Turismos Rurais e Hotéis

Sugestão NiT: viaje no tempo neste pitoresco alojamento da Figueira da Foz

A Bacharéis Charming House tem sete quartos, dois apartamentos e disponibiliza várias experiências para os hóspedes.
Fotografia: Bacharéis Charming House.

Além do apelido, os irmãos Vitória (47 anos) e Rafael Balsas Abreu (43) partilham, desde sempre, o gosto pela área do turismo temático e de nicho, o que os levou a pôr as pernas ao caminho e partir à descoberta daquele que seria o edifício a partir do qual transformariam essa preferência em realidade.

Por “um mero acaso”, quando estavam à procura da opção ideal na Área de Reabilitação Urbana (ARU) da Figueira da Foz, de onde são naturais, depararam-se com uma moradia de 1878, ligada a várias famílias de magistrados. “Estava à venda em muito mau estado”, mas o estado de degradação não impediu a dupla de se encantar pela residência e decidir que era perfeita para o projeto, conta Vitória, gestora numa empresa familiar da área agro alimentar — onde Rafael também trabalha, mas como marketeer.

A casa conquistou-os, sobretudo, por ser o que definem como “uma incubadora de histórias” com “paredes que falam” e “baús que transbordam de segredos”. “Dada a localização privilegiada e o rico período histórico da Figueira da Foz que atravessou, a casa conservou muitos testemunhos da sua própria história”, explica a empreendedora quando questionada pela NiT sobre a origem da designação.

“O mais curioso foi o facto de ter pertencido, ininterruptamente, a quatro gerações de magistrados”. Enumera: os Pessoa da Silva Arnaut (meados de oitocentos – 1783) eram donos do terreno; os Fernandes das Neves e os Melo (1873 – 1908) mandaram ali erigir a “caza”; e os Campos Paiva (1908 – 2017) fizeram dela a sua morada estival. No sótão, deixaram esquecido um baú repleto de documentos e publicações antigas.

“Passados cento e quarenta anos desde a sua construção, com todas as transformações ocorridas na cidade, no edifício e na sociedade, o projeto de reabilitação guiou-se pela vontade de descobrir e contar essa história, como legado, ao mesmo tempo que quis devolver à casa a dignidade merecida”, declara.

Com isto em mente, procuraram manter tudo da forma mais fiel possível ao original, sendo as mudanças necessárias “assumidas como contrapontos contemporâneos, que evidenciam e dão protagonismo a pontos-chave da arquitetura original e ao acervo encontrado, incorporados à arquitetura de interiores”.

Neste processo, iniciado em 2017, criaram-se nove unidades de hospedagem — sete suites e dois apartamentos —, receção, salão, sala de estar e cozinha, “fazendo as adequações ao novo uso, enquanto põe à vista recortes da história da casa em si e da vida de seus antigos moradores”. Sendo estes várias famílias de advogados, decidiram que o nome do alojamento, bem como dos quartos (todos em latim), faria alusão à profissão das mesmas. Assim nasceu a Bacharéis Charming House.

No processo de reabilitação, muitas foram as descobertas. Logo no decorrer dos trabalhos de verificação das condições de estabilidade e conservação, revelou-se a “essência construtivista” da propriedade. “Visto que as paredes externas e a estrutura interna eram plenamente recuperáveis, ao pô-las à vista logo se entendeu que esta essência construtiva e as memórias de uma arquitetura doméstica do final do século XIX, por ela evocadas, tinham muito a contar”, diz.

Acrescenta: “Neste trabalho de desvendar o edifício, foi-se também revelando uma subtil e singela linguagem de ferramentas, de materiais, de ofícios e saberes. As marcas do talhe da enxó nas vigas de madeira das paredes de tabique registam o cuidado em dar melhor aderência à argamassa de cal que as revestia. Os jornais, cortados em recortes miúdos, que preenchiam as brechas da estrutura destas paredes, também dão notícia de uma solução vernacular e intuitiva”.

Todo o conhecimento adquirido, como o facto da cobertura e sótão originais não reunirem as condições mínimas necessárias para serem restauradas, pelo que tiveram de ser removidos, pesou na hora de desenhar o projeto.

Foi no verso de uma das tábuas utilizadas para forrar o sótão, que descobriram a data de construção da casa. “1878. Foi esta caza feita / José Gonçalo [?] / Emigdio Lopes [?]”, podia ler-se.

Já o salão, pela ornamentação diferenciada e caráter simbólico enquanto “lugar de convívio dos antigos moradores, foi preservado na íntegra. Para além de ter o soalho, a porta, as portadas interiores, as guarnições de madeira e o teto de estafe restaurados, a parede de fundo recebeu um painel de azulejos que originalmente estavam aplicados na cozinha da casa”, descreve Vitória.

Continua: “Além do salão e das escadas, somente as paredes internas que os delimitam puderam ser mantidas. As demais divisões originais foram suprimidas e outras foram acrescentadas, resultando em espaços amplos, divididos com paredes de gesso cartonado, suportados pela nova estrutura de sustentação, que permitiu a preservação de boa parte dos pisos de madeira e libertou as paredes de taipa da função estrutural”.

A nível externo, também as paredes foram conservadas na íntegra, de modo a “que a caixa de pedra e a estrutura de madeira pudessem ser usadas como envelope para as novas divisões, num diálogo de épocas entre antigos e novos elementos construtivos, através da linguagem dos materiais”.

“Todo este projeto foi um exercício de conceção de uma nova narrativa arquitetónica para o edifício, onde o maior desafio foi conciliar o extenso vocabulário do que se preservou da construção original com os novos vocábulos arquitetónicos que surgiram das necessárias alterações”, concluiu.

Desde janeiro de 2021, a partir dos 85€ por noite, já é possível instalar-se na Bacharéis Charming House. Enquanto aqui estiver, só se aborrece se assim o desejar, visto que o espaço disponibiliza um menu de experiências bastante completo, com opções para todos gostos, perfeitas para os que quiserem explorar a região, tão rica em património natural e humano. As que lhe interessarem, tanto podem vir incluídas no seu pack de estadia como serem reservadas na hora.

Um passeio de veleiro pela baía oceânica da Figueira da Foz está entre as atividades mais apetecíveis. O percurso inicia-se na marina, a 500 metros da guesthouse, e permite uma vista privilegiada sobre a cidade. Com a possibilidade de fundear para mergulhos ou apreciar o pôr-do-sol, pode escolher um passeio mais longo e navegar até ao Cabo Mondego. Duas, três ou quatro horas de viagem ficam por 250€, 300€ e 350€, respetivamente, para um máximo de oito pessoas.

Para uma aventura de descoberta das das distintas paisagens do território, tem ao seu dispor, a qualquer hora, uma “Figa” do sistema de bicicletas partilhadas da Figueira da Foz. Sugerem a exploração da rede de ciclovias do concelho em três rotas únicas, plenas de pontos de interesse naturais, paisagísticos e culturais – a rota do Mondego, das Praias e Urbana.

A primeira, com 13,5 quilómetros de extensão, passa pelo Centro Náutico, Praça da Europa, Marina, Forte de Santa Catarina e Farol do Molhe Norte. Já a segunda, um pouco mais curta, com 11,7 quilómetros para percorrer, tem a Marina, o Forte de Santa Catarina, a Torre do Relógio e o Cabo Mondego como pontos de interesse.

Por último, a Rota Urbana, com 4,71 quilómetros de cumprimento, vai à Casa do Paço, Jardim Municipal, Abadias, Palácio de Sotto Mayor, Coliseu Figueirense, Casino da Figueira, Esplanada Silva Guimarães, Mercado Municipal e Marina. Cada hora a pedalar custa 6€.

Visitas culturais temáticas e guiadas pela cidade devem, igualmente, ser consideradas. Pode escolher entre o tour pelo elegante Bairro Novo, que se desenvolve pelos principais marcos desta zona e tem início na Torre do Relógio, e a rota da liberdade, que reconstitui os passos da chegada dos refugiados à cidade aquando da Segunda Guerra Muncial. Vai revisitar algumas moradas em que se alojaram inúmeras destas famílias e redescobrir os lugares onde encontraram repouso e amizade.

Enquanto a primeira (15€) inclui paragem gastronómica, a segunda inclui paragens em lojas históricas (12€). Ambas têm duas horas de duração e obrigam à inscrição de um mínimo de duas pessoas.

Piqueniques a dois, em família ou entre amigos para desfrutar de produtos regionais envolto pelas belas paisagens da Serra da Boa Viagem (20€ a 30€ para duas pessoas) também são opção.

Carregue na galeria e descubra outros detalhes que fazem da Bacharéis Charming House um lugar único.

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