Viajar é talvez uma das coisas mais afastadas da cabeça da maioria das pessoas, pelo menos neste 2020 marcado pela pandemia e por tantos receios — mas não precisa de ser necessariamente assim. Depois de um primeiro estudo, em agosto, ter apontado para uma probabilidade estatística muito baixa de apanhar Covid-19 durante um voo, surgem agora os números: os casos confirmados de transmissão em aviões a nível mundial são tão poucos que, a serem valores reais, as hipóteses de contrair o vírus a bordo são semelhantes às de ser atingido por um raio.
Os números foram divulgados na sexta-feira, 9 de outubro, pela Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA). Segundo esta entidade, que reúne as principais companhias fabricantes de aeronaves, “o risco de um passageiro contrair Covid-19 a bordo de um avião parece muito baixo”. E isto baseia-se no facto de haver apenas “44 casos identificados de transmissão potencialmente relacionada com o voo, em 1,2 mil milhões de viajantes” nos últimos meses, acrescenta.
De acordo com o “Insider“, a matemática é simples: entre janeiro e julho de 2020, estima-se que apenas 44 casos do coronavírus tenham sido transmitidos durante um voo; e que mais de mil milhões de pessoas tenha estado em aviões, em todo o mundo. Os números são ainda mais impressionantes se soubermos que a IATA garante que este valor de 44 inclui casos confirmados, prováveis e potenciais.
Isso significa que haverá cerca de uma em 27 milhões de probabilidade de apanhar o vírus num avião — menos do que as hipóteses de ser atingido por um raio, que são de cerca de uma em 500 mil, pelo menos de acordo com o Centro para Controle e Prevenção de Doenças norte-americano.
O jornal cita um médico consultor da associação, David Powell, que admite que estes dados podem ser uma subestimativa, dadas as dificuldades por vezes encontradas em rastrear todos os contactos e fazer um mapa dos contágios. Na verdade, é por vezes muito complicado estabelecer uma contagem exata de possíveis casos associados a determinado voo. Mas, “mesmo que 90 por cento dos casos não fossem notificados, seria um caso para cada 2,7 milhões de viajantes”, uma probabilidade ainda assim baixa, adianta a associação.
“Achamos que esses números são extremamente tranquilizadores. Além disso, a grande maioria dos casos publicados aconteceu antes que o uso de máscaras durante a bordo se generalizasse”, diz a IATA. A associação refere, aliás, que os filtros HEPA a bordo, as medidas de desinfecção e purificação do ar adoptadas pela maioria das companhias e o uso individual de máscaras são cruciais para estes valores.
Dos 44 casos citados, o número mais alto foi num longo voo de Londres para Hanói, Vietname, onde 15 pessoas teriam contraído o vírus, sendo ainda assim os casos listados como prováveis. Como o período de dados do relatório vai até julho, este não inclui no entanto alguns dos casos mais recentes, como as 16 pessoas com resultado positivo para coronavírus após um voo da Tui de Zante para Cardiff, em agosto.
Alexandre de Juniac, diretor-geral e CEO da IATA, afirmou à revista: “não existe uma medida de “bala de prata” que nos permitirá viver e viajar com segurança na era Covid. Mas a combinação de medidas que estão a ser implementadas estão a tranquilizar os viajantes”. E acrescentou: “Nada é totalmente isento de riscos. Mas com apenas 44 casos publicados de potencial transmissão (…), o risco de contrair o vírus a bordo parece estar na mesma categoria de ser atingido por um raio.”
Já no verão, Arnold Barnett, um professor de estatísticas do MIT, apontara à “CNN” que eram poucos os casos de transmissão do vírus nos aviões, e que a probabilidade de contrair coronavírus era na verdade, e na sua opinião, pequena. O especialista lembrava no entanto que, desde o início da pandemia, o número de viajantes baixou significativamente. Um avião que foi dos Estados Unidos da América até ao Taiwan, a 31 de março, teve 12 passageiros com o vírus e obrigou ao teste de 328 pessoas foi então citado como um exemplo dessa teoria: já que todos os outros passageiros e membros da tripulação testaram negativo.