Em 1883, uma família de viscondes, que geria negócios relacionados com coches, cavalos e café, vivia tranquilamente em dois palacetes na zona do Intendente, em Lisboa. À medida que os anos foram passando a propriedade foi ficando vazia e, sem ninguém a cuidar dela, degradou-se e ficou esquecida no tempo. O destino da propriedade mudou quando Rita Galante e Fábio Vasques decidiram recuperar as duas casas centenárias para as transformarem num alojamento e espaço de convívio. O mais certo é não encontrar nenhum visconde por lá, mas irá sentir-se acolhido como se fosse um dos seus convidados.
Rita e Fábio acumulavam mais de sete anos de experiência em gestão de villas no Algarve, mas tinham um sonho que queriam concretizar juntos: criar um conceito de hotelaria diferente. “Tínhamos a ideia muito clara na nossa cabeça: queríamos ter um boutique hotel pequeno que fizesse as pessoas sentirem-se em casa”, começa por contar à NiT Rita, de 32 anos.
Há cerca de cinco anos, encontraram estes dois palacetes abandonados em Lisboa e decidiram avançar com o projeto. “Estavam muito degradados, num deles até chovia lá dentro e tinha ninhos de pássaros”, revela. Apesar do avançado estado de degradação, nem tudo se perdeu — ainda encontraram algumas pinturas originais do século XIX, que acabaram por ser recuperadas. Contudo, não foram as únicas obras de arte a serem mantidas no espaço.
“O Bordalo II tinha um atelier ali perto e, a certa altura, entrou nos palacetes e fez lá umas pinturas. Quando encontramos percebemos que tinham sido assinadas por ele e decidimos mantê-las também. Atualmente, a street art coabita com as pinturas originais do século XIX”, revela. O chão também é original e tentaram recuperar ao máximo os tetos.
“Metade de um dos tetos com uma pintura original estava caído e a pintora Rosário O’Neill esteve um mês a pintá-lo, exatamente com a técnica do século XIX”, explica. Já os do segundo andar, onde viviam os criados dos aristocratas, estavam demasiado degradados e a recuperação não foi possível.
O Palácio do Visconde começou a ser pensado em 2017, as obras demoraram cerca de três anos e, aos poucos, foram abrindo alguns quartos para financiar o projeto. “A nossa missão é que os hóspedes se sintam acolhidos como verdadeiros convidados do Visconde numa viagem no tempo ao século XIX, experienciando o melhor café, a melhor comida e os melhores quartos”, sublinha Rita. Só no mês de fevereiro é que abriram na totalidade e a inauguração oficial vai acontecer dia 15 de abril.
Apesar da decoração ser inspirada na época passada, não queriam que “parecesse a casa da avó”. “Queremos atrair um público jovem que se sinta confortável no espaço, por isso, tentámos conjugar aspetos modernos com alguns detalhes mais antigos”, descreve.
Cada um dos 23 quartos (duplos, standard e suites) têm uma personagem ligada à história dos palacetes e à história do café — até porque o visconde que lá viveu anteriormente foi um dos sócios da Cafés Negrita, a mais antiga fábrica de torrefação de Lisboa, que ainda está em funcionamento. “Ao reabilitar os palacetes, também quisemos criar uma ligação com a fábrica. Além de toda a decoração estar relacionada com esta parte da história, também fazemos visitas guiadas até lá”, revela.
Quanto aos quartos, pode ficar hospedado na suite do Visconde, “a mais nobre de toda a propriedade”, com lareira, poltrona e uma varanda com vista para o jardim. Já na suite da Viscondessa, as novas modas de Paris estão espelhadas nos elementos do quarto “mais icónico” do alojamento. Como o visconde era íntimo do rei D. Carlos — e sabe-se que frequentavam juntos as calçadas nas planícies alentejanas de onde o primeiro era natural — também há uma suite clássica em sua homenagem, com tetos trabalhados e varandas largas.
O Palácio do Visconde tem também sete salas nobres, um bar com vinhos portugueses e salão de café, mas “a cereja no topo do bolo” é o jardim entre os dois palacetes, “um oásis no meio da cidade”. Todas estas áreas comuns estão abertas ao público todos os dias, das 8h30 às 22 horas.
“No bar servimos pratos e petiscos que pensamos que o visconde gostaria de comer. Comida de raiz portuguesa mas com um twist moderno. Também temos cerveja produzida da zona da Graça e tentamos sempre trabalhar com pequenas marcas locais”, revela. No Palácio do Visconde pode pedir, por exemplo, sopa de peixe (8€), peixinhos da horta e do mar (12€), caco de bacalhau (14€) ou bife do Visconde (28€).
As reservas podem ser feitas online e os preços começam nos 120€ por noite em época baixa e podem chegar aos 350€ durante os meses de verão. As visitas guiadas à fábrica têm um custo de 15€.
De seguida, carregue na galeria para conhecer melhor o Palácio do Visconde.