Em outubro de 2022, Andreia e Eneas (ambos com 35 anos) decidiram largar tudo e partir “à caça de gambozinos”. A portuguesa e o espanhol rumaram à Ásia e resolveram partilhar as suas aventuras num site a que chamaram, precisamente, “Chasing Gambozinos”.
Afinal, ambos estavam familiarizados com a famosa missão que muitos pais costumam atribuir aos filhos pequenos quando querem um pouco de sossego. Um desafio impossível, já que estes seres não existem. A expressão tem outro significado: uma busca sem fim — e exatamente como ambos descrevem o que mais gostam de fazer, viajar.
Andreia e Eneas conheceram-se há cerca de oito anos, em Barcelona. Ela, “fã discreta de filmes de terror” e “foodie em part-time”, trabalhava na área da hotelaria no nosso País. Quando foi promovida recebeu uma proposta para se mudar para Espanha, terra natal de Eneas, um “motorista com carta de condução de tuk tuk” e um “defensor de que tudo fica bem com atum”.
Inicialmente apenas colegas de trabalho, apaixonaram-se e começaram a construir uma vida juntos e a viajar pela Europa sempre que tinham algum tempo livre. Chegaram a viver em Sevilha e Amesterdão durante alguns anos, e foi nos Países Baixos que decidiram que a próxima casa seria a Ásia. Pelo menos durante um ano — era o gap year que não tiveram a oportunidade de fazer quando eram mais novos.
“Os anos da pandemia fizeram-nos pensar um bocadinho e colocar os nossos objetivos em perspetiva. Estávamos os dois em trabalhos corporativos, tínhamos uma vida confortável, uma casa alugada no centro da cidade, mas não nos víamos lá para sempre”, começam por contar à NiT.
Tanto Andreia como Eneas começaram a trabalhar logo após terminarem os estudos. Nunca tiveram tempo “para se descobrirem enquanto viajam pelo mundo”, embora tivessem gostado de o fazer. Então, antes que fosse tarde demais, decidiram arriscar. “Foi, literalmente, fechar os olhos e arrancar”, explicam.
Despediram-se dos empregos e, em outubro de 2022, arrancaram para a aventura com a qual tanto sonharam. Com bilhetes apenas de ida e mochilas às costas, embarcaram num avião para a Tailândia, o primeiro destino de muitos que iriam visitar nesta viagem pela Ásia, um continente que já conheciam e pelo qual se apaixonaram rapidamente.
“Ainda são países que, economicamente, não estão num sítio tão confortável, mas há uma pureza nas pessoas que não se encontra em mais lado nenhum. Cumprimentam-nos na rua, têm interesse em conhecer-nos”, confessam. Nunca tiveram o objetivo de riscar no mapa o máximo número de países: queriam ver com calma, viver a cultura dos lugares, sem planos para o dia seguinte. Tudo isto sem gastar mais do 55€ por dia, um objetivo que conseguiram cumprir.
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Viajaram maioritariamente pelo sudeste asiático, mas ainda tiveram oportunidade de conhecer o Japão e a Coreia. A vontade de levar a família e os amigos nesta aventura inspirou-os a iniciarem um projeto de criação de conteúdos. Começaram no Instagram, mas rapidamente saltaram para outras plataformas, como o Youtube. Era lá que partilhavam os momentos que viviam no outro lado do mundo — uns mais especiais que outros.
Do Sri Lanka, por exemplo, trouxeram uma das memórias que mais lhes “aquece o coração”. Alugaram um tuk tuk que levaram para todo o lado e que lhes permitiu descobrir o país de forma diferente. Lembrar-se-ão para sempre, também, do “frio terrível” que sentiram no norte do Vietname — não tinham levado roupa adequada para as temperaturas mais baixas — e da forma como foram tão bem acolhidos, mesmo por uma família que não sabia uma palavra de inglês.
“Chegámos de madrugada a uma vila pequena e a única maneira era ficar na casa de locais. Passámos três noites com uma família e só conseguíamos comunicar com eles com o Google Tradutor. Receberam-nos com uma fogueira no meio da sala para nos aquecer e cozinharam para nós. Foi um momento incrível”, recordam. Assim como subir, de madrugada, um vulcão ativo em Java, na Indonésia, mesmo após Andreia ter torcido o pé nos transportes. “O meu pé inchou e estava coxa, mas insisti. Meti ligaduras nos pés, fomos mais devagar, demorámos mais tempo, mas conseguimos. Vimos o nascer do sol com o sítio praticamente só para nós”, conta.
Chasing Gambozinos
O casal passou o último ano a explorar tesouros desconhecidos e marcos icónicos da Ásia — e agora quer ajudar outros a fazerem o mesmo. No início de novembro lançaram o Chasing Gambozinos, um site “para todos os entusiastas de viagens”, com dicas úteis sobre vários destinos.
“Começámos a trabalhar neste projeto no último mês da viagem. Passámos os 20 dias na Indonésia, 16 horas por dia, à frente de um computador a preparar tudo”, contam. A ideia surgiu porque sentiram que ainda não existia muita informação online sobre a maioria dos países que visitaram, principalmente em Portugal. “As pessoas faziam-nos muitas perguntas, não sabiam como ir de um sítio para o outro. Há muita informação na Internet, mas é pré-pandemia, com transportes que já não existem e informações desatualizadas. Queremos partilhar tudo o que sabemos”, reforçam.
Disponível em inglês, português e espanhol, a plataforma disponibiliza vários conteúdos gratuitos, incluindo guias, vídeos, fotografias, e experiências em primeira mão, com maior foco para o continente asiático. Também inclui mapas com os locais de visita obrigatória nos vários destinos, bem como serviços personalizados.
Andreia e Eneas podem, por exemplo, fazer chamadas de consultoria onde respondem a todas as dúvidas dos viajantes durante 45 minutos, por 50€. Para aqueles que não têm tanto tempo para planear tudo, a dupla também pode criar roteiros personalizados, consoante as necessidades e os orçamentos dos clientes: tanto pode ser um itinerário para um fim de semana romântico ou uma aventura de um mês. O objetivo, no fundo, é bastante simples: inspirar pessoas a explorarem o mundo.
A seguir, carregue na galeria para ver algumas das fotografias do casal durante a viagem pela Ásia.