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Afinal, voar de balão de ar quente na Capadócia é mesmo a melhor experiência do mundo?

Uma repórter da NiT foi assistir ao nascer do sol a centenas de metros de altura, num cenário tão peculiar como instagramável.
É mágico.

Ainda estava bem escuro quando cheguei a um vasto descampado em Goreme, na Capadócia, onde dezenas de balões se preparavam para descolar. Faltavam poucos minutos para as seis da manhã, e todos se encontravam estendidos no solo, mas rapidamente começaram a ganhar vida.

A luz que mais brilhava no crepúsculo era a chama que saía do maçarico, mas, em poucos minutos, seria o sol a iluminar o nosso caminho. Afinal, esse é o grande propósito desta experiência que muitos consideram “uma das melhores de sempre”: assistir ao “nascer do sol nas alturas” (entre 600 a 1.200 metros).

O primeiro impacto surgiu assim que saí do transfer, que me foi buscar ao recentemente inaugurado Barceló Capadócia. Com base nas fotografias que tinha visto na Internet, imaginava que os balões fossem mais pequenos, com capacidade para um máximo de dez pessoas.

O que se revelava à minha frente era, no entanto, algo completamente diferente; era um verdadeiro gigante, tão imponente que até me custava olhar para cima. O tamanho, de facto intimidante, também me trouxe alguma tranquilidade. Pensei: não será fácil derrubar uma estrutura daquela envergadura. 

No início, fiquei confusa, mas logo descobri que a entrada para o cesto se fazia através de pequena uma escada. Não havia porta mágica! O cesto do balão, onde estávamos em pé, dividia-se em oito compartimentos, que acomodavam entre duas a quatro pessoas cada, embora estivéssemos um pouco apertados.

Não demorou muito até perceber que a sensação era completamente distinta, a ponto de me esquecer que estava a centenas de metros de altitude. A subida não era abrupta, como se de uma montanha-russa se tratasse, mas sim um movimento suave e ponderado.

Ao nosso lado, outros balões também subiam, desenhando a imagem icónica que frequentemente vemos nas redes sociais. Não os contei, mas pareciam ser centenas. Este cenário é o habitual praticamente todas as manhãs na Capadócia (quando as condições meteorológicas o permitem), mas nem sempre foi assim.

O primeiro voo de balão de ar quente registado nesta região da Turquia ocorreu no final do século XVIII, enquanto a área ainda estava sob domínio do Império Otomano. Após a invenção do balão em 1783, pelos franceses Jean-François Pilâtre de Rozier e François Laurent d’Arlandes, um grupo de oficiais otomanos, inspirados por esta conquista inovadora, decidiu trazer essa “nova tecnologia” para a Capadócia. O objetivo inicial era utilizá-la para reconhecimento militar, sem prever que se tornaria a origem de uma das experiências mais procuradas mundialmente.

O que alterou para sempre a história da região foi a competição de balonistas profissionais que ocorreu em 1991. Após aquele espetáculo visual, muitos operadores turísticos reconheceram o potencial de oferecer uma experiência que possibilita admirar a paisagem e as formações rochosas sob uma perspetiva aérea. O primeiro voo comercial com passageiros teve lugar nesse mesmo ano e, desde então, não houve regresso. E ainda bem que assim foi; de outra forma, nunca teria vivido uma das melhores experiências da minha vida.

No início, a vista do alto não era particularmente deslumbrante: apenas um descampado plano, de onde partem estes “veículos” aéreos. Depois, começaram a surgir turistas em terra, que faziam poses ao lado de cavalos e carros clássicos. Nem sequer sabia que isso se tinha tornado uma tendência, mas trata-se aparentemente de um negócio lucrativo: pagam para serem fotografados com os balões como pano de fundo.

Um exemplo.

Já por volta das seis da manhã, o sol começou a nascer, criando um ambiente ainda mais mágico e especial. Disseram-me que sentiria frio lá em cima, mas a verdade é que não tive essa sensação, mesmo tendo apenas um casaco leve sobre uma T-shirt. O calor da chama do maçarico, quando se ativava, acabava por me aquecer. Ou talvez estivesse tão fascinada com todo o cenário que me esquecia do frio.

Gradualmente, começámos a vislumbrar os célebres vales da Capadócia, com as suas formações rochosas singulares, resultantes de processos geológicos e climáticos acumulados ao longo de milhões de anos. Mais do que os passeios de balão, estas grandiosas colunas rochosas são a principal razão para visitar Goreme.

Após algum tempo a contemplar a vista, chegou o momento de aterrarmos. Assim como a ascensão, a descida foi tão suave que mal percebi a chegada ao solo. O mais complicado foi realmente sair, pois já não havia escadas disponíveis. A solução passava por uma pequena escalada.

Os balões começaram a descer quase todos em simultâneo, e o instante em que começaram a ser esvaziados foi verdadeiramente melancólico. De repente, dezenas de balões jaziam estendidos no solo, quase como num cemitério.

No final, graças à empresa que possibilitou esta aventura, a Kapadokya Kayak Balloons, celebrámos a aterragem segura com um brinde de champanhe (sem álcool, pois eram sete da manhã). Apesar de a maioria dos passeios decorrer sem acidentes, ocasionalmente, o desfecho não é assim tão feliz.

Ainda recentemente, no verão passado, um balão, com 20 turistas e dois pilotos, colidiu contra rochas após uma forte rajada de vento. Felizmente, ninguém ficou ferido, ao contrário do acontecimento de 2013, quando um balão chocou com outro, resultando em três mortos e 20 feridos.

Na Capadócia, este tipo de acidentes é bastante raro, pois as autoridades locais implementaram medidas rigorosas para aumentar a segurança e minimizar os riscos associados. Por esse motivo, as empresas informam sempre que os voos podem ser cancelados no próprio dia devido às condições atmosféricas.

Portanto, sim, é importante celebrarmos quando finalmente voltamos a tocar o chão. Mesmo que o champanhe não contenha álcool. Antes de regressar ao hotel, todos os participantes receberam um certificado que atesta o passeio de balão. 

O voo com a Kapadokya Kayak Balloons custa 369€ por pessoa, embora existam várias empresas que disponibilizam passeios por valores inferiores, em torno dos 200€.

Como lá chegar

Alguns optam por viajar de autocarro ou comboio até à Capadócia, a partir de Istambul, mas as dez horas de viagem não são muito confortáveis. Assim, a melhor opção é apanhar um avião. O voo de Istambul à Capadócia leva pouco mais de uma hora, e os preços de ida e volta rondam os 130€. 

Para chegar a Istambul, de Lisboa, encontra bilhetes de ida e volta desde 172€. Caso apanhe o avião no Porto ou em Faro, há voos a partir de 175€ e 209€, respetivamente.

Carregue na galeria para ver algumas fotografias dos balões de ar quente na Capadócia.

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