Turismos Rurais e Hotéis

Os franceses que se apaixonaram por Portugal e criaram “um refúgio de amor” no Algarve

Jack e Walter deixaram Paris em 2020 e instalaram-se em Olhão. Agora, abriram um boutique hotel com um café, uma loja e galeria de arte.
Fica em Olhão.

Após 20 anos a viver em Paris e a trabalhar na área do marketing e das finanças, Jack Chaniol e Walter Dellazoppa começaram a sentir necessidade de fazer uma mudança. Já há muito que sonhavam deixar a capital francesa para embarcar numa aventura a dois num destino diferente — de preferência mais calmo e com muito sol.

Com a pandemia, essa vontade foi maior do que nunca. “Foi o que nos ajudou a fazer a mudança. Quando vivemos uma situação assim, começamos a pensar na nossa vida, se queremos mesmo continuar a trabalhar no mesmo sítio e na mesma cidade toda a vida”, revela à NiT Jack, de 62 anos.

Nesse ano, em 2020, venderam o apartamento em Paris e mudaram-se para Portugal, já com o intuito de apostar em algo relacionado com o turismo. Só lhes faltava escolher a localidade. Lisboa estava fora de questão, até porque o que mais queriam era fugir do stress das cidades grandes.

Já conheciam relativamente bem o País — Jack até fez um estágio de dois meses em Coimbra em 1982 — e sempre gostaram muito da “cultura portuguesa, da sua história, da comida e dos vinhos”. No entanto, a escolha recaiu no Algarve e o primeiro destino em que pensaram foi Tavira.

O casal começou a procurar um local para abrir o negócio na cidade, mas os planos mudaram quando decidiram ir ao Festival do Marisco em Olhão, no mês de agosto. “Nessa altura descobrimos os mercados da localidade, percebemos que era um sítio com muita vida, com a Ria Formosa e com muitos portugueses, algo que, para nós, era muito importante. Depois desse primeiro contacto decidimos procurar uma casa para fazer um pequeno alojamento local”, conta.

O que não esperavam era encontrar à venda a antiga casa de das figuras mais notáveis do seu tempo em Olhão: Dr. Pádua, um médico, músico, maestro e presidente da autarquia entre 1864 e 1867.

Após a morte do doutor, o edifício, construído na segunda metade do século XIX, passou para as mãos de uma família de Lisboa que o transformou na pensão Helena, na década de 1930. No rés do chão, funcionavam uma tabacaria e uma peixaria.

Jack e Walter.

“Quando a dona Helena faleceu, nos anos 90, a pensão fechou portas e a família não voltou a fazer mais nada com a casa”, conta. Quando Jack e Walter encontraram o edifício, em 2021, este já estava debilitado e praticamente em ruínas.

Seguiram-se, portanto, vários anos de obras até conseguirem reabilitar a histórica propriedade. O boutique hotel Casa Amor, com 10 quartos, abriu ao público em março de 2024. Localizados nos andares superiores, beneficiam da luz natural do Algarve, com as suas paredes brancas e grandes portas de madeira típicas das casas portuguesas.

Quanto à decoração, respeitaram “a arquitetura do século da construção” e os elementos característicos do Algarve. Também se inspiraram nos anos 50, altura em que a Pensão Helena ganhou popularidade. “Encontrámos alguns móveis desse período e restaurámos com a ajuda de uma empresa familiar”.

Nenhum dos quartos está equipado com televisão, mas, em contrapartida, há livros em todos os quartos, sejam em inglês, francês ou português, e uma coluna para poderem ouvir música. Uma das suítes está situada no rooftop e contempla um terraço privado com mais de 70 metros quadrados.

No último piso do edifício, destaca-se ainda a piscina de água salgada, com vista para toda a cidade de Olhão, para o Monte São Miguel e para a ria Formosa. Já no espaço térreo, a sala de jantar oferece pequenos-almoços e outras refeições sob as abobadas brancas centenárias.

O salão de inverno, desenhado como uma antiga capela e equipado com uma lareira, convida os hóspedes a ler ou a passar o tempo com jogos de tabuleiro. Desde o início que o objetivo da dupla era criar um espaço que fosse ponto de encontro para os locais. Então, além dos 10 quartos, abriram, no rés do chão, uma coffee shop, aberta ao público geral. 

No espaço existe ainda uma pequena loja onde é possível encontrar vinhos portugueses ou chás. “Para nós era muito importante que a comunidade pudesse fazer parte do projeto. Há muitos lugares bonitos fechados à vida local, só estão abertos aos hóspedes”, confessa.

Outro destaque é o restaurante, que vai estar constantemente a mudar de chefs e de menus. “Não é um restaurante permanente, porque trabalhamos com chefs em residência. Ficam connosco cerca de um ou dois meses e depois esperamos a chegada de um novo. Durante esse tempo, o restaurante fica fechado”, explica. O próximo chegará em abril, é vietnamita e vai trabalhar com produtos locais.

Em dezembro do ano passado, acrescentaram uma novidade: uma galeria de arte, em parceria com a Algarve Côrte-Real Gallery, onde dão a conhecer as obras de artistas nacionais e internacionais. “Para nós era importante termos arte em cada espaço e foi essa a razão pela qual abrimos a galeria”, sublinha.

Quanto aos preços da estadia, os valores rondam os 135€ e os 160€ por quarto, dependendo da época, e sempre com pequeno-almoço incluído — e a pastelaria francesa também faz parte da oferta. As reservas podem ser feitas online.

Carregue na galeria para conhecer melhor a Casa Amor.

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Rua Dr. Pádua 24A
    8700-465 Olhão
ESTILO
alojamento local
PREÇO MÉDIO
Entre 100€ e 200€
AMBIENTE
urbano

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