Podia ser a história de um verdadeiro aristocrata, mas não é bem o caso. João Miranda, o antigo proprietário de um moinho de vento em Torres Vedras, era conhecido na zona por usar um chapéu preto com abas, à semelhança do Duque de Wellington. Era uma espécie de tributo às invasões francesas, que tiveram um grande impacto na região. O acessório valeu a João Miranda a alcunha de duque, que foi passando de geração em geração — tal como o próprio moinho, construído no século XVIII.
A propriedade foi herdada pelo filho António, moleiro que produzia a farinha que vendia às da região. Tinha uma enorme paixão pelo trabalho, mas no dia do batismo do afilhado, José Vale Paulos, fez-lhe uma promessa: no futuro, o edifício seria dele.
“Desde criança que o meu pai se lembra de ter este fascínio pelos moinhos, de visitar o padrinho e muitas vezes ir lá buscar farinha para a avó paterna fazer o pão no forno”, começa por contar à NiT a filha, Cláudia Vale Paulos, de 43 anos. A promessa foi cumprida em 2003, ano em que José, agora com 71 anos, adquire efetivamente a construção, após a morte do antigo proprietário. Foi a partir daí que nasceu o sonho de reabilitá-lo.
“Há cerca de 55 anos, a infraestrutura foi assolada por um incêndio e ardeu tudo o que era de madeira, deixando metade em ruínas”, recorda. O primeiro passo seria, então, voltar a dar vida ao mesmo. Durante vários meses, talvez até anos, começou então uma busca por artesãos e conhecedores da arte de moer e do próprio engenho dos moinhos para avançar com a reabilitação. O objetivo era que voltasse a moer o cereal e a fornecer farinha — algo que só conseguiriam por volta de 2008.
Ver esta publicação no Instagram
“Ficou com as características originais e era isso que pretendíamos. Com o passar do tempo, estas construções perderam a sua principal função e muitos deles foram abandonados ou transformados em alojamentos”, sublinha. Mais do que reerguer a nível arquitetónico, queriam manter viva “esta tradição de moagem”, algo que agora pode ser vivenciado pelos hóspedes do turismo rural Moinho do Duque, que abriu reservas esta segunda-feira, 20 de maio.
Terminada a reabilitação, surgiu um novo sonho: expandir o projeto a um empreendimento turístico. Em 2009, começaram a desenvolver um projeto de ampliação daquela que foi, em tempos, a casa do moleiro. “Ainda resistiam algumas ruínas, mas eram tão pequenas que não deu para integrá-las na construção”, afirma Cláudia.
A opção passou por construir um edifício de raiz mesmo ao lado do moinho, que continuaria a ser o grande protagonista do turismo rural. Os hóspedes podem agora pernoitar num dos quatro quartos da casa, cada um deles com um nome ligado aos cereais moídos ali: trigo, centeio, aveia e milho.
O alojamento dispõe ainda de uma sala ampla com forno a lenha e lareira, cozinha totalmente equipada e áreas exteriores “para estar e contemplar”. Existem ainda umas escadas subterrâneas que permitem o acesso direto ao moinho, que continua em funcionamento, com as velas a rodar constantemente.
“Os hóspedes têm assim acesso a um património único, recuperado com engenho, mantendo o que era original”, explica. O turismo rural disponibiliza ainda visitas guiadas ao espaço, onde são explicadas as funções de cada uma das peças. “Teremos ainda uma zona de estar para quem quiser ler ou beber um chá dentro do moinho, num ambiente que nos remonta a séculos passados”, assegura.
No exterior encontra-se também um tanque que funciona como piscina e um solário onde podem apanhar sol, bem como uma zona de pátio com relvado, com uma vista panorâmica para toda a natureza envolvente. Outro destaque é o pinhal que cerca o empreendimento, com cerca de 6 mil metros quadrados, onde é possível fazer passeios ou piqueniques, sempre rodeados pela natureza.
“Vamos implementar um conjunto de experiências para que as pessoas não tenham só acesso visual ao património, mas que também possam participar em várias atividades, como o ciclo do pão ou workshops de alimentação saudável”, destaca.
Os quartos são reservados individualmente e os preços rondam os 128€ e os 188€ por noite, dependendo da época do ano. As reservas podem ser feitas online.
Carregue na galeria para ver mais imagens do Moinho do Duque.