A transição de uma pequena aldeia no interior para estudar em Lisboa foi um verdadeiro choque de realidade para Catarina Santos. Na capital, admite que nunca se sentiu verdadeiramente acolhida.
“Para quem vem do interior e conhece quase toda a gente, ao chegar a Lisboa, tudo é diferente. A cidade é mais fria, e as deslocações demoram imenso tempo”, recorda Catarina, de 35 anos, em conversa com a NiT.
Concluído o curso, as perspetivas de emprego na sua área — marketing e relações-públicas — levaram-na a procurar trabalho na capital. Contudo, as saudades de casa e o facto de Lisboa se ter tornado “cada vez mais cara” motivaram-na a regressar ao lugar onde sempre foi feliz, a Covilhã.
Há cerca de cinco anos, entrou por acaso no setor dos arrendamentos de curta duração. Após comprar casa, ponderou que poderia ser uma boa ideia ter um rendimento extra para cobrir as despesas. Assim, decidiu colocar um dos quartos no Airbnb e começou a receber hóspedes de diversas partes do mundo.
“No início, não me sentia muito à vontade; não queria partilhar a minha casa com estranhos. Mas, depois, achei muito interessante. Conheci pessoas de todas as idades, e a interação era uma troca enriquecedora de experiências e conhecimentos”, confessa.
Desde que abriu as portas do seu apartamento, recebeu sobretudo estudantes e turistas brasileiros, e percebeu que a maioria sabia pouco sobre a Covilhã ou a Serra da Estrela. “Cheguei a ter pessoas que me perguntaram se havia metro na Covilhã”, conta. Também recebeu uma rapariga que queria ir a pé e sozinha até ao topo da Serra da Estrela, sem conhecer minimamente o percurso. “Disse-lhe que era perigoso, que podia ficar sem rede. Dei-lhe o meu número, ela mandou-me a localização dela para a ir buscar quando fosse preciso”, diz.
Numa outra situação, ofereceu-se para fazer de guia a uma hóspedes que não conhecia ninguém e que passou um mês na Covilhã. Levou-a ao Museu do Queijo e aos seus restaurantes favoritos. “Comecei a perceber a falta de informação que o interior tem. Quem não é de cá não sabe como se deslocar, não sabe os horários dos transportes”, afirma.
Esta experiência fê-la perceber que gostava efetivamente de receber hóspedes e de os “acolher como gostava de ter sido acolhida em Lisboa”. Com o tempo, começou a sonhar ter um aparthotel na serra. Ainda não o concretizou, mas já deu o primeiro passo: a 21 de dezembro, abriu o EntreVales, um refúgio a 1.500 metros de altitude nas Penhas da Saúde, com vista panorâmica para as montanhas.
O alojamento foi adquirido há cerca de um ano e passou os meses seguintes a fazer obras de renovação e de decoração. As tapeçarias típicas, por exemplo, são um dos destaques.
Para já tem disponível um apartamento com dois quartos (um deles com beliche) e capacidade para quatro pessoas, mas a ideia é abrir mais no futuro. O alojamento dispõe de cozinha, casa de banho, área de refeições e sala de estar com jogos de tabuleiros.
Os hóspedes são recebidos com um kit de boas-vindas, com azeite biológico produzido na quinta dos pais de Catarina, mel, café, açúcar, vinho, compota, queijo e biscoitos.
O grande destaque é mesmo a vista direta para as montanhas, no inverno, com os vales cobertos de neve, ou no verão, quando a serra ganha vida com cores vibrantes. No exterior os hóspedes podem ainda aproveitar as três varandas e a churrasqueira.
Mais do que um alojamento, o objetivo de Catarina é mostrar o melhor da região, ajudar os visitantes com as reservas nos restaurantes que servem pratos típicos, a comprar bilhetes para ir ao teatro, a acompanhá-los nos passeios pela serra. “A parte de ser guia turístico é algo que vou começar a desenvolver este ano. Para mim é muito gratificante dar a conhecer o sítio onde vivo”, revela.
Os preços da estadia começam nos 111€ por noite. As reservas podem ser feitas online.
Carregue na galeria para ver mais imagens do EntreVales.
