Viagens

André trocou a Monkey por uma moto mítica — e prepara-se para mais uma volta ao mundo

O piloto embarca numa nova aventura a 27 de janeiro, data de lançamento do livro onde conta a aventura dos últimos três anos.
Está quase de partida.

Aos 14 anos, André Sousa, mais conhecido como “Ride That Monkey”, já era piloto profissional de velocidade. Sempre foi apaixonado por motos (e por aventura), mas não imaginava que, aos 28 anos, iria tornar-se na primeira pessoa a dar a volta ao mundo de minimoto. Um desafio de mil dias e 80 mil quilómetros.

Quando partiu de Avis, no Alentejo, a 12 de julho de 2020, com a sua Honda Monkey 125 com nove cavalos e 70 centímetros de altura, estava longe de imaginar as peripécias que iria viver nos próximos três anos. Aconteceu-lhe de tudo um pouco: foi preso no México, raptado no Nepal, sofreu um acidente de viação grave na Califórnia e viveu o terramoto na Turquia que transformou prédios em pilhas de escombros, destruiu estradas e matou mais de 1.500 pessoas. Nunca pensou desistir do objetivo que se propôs a cumprir — “nem por um segundo, sequer”.

Viveu “os piores e os melhores dias” da sua vida, resumiu À NiT. Quando faz o balanço da epopeia que o levou a conhecer 54 países, as boas recordações e as pessoas que conheceu ao longo do caminho superam, de longe, os maus momentos. A experiência foi de tal forma positiva que André já se prepara para uma segunda dose. Vai dar outra volta ao mundo — e com outra moto.

“O que me faz continuar é olhar para todas as pessoas que consegui inspirar com esta aventura. A minha viagem baseia-se na inspiração, quis provar que, mesmo com uma moto mais pequena, é possível dar a volta ao mundo. Agora, será um desafio diferente”, conta. 

Após atravessar todos os continentes numa volta de 360 graus, agora o objetivo é “fazer a latitude máxima possível no globo”, aos comandos da Honda African Twin 1100, um “veículo mítico”, já habituado a grandes aventuras.

“A Honda Portugal, que é minha patrocinadora, deu-me a sugestão de pedir aos meus seguidores a moto que queriam que levasse para a próxima viagem”, explica. Após mais de 20 mil votos na sondagem, a African Twin ganhou à Monkey com 74 por cento dos votos. A escolha estava feita.

Na próxima aventura, vai conduzir um veículo “mais fácil, mais confortável e mais rápido”, com cilindrada de 1.100 centímetros cúbicos, ao contrário dos 125 a que estava habituado. “Acho que os meus seguidores queriam dar-me mais conforto. Com esta já posso andar no meio das serras e das montanhas, mas pesa 300 quilos. Nem chego com os pés ao chão”, confessa o jovem. 

Do Polo Sul ao Polo Norte, é essa a nova missão de André Sousa. Nesta primeira etapa, que começa no dia 27 de janeiro, o objetivo do piloto é partir de Ushuaia, na Argentina, e chegar ao Alasca. Ao longo de 50 mil quilómetros, vai atravessar 16 países, numa aventura que deverá demorar mais de um ano.

 
 
 
 
 
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“Depois vou fazer um continente de cada vez, mas já sei que não vale a pena fazer grandes planos. Gostava que o próximo fosse a Austrália, mas vai depender de muita coisa, é sempre algo provisório”, adianta. 

André Sousa partirá de Barcelos no próximo sábado, 27 de janeiro. Antes disso, haverá uma pequena despedida no Monumento ao Motociclista, com comida, bebida, música ao vivo e muita animação.

No final, quem quiser poderá acompanhá-lo no percurso de cerca de 75 quilómetros até à fronteira com Espanha. O jovem continuará a viagem até Londres, onde irá despachar a moto para o Chile. Quando reencontrar a sua African Twin, conduzirá até ao ponto mais sul da Argentina, dando início a mais uma volta ao mundo.

O livro sobre as aventuras que viveu

O dia em que partirá para a nova aventura também será o lançamento do livro onde conta todas as peripécias vividas em 54 países, ao longo de 80 mil quilómetros e mil dias.

Com pouco menos de 200 páginas, é um “testemunho inspirador de um certo espírito de aventura tipicamente português, onde perseverança e desembaraço perante os maiores obstáculos são virtudes fundamentais”, pode ler-se na sinopse. É, no fundo, “um livro feito de superação e humor que nos recorda a importância de sorrir e acreditar, sobretudo naqueles momentos em que tudo parece estar contra nós”.

Quando André partiu de Avis, no Alentejo, já tinha a ideia de, eventualmente, escrever um livro de memórias quando regressasse a Portugal. “Se no final do dia já não tivesse tempo para escrever, gravava um áudio com tudo o que tinha acontecido”, relembra o piloto.

O livro já está venda por 16,90€.

No livro, dividido em sete capítulos (Europa, América do Norte, América Central, América do Sul, Oceânia, Ásia, África), revela o motivo porqu foi preso no México, bem como os diferentes desafios que enfrentou ao longo da sua jornada. Como o acidente que teve no Deserto de Mojave, após ter percorrido mais de 10 mil quilómetros ao longo de 21 estados norte-americanos.

André foi abalroado por camião, sofreu várias lesões e esteve dois meses internado, com cinco vértebras lombares e três cervicais lesionadas. O livro conta como, mesmo depois do “sonho americano que quase lhe tirou a vida”, seguiu viagem e encontrou pessoas incríveis como Carl, o dono da maior revista americana de aventuras, que lhe ofereceu uma tenda de 500€, que passou a fazer parte da sua bagagem.

Já no México, recorda o dia em que foi preso em Sinaloa. “Quando a grade se fechou atrás de mim, olhei para aqueles que seriam os meus companheiros de cela nas próximas horas. Eram oito, entre quatro paredes cinzentas, cor de betume, num cubículo que não devia ter mais do que 15 metros quadrados”, lê-se. Tudo isto porque lhe tentaram roubar a mochila, onde guardava o documento mais precioso que tinha: a carta de condução. 

André recorda ainda o dia em que regressou a um lugar que tinha conhecido na sua viagem pela América do Sul, em 2018: uma das antigas casas de Pablo Escobar, cuja localização tinha-lhe sido enviada por um conhecido colombiano. Nessa altura, conheceu o dono da propriedade e bebeu umas cervejas com ele. Em conversa, descobriu que tinha sido o mordomo do narcotraficante e o último chefe de segurança daquela região. O momento foi tão insólito que quis voltar a visitá-los, mas não correu como esperava: quando chegou à entrada, foi parado e disseram-lhe que tinham retirado a propriedade ao antigo dono por narcoturismo. 

Ainda assim, o piloto tentou que o deixassem ficar lá a dormir. Afinal, tinha ido lá de propósito. Depois de muito insistir (e de lhes entregar 100 mil pesos, a maior nota colombiana), lá conseguiu — e ainda teve direito a pequeno-almoço.

Em Timor, conheceu o presidente, José Ramos Horta, um dos momentos que mais se destacou na viagem. Dormiu em casa do assessor do presidente, o Nélson e a sua mulher, que era portuguesa, e organizou um jantar com vários ministros e o embaixador da Indonésia, o seu próximo destino.

No Nepal, viveu um dos momentos mais assustadores dos três anos: foi raptado. Num dia em que a França jogava para o Mundial, foi com um amigo francês beber umas cervejas a um bar. Depois, só se lembra de acordar num carro com uma miúda a dormir no ombro dele. Tinham passado cinco horas e não se lembrava de nada, nem sabia há quanto tempo andavam numa estrada de terra, no meio da montanha. 

Quando, finalmente, lhe abriram a porta, saiu do carro, ainda atordoado, e viu seis homens à sua frente, no meio do mato. O primeiro instinto foi começar a correr pela montanha abaixo, enquanto eles lhe atiravam pedras. Escondeu-se num minimercado, mas foi encontrado pouco depois. 

Levaram-no para o meio das montanhas dos Himalaias e espancaram-no, deram-lhe com os capacetes e abriram-lhe a cabeça em três sítios. De repente, começaram a fugir e abandonaram-lhe no meio do nada, “a sangrar que nem um animal”. Já sozinho, conseguiu levantar-se e ir até à estrada para tentar arranjar alguém que o levasse até ao hospital. 

Esteve em várias situações de vida ou morte, mas nenhuma o marcou tanto como “o pesadelo turco e o mais trágico dos imprevistos” que viveu. Estava num hotel em Gaziantep quando aconteceu o terramoto, cujo epicentro foi precisamente onde estava. Lembra-se de acordar por volta das 4h15, assustado, com tudo a cair à volta.

No dia seguinte, o cenário era desolador. “Ninguém sabia quem tinha morrido nem quem tinha sobrevivido, mas, na altura, diziam já que 80 por cento da população não estaria viva. Segui viagem com o coração apertado. Para sempre”.

Pode descobrir mais sobre estas e outras aventuras no livro “A Volta Ao Mundo de Minimoto”, editado pela LeYa | Oficina do Livro, está à venda por 16,90€.

Carregue na galeria e descubra alguns dos sítios por onde André Sousa passou.

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