Viagens

Andaram pela América do Sul de mochila às costas e apanharam um valente susto no Peru

Agora, Marta e Rafaela contam toda a experiência no TikTok. Mas não se engane: a viagem teve muitos pontos positivos.
Estiveram em viagem entre 30 de dezembro e 21 de fevereiro.

Rafaela Neves, de 25 anos, e Marta Dias Coelho, de 28, conheceram-se há cerca de dois anos através de “amigos de amigos”. Uma das primeiras viagens que fizeram juntas foi a Mykonos. Passaram alguns dias na ilha grega, andaram de barco, mota e conheceram muitos dos spots obrigatórios deste destino de sonho. Porém, a estadia foi curta. Quando planearam a aventura seguinte de ambas, optaram por algo em grande — partiram de mochila às costas para a América do Sul. Entre 30 de dezembro e 21 de fevereiro viveram a experiência das suas vidas, com alguns perigos pelo meio.

A ideia foi de Rafaela. “Já tinha dito à Marta que gostava de visitar a América do Sul. Um dia estava a ouvir um podcast sobre uma rapariga que decidiu que o trabalho que tinha não valia a pena porque o que recebia não era o suficiente para comprar, por exemplo, uma casa para si própria. Decidiu juntar as coisas mais importantes e foi viajar. Ouvi isto e pensei que era aquilo que queria fazer”, conta à NiT. Começou a delinear o plano em março de 2022.

Marta trabalha como freelancer em produção de vídeo e, no início, mostrou-se muito reticente. “Foi mais por causa da gestão emocional. Sabia que ia passar dois meses fora sem estar com clientes, e isso preocupava-me”, recorda. Já Rafaela trabalha nem intervenção social, estando atualmente na área da consultoria de responsabilidade social. “Decidi que era altura de fazer uma pausa porque nunca tinha tirado umas férias muito longas. Pegámos no dinheiro que tínhamos de parte e fomos“, recorda.

O roteiro com apenas bilhete de ida começou na Colômbia, o destino mais barato. Desembarcaram a 30 de dezembro e, no dia seguinte, estavam a celebrar a Passagem de Ano — mas não da forma que esperavam. “Lá não celebram como aqui. Foi apenas duas horas antes da meia-noite que percebemos que não ia haver nenhuma grande festa nem fogo de artifício”, dizem. A experiência, contudo, não foi menos mágica. Sem pirotecnia, as pessoas divertiam-se na rua com a sua própria música. “Havia muita animação”.

Durante a passagem por aquele país, conheceram a Amazónia colombiana. “Quando estávamos lá fizemos uma viagem de barco que encontrámos durante um passeio por mero acaso, porque na internet a informação que havia sobre aquele sítio estava um pouco desatualizada”, recorda. Acabou por se tornar num dos destaques da aventura para Rafaela. “Foi lá que conhecemos o Marian, um youtuber romeno na casa dos 40 anos que viaja completamente sozinho. Foi o nosso companheiro quando estávamos na Amazónia. Foi muito giro porque éramos duas portuguesas com um romeno, e ele vive disto”, aponta. Daquele destino destaca ainda Cartagena e Medelín, conhecida como a “cidade da eterna primavera”.

Os conflitos no Peru

“Estávamos na Colômbia a decidir se íamos entrar no Peru ou não. Graças às notícias que saíam diariamente sobre os conflitos, íamos vendo os updates para decidir se fazia sentido”, começam por contar. Rafaela não fazia questão de arriscar, porque sabia que as condições não eram as mais estáveis. Marta, porém, é “mais teimosa” e quis avançar porque estava em cima do acontecimento e sentia que era a altura ideal para partirem.

A 14 de janeiro apanharam um avião até Lima e, assim que aterraram, viram alguns protestos pacíficos. “Conversámos com pessoas desde jornalistas a guias turísticos e todos nos diziam para não irmos para Cusco, porque era um dos sítios mais críticos devido aos conflitos”. Infelizmente, já tinham os voos comprados e, desta vez, foi Rafaela que decidiu tentar a sua sorte.

“Quando desembarcámos sentimos um ambiente pesado, a cidade estava completamente vazia e havia muito reforço policial. Na verdade, o hostel [optaram por esta forma de alojamento ao longo da viagem] só abriu porque nós fomos lá, porque todos os outros locais estavam fechados. Disseram-nos que 98 por cento das reservas tinham sido canceladas.”

Os conflitos peruanos mostravam ser um problema, sim. Porém, foi a própria viagem de avião que as deixou de cama durante dois dias. “Não nos demos bem com a altitude”, brincam. Felizmente, tiveram oportunidade de subir até Macchu Picchu, “que estava constantemente a fechar e a abrir.” Era um local que ambas queriam visitar há muito tempo, daí terem partido para Cusco. “Acabámos por ter o privilégio de o conhecer com apenas seis outras pessoas”, recordam.

Depois de passearem pela antiga cidadela inca, decidiram que era altura de partirem e compraram voo para dois dias depois, 19 de janeiro. No dia anterior ao embarque, contudo, ouviram rumores de que iria haver um “páro nacional”. Ninguém ia trabalhar e todos iam para a capital em protesto político. “Aconselharam-nos a estarmos alertas porque o nosso voo era nesse dia”, contam.

@martadiascoelho

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Iam embarcar às 17 horas, mas chegaram ao aeroporto pelas 11, para terem a certeza de que as deixavam entrar. “Fizemos check in, demos as malas para irem para o porão e 20 minutos depois de nos termos sentado ouvimos um aviso e vimos pessoas a evacuar. Só percebemos o que se estava a passar quando nos disseram que tínhamos de sair porque o aeroporto estava a ser invadido por manifestantes e a nossa segurança não estava garantida”, revelam.

Decidiram que o melhor era regressarem para o hostel. Negociaram com uma família que ia para o centro da cidade e partilharam um táxi. Durante o caminho passaram por uma rua cheia de manifestantes, que prontamente ameaçaram o condutor. “Disseram que se o carro não saísse daquela rua, iam-nos atirar pedras.” Tiveram de ir por outro caminho mas, felizmente, lá chegaram ao alojamento.

“No dia seguinte, a 20 de janeiro, o aeroporto reabriu e partimos para a Bolívia.” Se no dia anterior estavam no meio dos protestos, rapidamente se viram em La Paz, a capital boliviana. “Superou as nossas expectativas. Também tivemos sorte porque a 22 de janeiro celebra-se o Dia Nacional bolivariano, e havia muita gente na rua a celebrar. Foi interessante ver as diferentes culturas e povos reunidos na capital. Foi dos sítios que mais gostámos”, confessam.

A viagem de Marta e Rafaela também incluiu uma passagem pela Argentina. Como seria de esperar, passaram por Buenos Aires e, sem estarem à espera, ficaram rendidas à cidade. “Não esperava que fosse algo de especial, mas sentia-me muito segura e havia muitas coisas para fazer. Ficámos lá dez dias e não chegou”, diz Rafaela. Marta concorda: “Deve ser um bom sítio para se viver por uns tempos e trabalhar, porque é muito cultural, jovem e moderna”. A rota pela América do Sul terminou no Brasil, onde passaram pelo famoso Rio de Janeiro. “Tenho família lá e sempre que lá vou sinto-me em casa”, diz Marta.

Agora que já estão em Portugal, têm partilhado no TikTok as suas aventuras pelo continente americano. São dois meses de episódios caricatos, divertidos e, por vezes, assustadores, o que lhes está a consumir muito tempo no que diz respeito à edição. Mesmo assim, garantem que nada ficará de fora (até os protestos no Peru vão ser incluídos).

Aquilo que viveram fez com que se tornassem pessoas diferentes. Para Marta, o regresso ao dia a dia “está a ser chocante”. “Estive muito tempo sem férias e ter esta pausa fez-me fazer uma retrospetiva da minha vida profissional e pessoal. Está a ser difícil assimilar todas estas emoções e encarar este processo de voltar, estar com as mesmas pessoas, fazer o mesmo trabalho”.

Já para Rafaela, a grande diferença é o acrescendo sociocultural com que voltou. “Trabalho com migrações e interessam-me muito as causas sociais. Foi muito enriquecedor ir à América do Sul e perceber um pouco mais sobre a história das pessoas que moram nos diferentes locais”, conclui.

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