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A história do casal que visitou 37 países de autocaravana
Ana Rita e Miguel têm 23 e 24 anos, e durante mais de meio ano andaram a viajar pela Europa. Quando voltaram a Portugal tinham apenas 8 euros.
Ana Rita e Miguel em Bourg, França
A noite de 12 para 13 de novembro de 2016 foi a última em que Ana Rita Vasconcelos e Miguel Lisboa passaram em Portugal, mais concretamente em Massamá, onde cresceram. Com 24 e 23 anos, respetivamente, o casal resolveu partir para uma viagem pela Europa, mas não foram de avião.
“Optámos pela autocaravana porque era tudo o que precisávamos, um carro para nos deslocarmos e uma casa, onde podíamos fazer refeições e não gastar dinheiro em alimentação e onde podíamos dormir e não gastar dinheiro em alojamento”, contam à NiT.
Durante dois anos, o casal esteve a trabalhar para juntar dinheiro para a grande aventura. Entregaram pizzas, distribuíram cromos à porta de escolas em ações promocionais, trabalharam em carrinhas de street food e em call centers. A certa altura, Miguel teve dois trabalhos ao mesmo tempo, mas, no final, tudo valeu a pena.
Saíram de Portugal e em 263 dias percorreram 27 mil quilómetros. Conseguiram conhecer conhecer 37 dos 51 países que existem no continente europeu, tudo em nove meses, e com dez mil euros na carteira.
“Tentámos comunicar com uns senhores ucranianos através do Google Tradutor, e eles tinham de mudar o teclado porque até a escrita é diferente”
“Tivemos que fazer logo um apanhado do dinheiro que precisávamos, gastámos cerca de dez mil euros com a caravana, que comprámos online, e partimos com os outros dez mil”, recorda Ana Rita. “Ao longo da viagem, não podíamos comprar tudo o que queríamos, tivemos de ser muito controlados.”
Não participaram em grandes aventuras e procuravam sempre a melhor relação qualidade-preço nos supermercados. Além disso, só dormiram duas vezes fora da sua “casinha sobre rodas”, como lhe chamam.
“Uma vez, em Cracóvia, tivemos um problema mecânico com a carrinha, o que nos obrigou a ficar 10 dias sem ela”, recorda o casal. “Depois, quando quisemos visitar a ilha de Zakynthos, na Grécia, ficava mais caro viajar com a caravana de ferry, por isso optámos por deixá-la no porto e passamos mais duas noites num hotel.”
Durante os nove meses que passaram a viajar, conheceram vários pontos do continente, desde Espanha ao País de Gales, passando por países nórdicos como a Finlândia ou a Noruega ou de leste como a Ucrânia ou a Sérvia: Ana Rita e Miguel visitaram um pouco de todas as culturas. Problema: nem sempre era fácil quebrar a barreira da comunicação, e por momentos temeram não conseguir sair da Ucrânia.
“Estavamos em Uzhrood, e a autocaravana não pegava, ninguém falava inglês e ficámos em pânico”, conta Ana Rita. “Tentámos comunicar com uns ucranianos através do Google Tradutor, e eles tinham de mudar o teclado porque até a escrita é diferente (escrevem com o alfabeto cirílico). Passado alguns minutos, veio um senhor mais velho que nos pôs um parafuso na bateria da caravana, e lá conseguimos safar-nos daquela situação.”
Durante meses, ouviram avisos familiares e de amigos sobre todos os perigos de dormir num carro, ou em relação ao dinheiro que custava manter uma caravana — mas resolveram sempre todas as situações.
“Chegámos a Portugal com 8€, e a primeira coisa que fizemos foi vender logo a nossa autocaravana, porque não queríamos ficar com dinheiro empatado e esse dinheiro ia-nos possibilitar fazer outras viagens”, conta o casal.
Tendo em conta os recursos que tinham, optaram sempre por fazer campismo selvagem. Paravam onde parecia mais seguro, e aí descansavam durante a noite. As únicas preocupações que tinham, na verdade, era arranjar água, porque tinham um depósito de 100 litros que só durava mais ou menos três dias, e despejar as águas sujas. Mas até para isso arranjaram uma solução, através de um site chamado “CamperContact” conseguiam encontrar sempre as áreas de serviço mais próximas.
Budapeste, Praga, Kotor (Montenegro), Cracóvia ou Berna, na Suíça deixaram ótimas recordações, tal como a Noruega, Grécia e Escócia. Lake District, em Inglaterra, deixou-os apaixonados. No primeiro dia de 2017 viram uma pintura numa galeria que representava um lugar chamado Helvellyn. Tinha várias montanhas e um lago no meio, e o cenário parecia promissor. Pesquisaram na Internet onde era e perceberam que era perto. Resolveram fazer uma caminhada até encontrarem um sítio incrível e uma vista do outro mundo. Na Grécia, aconteceu algo semelhante.
“A praia de Navagio, em Zakynthos, Grécia, que é a praia mais bonita que já vimos e acho difícil alguma igualar”, conta Miguel. “É daqueles sítios que é ainda mais bonito do que nas fotos. Nenhuma fotografia consegue captar o que estamos a ver do miradouro com os nossos próprios olhos.”
Ao fim de nove meses voltaram a Portugal. Ao início, a ideia era estar fora durante dez meses, mas um problema de saúde de um familiar obrigou a interromper esta aventura mais cedo. Além disso, tanto Ana Rita como Miguel deixaram pendentes os cursos universitários, em Gestão-Turística e Engenharia de Energias Renováveis, respetivamente.
Apesar de terem regressado em agosto de 2017, em dezembro já estavam a partir à descoberta. Foram até Istambul, na Turquia, onde tiveram o primeiro contacto com uma cultura mais afastada do universo ocidental. Para 2018, já há planos, claro.
“Pusemos de parte algum do dinheiro da venda da autocaravana para quando tivermos possibilidade fazer uma viagem de alguns meses pelo Sudoeste Asiático, mas de mochila às costas”, diz Ana Rita. “Decidimos também comprar uma carrinha e transformá-la numa casa. Acabámos de a comprar e temos muito trabalho pela frente. Mas estamos ansiosos para ver o resultado final e começar a passear com ela. Queremos ir até Marrocos no Verão e se for possível juntar mais um ou outro país.”
Ana Rita e Miguel continuam a partilhar as suas aventuras através do blog “O Mundo no Meu Caminho — World on My Way” e nas páginas de Instagram e Facebook.
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