Não são boas notícias: é apenas um caso para já, o que à distância e estando Portugal na crise pandémica sem precedentes que vivemos, parece, ainda assim, quase um sonho. Só que é um caso que pode acarretar transmissão comunitária, meses depois do último. E para agravar, parece ser da variante sul-africana do vírus — potencialmente mais perigosa e transmissível do que até a inglesa e que também já anda por Portugal.
Mas é da Nova Zelândia que se fala agora: o país longínquo onde tudo parecia ter passado, sobre cujo caso de sucesso a NiT ainda a semana passada escreveu — um retrato de dias passados sem máscaras, em esplanadas e concertos — faz notícia esta segunda-feira em todo o mundo por voltar a ter um caso do novo coronavírus, mais de dois meses após o último — uma situação que nem a aparente normalidade, os aglomerados e os regressos a abraços pareciam mudar.
O país acabou de registar o seu primeiro caso positivo fora de instalações de quarentena desde 18 de novembro do ano passado, depois de uma mulher de 56 anos, que recentemente voltou da Europa, ter acusado positivo num teste. Segundo vários meios locais, tal como é obrigatório e acontece a todos os viajantes, a mulher em causa passou 14 dias em quarentena e deu negativo duas vezes — uma ao chegar ao seu país e outra a meio deste período — antes de voltar para sua casa, a 13 de janeiro.
No entanto, ela começou a desenvolver sintomas posteriormente; e apesar de governo local já ter afiançado que não há provas de que o vírus se esteja a espalhar na comunidade, a “Forbes” cita um membro do governo a afirmar que é provável que ela o tenha apanhado nas instalações do hotel onde cumpriu a quarentena.
De acordo com esta revista, há ainda indícios de que a mulher tenha a variante sul-africana do vírus — a tal mais agressiva — e, como tem sido seu apanágio, as autoridades locais não pretendem arriscar: pelo menos 15 dos contactos próximos da mulher foram identificados e contactados e os familiares mais próximos já testaram negativo. Já a Austrália, por causa deste único caso, decidiu interromper temporariamente a bolha de viagens sem quarentena com o arquipélago.
Segundo o “The Guardian“, por ter sido mais tarde, já depois de estar em comunidade, que ela desenvolveu os sintomas e teve um teste positivo, há preocupações de que pode ter espalhado sem saber para outras pessoas em Northland e Whangarei. Este meio adianta que a mulher deixou a quarentena do hotel a 13 de janeiro e viajou para casa na região de Northland; começou a desenvolver sintomas leves a 15 de janeiro e eles pioraram progressivamente; foi testada a 22 de janeiro e só então ficou auto-isolada em casa.
O diretor geral de Saúde local já pediu mesmo a todas as pessoas que visitaram um de 30 locais identificados pelas autoridades ou que apresente sintomas que façam o teste; já foram criados postos.
A Nova Zelândia foi um dos países mais bem sucedidos do mundo no combate à Covid-19: com uma população de cerca de cinco milhões, teve pouco mais de 2.200 casos de coronavírus, dos quais apenas 25 pessoas morreram, devido a uma ação sempre firme e imediata.
A NiT já lhe explicou como tudo aconteceu: foi a 2 de fevereiro que morreu, nas Filipinas, a primeira vítima de Covid-19 fora da China e no dia seguinte a Nova Zelândia já iniciava restrições. O país esteve entre os primeiros a conseguir domar a pandemia e em maio já parecia ter a situação controlada. Ainda voltaria a registar casos mas nunca mais perdeu o rumo e o facto de ter agido cedo e em força ajudou.
A 25 de março, com apenas 102 casos confirmados, a Nova Zelândia assumiu um confinamento severo, restrições brutais a voos de fora e todas as medidas de distanciamento social que hoje conhecemos. O facto de ser um arquipélago foi uma ajuda na hora de travar o contágio: o país colocou-se em alerta máximo cedo, nunca desvalorizando o problema.
Os resultados estão à vista e não é apenas no mercado de emprego, já quase em níveis pré-pandemia. No passado sábado, dia 16 de janeiro, perto de 20 mil pessoas juntavam-se em Waitangi para um concerto. Foi o primeiro de seis concertos na tour de verão dos Six60. A banda neo-zelandesa subiu ao palco e milhares de pessoas dançaram sem distanciamento social.
Em setembro, a economia já recuperava, assinalando um crescimento de 14 por cento. No entretanto, a vacina também está a caminho: a urgência que têm não é a mesma do que no resto do mundo, mas a partir de abril já começarão a vacinar a população.