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A nova moda na Europa? Construir bunkers de luxo à prova de pandemias

São o sonho dos preppers, prometem uma total invulnerabilidade, mas têm um problema: custam milhões.
Não é bem uma moradia de sonho

As preocupações constantes com o colapso da sociedade começaram a atormentar um casal de reformados norte-americanos assim que leram o livro “Patriots: A Novel of Survival in the Coming Collapse”. A obra, muito popular nas franjas dos preppers — um grupo obcecado com as preparações para um eventual desastre —, retrata um país mergulhado em roubos, violações e violência. Um verdadeiro faroeste moderno.

“[O livro] abriu os meus olhos para o nível de vulnerabilidade da maioria das pessoas, caso a comida não chegue às lojas”, explica Tom à “The Verge”. Hoje, o casal vive num bunker, para onde se mudou assim que arrancou a pandemia. Estão preparados para o pior.

A sua nova casa é um paraíso para os preppers: uma enorme propriedade privada no estado do Dacota do Sul, onde estão instalados mais de 500 bunkers militares, reconvertidos em alojamentos e que podem ser transformados num refúgio de sonho.

A Vivos xPoint, a empresa que gere este negócio, nasceu para se tornar na maior comunidade de preppers do mundo. Construídos originalmente em 1942 para servirem de armazém a munições militares, foram abandonados em 1967.

O medo crescente de um apocalipse, um desastre natural ou uma guerra nuclear, aumentaram a procura por este tipo de refúgios. Por isso, a empresa decidiu avançar, comprou o terreno e lançou o negócio que cobra 20 mil euros de entrada para reservar um destes bunkers. Depois, é preciso pagar 830€ anuais por um aluguer com 99 anos de duração.

Capazes de resistir a uma explosão até 220 quilos de força, têm oito metros de altura e a largura varia entre os 18 e os 24 metros. Os interiores, esses estão vazios, mas podem ser personalizados com poucos ou muitos luxos. Tudo depende do preço que cada um está disposto a pagar.

Podem receber entre 10 a 20 pessoas e incluem mantimentos para um ano de isolamento. A água é recolhida de um poço natural, reservado num tanque protegido e depois distribuída pelos bunkers. No interior, podem ser colocados painéis LED que replicam as vistas de uma janela, tudo para aliviar o sentimento de isolamento.

Um dos bunkers já mobilados

A vida não tem que ser feita toda dentro do bunker. A comunidade tem uma mercearia, uma clínica médica, um campo de tiro e um spa. Para garantir uma proteção extra aos moradores, a empresa garante vigilância 24 horas por guardas com treino militar.

Esta foi a primeira comunidade da Vivos, que também já chegou à Europa, mais concretamente a Rothenstein, na Alemanha. Neste caso, trata-se de um complexo ligeiramente diferente, totalmente construído debaixo de terra — com ênfase no luxo. Instalado debaixo de uma montanha, num refúgio construído pela União Soviética durante a Guerra Fria, o Vivos Europa One promete proteger os habitantes de um impacto nuclear, ataques químicos e biológicos, terramotos, quedas de aviões, cheias e qualquer tipo de ataque.

Com mais de 23 mil metros quadrados, todo o refúgio assenta num emaranhado de túneis subterrâneos, onde foram criados apartamentos para acolher as famílias que ali se queiram proteger. É, na descrição dos próprios, uma espécie de Arca de Noé.

Cada apartamento terá 232 metros quadrados, mas existe a opção de criar um duplex com o dobro da área. Contrariamente aos bunkers no Dacota do Sul, estes serão decorados com acabamentos de luxo “semelhantes a um iate”. E podem ser apetrechados com piscinas, cinemas, ginásios, cozinhas, bares, mais quartos e casas de banho de luxo. O preço de um destes apartamentos? Dois milhões de euros.

A procura por este tipo de produtos disparou durante a pandemia. O casal norte-americano, o primeiro a habitar um bunker da Vivos, é o exemplo prático dos efeitos do medo de um desastre natural. “Percebemos que se entrássemos em colapso total da sociedade, estaríamos altamente vulneráveis na nossa casa nos subúrbios de Atlanta”, explica.

Sobre o seu bunker, o casal diz que é um paraíso. “Quando chegámos aqui, pensámos imediatamente: conseguimos. Foi um sentimento imediato de alívio.”

“As pessoas vão tornar-se predadores”, explica Robert Vicino, o homem forte da Vivos, sobre um eventual colapso. “Os que nada têm irão atrás dos que têm.”

A pandemia parece ter sido uma bênção para o negócio. Sem lucros durante anos a fio, a Vivos conseguiu finalmente fazer o dinheiro entrar. No pico da pandemia, vendia-se um bunker por dia. Num dia, chegou a fazer mais de um milhão de euros. “O meu objetivo não é ficar rico com isto. Eu já era rico”, conclui.

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