Quando foi inaugurada, em 1928, ninguém imaginou que, anos depois, seria deixada ao abandono. A estação ferroviária de Canfranc, na comunidade autónoma de Aragão, em Espanha, foi, nos seus tempos áureos, uma das mais importantes estações de comboio do mundo — e uma das mais bonitas também.
Com as montanhas dos Pirenéus como pano de fundo, era conhecida na altura como o “Titanic das Montanhas” devido à sua dimensão. O evento de inauguração contou com a presença do então rei de Espanha, Alfonso XIII, e do Presidente da República Francesa, Gaston Doumergue. Só por isso se percebia a importância daquela estação.
A forte ligação de Canfranc com a França é evidente na sua arquitetura, com um estilo que lembra as estações francesas do século XIX. Projetado pelo arquiteto Fernando Ramírez Dampierre, apresenta elementos característicos desse períodos, como os telhados de ardósia ou uma grande cúpula central.
Esta catedral de betão, aço e vidro era, na época, a segunda maior estação ferroviária da Europa, com os seus três andares, 240 metros de comprimento e 156 portas. Declarada Sítio de Interesse Cultural em 2002, o local, que serviu como uma das principais ligações entre França e Espanha, foi protagonista de importantes acontecimentos históricos, especialmente durante a Segunda Guerra Mundial.
Antes da ocupação de Canfranc pelos nazis, foi naquele edifício que vários judeus — entre eles os pintores Max Ernst e Marc Chagall — escaparam dos soldados alemães em direção a Lisboa, antes de seguirem para os EUA. Mesmo depois da ocupação nazis, a linha continuou a funcionar normalmente durante mais 20 anos e até chegou a servir de cenário para as gravações do filme “Doutor Jivago”, em 1965. Cinco anos depois, contudo, a estação fechou as suas portas.
O encerramento deveu-se ao descarrilamento de uma locomotiva a vapor, que acabou por saltar dos carris e destruiu por completo uma ponte do lado francês da fronteira. O governo de França decidiu não recuperar os estragos, o que levou ao fim do emblemático edifício com 240 metros de comprimento — pelo menos, enquanto estação.
O local ficou abandonado desde então e tornou-se um verdadeiro sonho para os urban explorers, isto é, pessoas que gostam de visitar espaços que ficaram esquecidos no tempo. Já ninguém tinha grandes esperanças na sua recuperação, depois de várias décadas deixada ao abandono, até que o governo regional de Aragão decidiu comprá-la, em 2013. Foi o início de um novo capítulo.
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Juntamente com o grupo Barceló, a terceira maior cadeira hoteleira de Espanha, conseguiram transformar o emblemático espaço num luxuoso hotel, projetado pelos arquitetos Joaquín Magrazó e Fernando Used.
O Canfranc Estación, a Royal Hideaway Hotel – Gran Lujo abriu em janeiro de 2023 e, desde então, já recebeu vários prémios, como o National Geographic Awards 2024, na categoria de “Melhor Hotel em Ambiente Natural de Espanha”.
Agora, a unidade hoteleira está também nomeada para os Condé Nast Traveler Spain Awards 2025, na categoria de “Melhor Hotel de Neve”. O cinco estrelas, único do género em Aragão, encanta os hóspedes com a sua combinação única de tradição e modernidade, além da localização privilegiada nos Pirinéus.
O projeto de reabilitação manteve o ADN do edifício e os seus traços característicos, oferecendo uma experiência onde “o luxo contemporâneo assume um novo significado”. Cada um dos 104 quartos está decorado com uma palete de cores inspirada na década de 1920 e com elementos Art Déco.
As quatro suites ganharam o nome de figuras importantes do passado da estação, como Albert Le Lay, chefe da alfândega durante a guerra, que fingiu colaborar com os nazis. O homem permitiu que centenas de refugiados fugissem do regime de Hitler, cruzando a fronteira para Espanha.
Os três restaurantes do Canfranc Estación — um deles com estrela Michelin, liderado pelo chef Eduardo Salanova — convidam os hóspedes a descobrir o melhor da cozinha aragonesa e internacional. O Expresso Canfranc, por exemplo, destaca-se por estar localizado dentro de uma antiga carroça do início do século XX.
Já o 1928 nasceu numa antiga carruagem de comboio renovada e serve pratos franceses. A oferta gastronómica inclui ainda um café e um bar de cocktails exclusivos que fica dentro de uma biblioteca. No inverno, quando a paisagem se cobre com um manto branco de neve, os hóspedes costumam aproveitar para fazer esqui nas redondezas.
A área de bem-estar é outro dos ex-libris da unidade hoteleira, já que inclui toda uma zona aquática, com piscina com água aquecida e salas onde é possível fazer massagens terapêuticas.
Os preços da estadia começam nos 215€ por noite, consoante a tipologia dos quartos. As reservas podem ser feitas online.
Como lá chegar
O aeroporto mais próximo de Aragão é o de Saragoça, que fica a cerca de 37 quilómetros de distância. Ao chegar pode apanhar um comboio que leva cerca de quatro horas a chegar ao destino.
Se partir de Lisboa, encontra bilhetes de ida e volta para Saragoça desde 174€. Caso apanhe o avião no Porto ou em Faro, há voos a partir de 205€ e 168€, respetivamente.
Carregue na galeria para conhecer melhor o hotel que em tempos foi uma estação de comboios.