, numa altura em que era habitada por cerca de meia dúzia de famílias. Ao longo do tempo, foi ocupada por seis gerações, que seguiam a organização tradicional da moradia: as pessoas no andar superior, os animais a pernoitar no piso inferior.
Em tempos, foi a morada dos pais de António Silvestre (que pertence à última geração da família original), que ali passou a sua infância. Quando o pai estava próximo do fim da vida, ao ver que as estruturas estavam a ficar degradadas, deixou-lhe o pedido de que não deixasse as casas cair. E assim foi.
Hoje, esta moradia, com uma longa história, foi transformada num alojamento rural, cuidadosamente restaurado e decorado. A Casa Silvestre, como se chama atualmente, surge como um “paraíso serrano” em Manhouce, um refúgio no coração da Serra da Arada, em São Pedro do Sul, Viseu, para quem procura fugir da cidade.
“Os irmãos falaram, juntaram as poupanças e concordaram em evitar que este legado ficasse esquecido”, conta à NiT Carina Oliveira, uma das responsáveis. António meteu mãos à obra e restaurou todos os móveis, tentando manter a essência da casa onde cresceu.
Os hóspedes, que começaram a chegar em maio, podem optar entre seis casas, sendo que quatro delas estão aglomeradas. O proprietário quer ainda criar um caminho entre todas para facilitar não só a ligação, mas também o estacionamento.
“Há uma conexão entre elas, mas não deixam de ter atrativos muito específicos”, acrescenta Catarina, que dá como exemplo a Suite da Horta, cujo nome diz respeito à vista da varanda sobre a horta onde se cultivavam as “novidades da casa”, como as batatas, as cebolas ou o feijão.
Todos os espaços têm nomes relativos à localização. Destaca-se, por exemplo, a Casa do Sobrado, a primeira casa de habitação da família Silvestre, com vista para a Serra do Sobrado. Com cerca de 42 metros quadrados, é composta por duas suites e cozinha em open space, com sofá cama, e acolhe entre cinco a seis pessoas.
Segue-se a Casa Nova, onde morava a família, composta por duas suites, sala de estar, cozinha totalmente equipada e terraço fechado, com casa de banho de serviço. “Não foram necessárias tantas remodelações,” diz Catarina. “Não a deixaram ficar totalmente em ruínas. Houve um aproveitamento do que já existia.”
As casas da Sêca — Eira e Arraial — surgem mais afastadas, e eram eram utilizadas para guardar todos os produtos cultivados, bem como alfaias agrícolas. Com uma cama e um sofá, destaca-se pelas vistas para a montanha, para a aldeia de Vilarinho e para o pátio interior.
Um dos pontos de destaque para os hóspedes passa pela aposta no tradicional. A nível de decoração, o senhor António seguiu um estilo mais rústico, marcado pelo uso de muitas madeiras, com paredes de pedra, que foram pintadas em alguns casos, e móveis reutilizados. Tentou manter-se sempre o registo, embora a Casa da Horta surja em tons de amarelo e a Casa do Sobrado siga um paleta azul, por exemplo.

Além das casas, ao todo quatro moradias independentes e duas suites, destaca-se um tanque descrito como um “espelho de pedra e de céu”, que surge como mais um registo de passagem destas seis gerações de “fogos”, como eram chamadas as famílias. A água corrente no tanque foi canalizada de uma fonte distante, a 400 metros, há cerca de um século.
“O que pretendemos é atrair pessoas de fora, porque se trata de uma aldeia no interior do País e é sempre difícil captar a atenção das pessoas”, continua. “A verdade é que tem bastante potencial porque há cada vez mais gente a fazer este género de retiros no meio da natureza.”
O próximo passo, explica, passa pela construção da piscina, como forma de dinamizar o espaço. Além disso, o proprietário ainda não conseguiu restaurar a área do fumeiro, mas também pretende dar-lhe uma nova vida em breve.
Um dos pontos altos da Casa Silvestre, em termos de procura, é o festival GOAT Community, que regressa a São Pedro do Sul entre 2 e 7 de julho. “O que vamos tentar é que as pessoas que vêm ao evento possam ficar alojadas connosco, visto que fica a cinco minutos a pé do recinto”, conclui.
As reservas podem ser feitas a partir do site da Casa Silvestre. Os preços começam a partir dos 69€ por noite no caso das suites e há valores a partir dos 79€ por noite para as casas.
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