Da última vez que a NiT falou com Luísa Botelho, a proprietária do turismo rural TEIMA estava inconsolável. Tinha acabado de ver o projeto da sua a vida a ser destruído pelo incêndio que deflagrou na freguesia de S. Teotónio, em Odemira, a 7 de agosto. De um dia para o outro, Luísa e o marido, Paulo Camacho, perderam parte da propriedade que tanto se esforçaram por construir.
O incêndio devastador abateu-se sobre a Teima, o “paraíso rural em São Teotónio”, e transformou o “verde luxuriante em cinzas negras”. As memórias do momento em que viu as chamas aproximarem-se ainda perduram. Luísa não esquece p que viveu naquele fatídico dia de agosto, quando correu risco de vida, no meio das chamas, a gritar por ajuda, sem que ela aparecesse.
“Aquilo que aconteceu foi um trauma para todos nós, empregados e proprietários. Foi completamente avassalador, ver um projeto de vida a arder e a desaparecer”, confessa à NiT. A desolação foi palpável e os primeiros dias foram um verdadeiro pesadelo. “Foi muito difícil, não tínhamos energia nem ânimo para continuar. Estávamos desfeitos.”
No meio do desespero emergiu um “raio de esperança incrivelmente poderoso”: todos os animais da quinta sobreviveram. Foi a força que precisavam para começar a pensar em reconstruir, “não apenas as estruturas físicas, mas também o espírito”.
Assim que encontraram o foco, foi um caminho sem volta. Os meses seguintes foram de dedicação, suor e lágrimas. Limparam, reuniram fundos, escolheram fornecedores, fizeram obras e reconstruíram estruturas. Toda a equipa trabalhou com um único objetivo: voltar a abrir um dos alojamentos favoritos de muitos portugueses na costa alentejana, inaugurado em 2014.
A 19 de abril conseguiram cumprir uma parte do sonho e reabriram com quatro quartos. “Depois de um ano desafiante de recuperação dos incêndios florestais que atingiram o nosso querido TEIMA, temos o prazer de anunciar a reabertura oficial. A beleza do sudoeste alentejano curou-se e nós também, reconstruindo quase tudo o que fazia do TEIMA um retiro único para quem procura o sossego e a beleza natural,” escreveram nas redes sociais.
Grande parte da desgraça está agora corrigida e os cerca de 200 metros quadrados que estavam em ruínas já estão praticamente como novos. “Reconstruímos o estacionamento e a ponte maravilhosa, que era um dos ex-libris. Também plantamos 1.500 árvores e já estamos em condições de voltar a mostrar o nosso espaço aos hóspedes”, conta Luísa. No final de maio deverão abrir mais dois quartos. A casa principal foi a que sofreu mais com o incêndio, com 80 por cento do espaço a ficar destruído, mas deverá voltar a erguer-se já no início de julho, com mais um quarto duplo e um apartamento T2.
Quanto às unidades de alojamento, “continuam a ser bonitas, mas não são iguais ao que eram”. “Acabámos por alterar a decoração para algo mais minimalista e com mais envolvência, mas não deixa de ter peças originais e sofisticadas”, destaca.
A floresta, apesar de ter ardido, “continua muito verde e bonita”. “A mãe natureza também nos ajudou, presenteando-nos com um inverno chuvoso que ajudou a que a vida volte mais forte do que nunca. O verde voltou para ficar e, com ele, a nossa esperança. A terra, que parecia tão ferida, está agora a florescer novamente. É um lembrete diário de que após a destruição vem a renovação.”
O preço por noite para um quarto duplo varia entre 145€ e 250€, enquanto o apartamento T2, disponível a partir de 12 julho, custará entre 400€ e 580€ por noite. As reservas podem ser feitas online.
Tudo isto só foi possível graças aos fornecedores, que não hesitaram em ajudar, e à seguradora que assegurou que os aspetos financeiros da reconstrução fossem tratados com a maior celeridade — 10 dias após o incêndio, mais precisamente. Os proprietários também conseguiram devolver os 25 mil euros às pessoas que já tinham reservado o turismo rural graças ao Go Fund Me que criaram para o efeito.
O investimento total, que inicialmente estava previsto rondar os 700 mil euros, será de cerca de 550 mil euros. “A reconstrução teve de ser feita com algumas poupanças. As peças vintages autênticas e os quadros originais de pintores conhecidos que tínhamos foram deixados de lado, por exemplo, o que nos permitiu poupar algum dinheiro”, refere.
O maior agradecimento de Luísa vai para a equipa, cuja lealdade e determinação foram “além de qualquer expectativa.” “Foram eles que mantiveram a TEIMA viva, mesmo quando tudo parecia perdido”, diz.
A história do turismo rural TEIMA
Situado a meio caminho entre Odeceixe e a Zambujeira do Mar, a TEIMA foi inaugurada em 2014, após cinco anos de obras e muito trabalho. Quando o casal Luísa Botelho e Paulo Camacho, ambos de Lisboa, descobriram aquele local pela primeira vez, no Vale Juncal, não passava de um monte abandonado, coberto de mato, com cheiros de urze e de terra, repleto de sons misteriosos. Ainda assim, não viraram costas e seguiram os instintos: afinal, era o sítio perfeito para construir a casa de férias com que tanta sonhavam.
“Comprámos o terreno em 2009 e fizemos aqui uma casa lindíssima que, neste momento, já não existe. Foi a nossa casa durante muito tempo, até que decidimos transformá-la num turismo rural”, conta. Em maio de 2014, o TEIMA recebia os primeiros hóspedes e não demorou muito para ser um sucesso na região: chegaram ao fim do ano com 9,8 no Booking e era difícil encontrar um comentário negativo. O alojamento teimava em ser perfeito.
Começou com apenas dois quartos, mas tinha vindo a crescer ao longo dos anos. Um ano após a abertura, passaram de dois para seis quartos, construíram uma sala de refeições e outra de estar, assim como uma piscina, que viria a tornar-se na imagem de marca deste turismo rural. Do deck de madeira, seja nas espreguiçadeiras ou nos gigantescos pufes, avistava-se o resto da propriedade: o arvoredo, a receção e o recinto dos burros, também eles um dos símbolos do TEIMA.
Em 2018, a antiga residência dos donos foi alvo de obras de remodelação e transformou-se em mais um quarto e duas suites — o único edifício que não ficou destruído pelo incêndio. Reconhecido com o Prémio Travellers’ Choice 2021 da TripAdvisor e eleito como Melhor Turismo Rural de Portugal em 2017 e Melhor Turismo Rural do Alentejo em 2019, o TEIMA Alentejo SW está localizado numa propriedade com cerca de 80 mil metros quadrados.
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