Às portas do Parque Nacional Peneda Gerês, mais precisamente em Arcos de Valdevez, uma parte da pequena aldeia de Selim foi recuperada e transformada num turismo rural pelas mãos de um português que está a viver nos Estados Unidos da América desde miúdo. A história das Casas de Selim não é muito diferente de tantas outras que se ouvem por aí, de quem partiu do País muito novo, mas nunca se esqueceu das suas raízes.

Fernando Araújo, de 55 anos, recorda-se bem dos dias que passou em miúdo na aldeia onde cresceu. Corria pelos montes todos que rodeavam Arcos de Valdevez, conversa com os vizinhos e passava os dias com o pai e o seu trator. 

“O meu pai era tratorista e fazia muitas entregas em aldeias onde nem havia estradas. O trator era a única maneira de levar os materiais de construção até lá. Quando era miúdo fiz muitas viagens dessas com o meu pai. Sempre adorei andar pelo monte”, começa por contar à NiT. Mesmo a quilómetros de distância, não esqueceu as memórias de infância e o amor pela aldeia.

Aos 11 anos, despediu-se de Selim e partiu com os pais para os Estados Unidos da América. Estudou para ser eletricista, “um sonho de criança” e, depois de muito lutar para conseguir vingar na área, abriu a própria empresa de construção civil na remodelação de apartamentos em Nova Iorque, onde os pais “plantaram as raízes” no novo país.

 Vive há mais de 40 anos nos EUA, mas vem a Portugal com frequência, com a mulher Isabel. Quando se casaram, em 1991, decidiram comprar um terreno a uns familiares, mesmo ao lado da casa onde cresceu em Selim. Assim que conseguiu juntar dinheiro, renovou a propriedade e foi lá que começou a passar dois meses todos os verões. 

“A casa tem muitas escadas para subir e descer e, com a minha idade e da minha mulher, já quase caíamos a descer. Então pensamos que seria boa ideia colocar a casa como turismo”, recorda. Contudo, não ficou por aí: queria fazer algo ainda maior. 

“A aldeia estava esquecida, como muitas outras em Portugal. Muitos partiram, poucos regressam e, atualmente, já não há crianças ali. Pensei fazer algo para dinamizar a aldeia”, conta Fernando. Quando era miúdo, a escola tinha cerca de 90 alunos e Selim tinha aproximadamente 600 habitantes. Da última vez que contou, viviam apenas 70 pessoas naquele “paraíso longe da confusão, mas perto de tudo”.

Para revitalizar a aldeia, começou a explorar outras oportunidades de negócio. Alguns dos terrenos vizinhos estavam praticamente abandonadas. “Fiz uma proposta para ver se estavam interessados em vender, mas pediram um valor muito elevado. Estiveram dois anos a pensar na minha oferta e acabaram por vender pela minha proposta inicial. Fiquei com aquilo”, diz. Quando fez as contas, percebeu que já tinha comprado casas suficientes para criar um projeto turístico diferenciado: não abriria as portas apenas a um alojamento, mas sim a seis.

As obras arrancaram em 2017 e a inauguração das Casas de Selim aconteceu em junho de 2021. O empreendimento conta com seis casas de campo de várias tipologias, mas com um aspeto em comum: ainda mantêm alguns dos traços originais, como as paredes interiores originais ou os fornos de pedra típicos que existiam nas cozinhas. “Decidimos manter alguns detalhes originais, mas é uma mistura entre casa antiga e construção moderna”, revela Fernando.

O conjunto de seis edifícios fica a sete quilómetros de Arcos de Valdevez. A Mãe é o prédio principal do aldeamento e foi com base nesta casa que todo o empreendimento nasceu e desenvolveu-se. Era a antiga casa da família, que foi crescendo, adaptando-se às necessidades familiares. Com capacidade para acomodar seis hóspedes, foi especialmente pensada para famílias. Tem três quartos ao longo dos seus dois pisos e cada um deles tem varandas com vistas para o vale. Além disso, os hóspedes têm à disposição uma área privativa para refeições no exterior e uma sala de leitura.

A casa Tio Zé possui a denominação de um dos “tios” do lugar, que ali viveu toda a vida. “Com histórias contadas e com as vivências que demonstrava foram criados os espaços que se imaginaram ao longo de tardes passadas em torno do Lugar de Selim”. Este alojamento dispõe de dois quartos com áreas de estar e de refeições independentes.

Outro edifício que foi completamente recuperado foi um antigo espigueiro de grandes dimensões, que compõe um exemplo típico de um eido minhoto, com a sua casa, o seu pequeno espaço de lavoura e um anexo. Atualmente, estão todos interligados de modo a oferecerem um alojamento com dois quartos. O alojamento Altiva, que se distingue pela sua chaminé, também contempla a oferta global de dois quartos e permite uma ocupação máxima de seis pessoas.

Se gostava de ficar hospedado num lugar com todos os pormenores clássicos rurais, deve escolher a casa Primitiva, com apenas um quarto, mas “que encanta dos 8 aos 80 anos”. Já a Eira — uma antiga casa de sequeiro e de apoio de lavoura — está rodeada de espigueiros e permite ter a vista mais soalheira de todas. Trata-se de uma oferta com um quarto, com possibilidade de cama extra.

Na zona principal do aldeamento, onde se encontram quatro das seis casas, foi instalada uma piscina comum e várias zonas verdes com espreguiçadeiras penduradas nas árvores. Do outro lado da rua, vai ficar o café e a mercearia que estão agora em fase de conclusão. “Nós tínhamos uma mercearia pública, mas a senhora que tomava conta daquilo já tinha alguma idade e o marido estava debilitado, por isso fecharam. O lugar ficou sem mercearia e, como todas as casas têm cozinha, fazia falta ter um sítio com, pelos menos, os produtos básicos”, explica o proprietário. O espaço deverá estar concluído no mês de junho.

Embora ainda esteja a viver nos EUA, o objetivo de Fernando Araújo é regressar a Portugal nos próximos anos para se dedicar às Casas do Selim a 100 por cento. Afinal, é aqui que se sente em casa.

Quanto aos valores da estadia, os preços variam entre os 80€ e os 140€ por noite em época baixa, e os 120€ e 210€ durante os meses de verão. As reservas podem ser feitas online.

A seguir, carregue na galeria para ficar a conhecer melhor as Casas de Selim.