Viagens

As três irmãs que nasceram na Venezuela e andam a conhecer Portugal de “lés a lés”

Maritza, Jennifer e Daiana partilham todas as viagens que vão fazendo juntas pelo País nas redes sociais.

O que não falta no Instagram são páginas de casais viajantes, amigos ou até mesmo solo travelers que fazem inveja a toda a gente com os destinos incríveis que partilham nas redes sociais. Já trios de viajantes são menos frequentes, mas existem. Mais raros ainda são os grupos de três irmãs como   As 3, de lés a lés.

Maritza (40 anos) Jennifer (36) e Daiana Fazendeiro (31) são filhas de pais portugueses, mas nasceram todas na Venezuela. Os nomes “meio estranhos” foram inspirados em episódios que os pais foram vivendo quando estavam no país sul-americano, revela à NiT a irmã do meio, Jennifer. 

Há cerca de 30 anos, quando a mais nova tinha pouco mais de um ano, regressaram a Portugal, instalaram-se em Aveiro e nunca mais saíram de lá. A não ser, claro, para fazer umas pequenas viagens fora do território nacional. 

A mais velha, Maritza, é professora de biologia e geologia. A do meio, Jennifer, é gerontóloga, apesar de ter um percurso mais ligado à formação na área da saúde. A mais nova, Daiana, é optometrista. Apesar de trabalharem em áreas diferentes, todos os anos arranjam tempo para se juntarem e partirem numa aventura ou numa simples escapadinha de fim de semana, que vão partilhando com os seguidores nas redes sociais.

“Sempre fomos muito unidas e até brincamos com a situação. Muitos dos amigos que temos em comum e os familiares estão habituados a verem-nos as três juntas desde sempre. Quando uma não está, reparam logo que falta uma irmã”, revela Jennifer. Ainda assim, cresceram com as típicas discussões entre irmãs, mas “nada que não se resolvesse facilmente”.

Quando estavam na Venezuela, as duas mais velhas guardam algumas memórias de viagens que faziam com os pais aos fins de semana, mas os passeios deixaram de ser tão frequentes quando voltaram para Portugal. No entanto, quando as três se tornaram mais independentes, começaram a fazer umas escapadinhas juntas. E nunca mais pararam. 

“A primeira viagem que fizemos só as três foi a Viana do Castelo. Na altura ficamos hospedadas no navio Gil Eannes e foi uma odisseia porque a mais nova não gosta muito da sensação de estar num barco. E dormir num navio, mesmo que esteja atracado, foi uma experiência estranha para ela”, confessa a irmã do meio.

Em setembro de 2018, ainda antes de criarem a página no Instagram, aventuraram-se por um dos caminhos mais perigosos do mundo: o Caminito del Rey, em Málaga. Com 7,7 quilómetros de comprimento, dos quais três são em passadiço e cinco em trilho, o trilho demora entre três a quatro horas a ser percorrido e é considerado de dificuldade média.

Um dos pontos mais famosos é a ponte suspensa de três quilómetros de comprimento, por apenas um metro de largura, que une dois rochedos íngremes no desfiladeiro de Los Gaitanes. Além disso, os calçadões e a passarela estão a 105 metros de altura e as paredes são bem íngremes, pelo que são muito comuns as tonturas e não é nada recomendado para pessoas com tendências para as mesmas, ou para quem costuma ter vertigens — como foi o caso da irmã mais nova, Daiana.

“Foi uma aventura bastante grande porque a mais nova tinha um pouco de vertigens e tentámos convencê-la. Já tínhamos visto algumas publicações que também tinham vertigens e disseram que não foi complicado”, conta. Apesar dos receios, decidiram ir as três na mesma numa viagem de grupo. Quando chegaram ao local onde iam ficar hospedados, receberam a notícia de que havia o risco de não conseguirem fazer o percurso devido ao mau tempo, mas tudo mudou à última da hora.

“Conseguimos fazer o percurso e apanhamos um pouco de tudo, sol e algum vento. No final, mesmo a passar a ponte final, começou a chover, mas correu tudo bem. Acabámos por fazer o percurso mais rápido que o normal porque corríamos o risco de voltar para trás devido ao mau tempo”, recorda. Mesmo com as vertigens, a mais nova conseguiu completar o percurso, apesar de “não ter parado muito para apreciar as vistas”.

Entretanto, um ano depois de fazerem o Caminito del Rey e antes de se aventurarem de autocaravana na Estrada Nacional 2, decidiram criar a página de Instagram para partilhar as viagens em família. “Começámos a contar a pessoas conhecidas que íamos fazer a EN2 de autocaravana e todos queriam acompanhar a viagem e pediram para irmos partilhando fotografias. Então decidimos criar a página”, diz Jennifer.

Entretanto, utilizavam a rede social como se fosse um diário de bordo e as fotografias começaram a chegar a pessoas fora do núcleo de amigos. Foi a primeira vez que fizeram uma viagem mais longa (durou cerca de sete dias) e foi também a estreia com uma autocaravana. “Queríamos fazer algo diferente e fora da caixa e tropeçamos numa publicação sobre a EN2. Vimos esta linha a percorrer o País de uma ponta a outra e começámos logo a ver formas de o fazer. Há muito tempo que gostávamos de fazer uma viagem de autocaravana, então juntámos logo as duas coisas”, revela. 

Quando a viagem pela EN2 terminou, começaram a alimentar a página com outros passeios, maioritariamente em Portugal. “As pessoas achavam piada ao facto de sermos três irmãs”, confessa. Apesar de fazerem algumas escapadinhas para fora do País, focam-se sobretudo no território nacional.

Com as três a trabalhar em áreas diferentes, por vezes é complicado gerir as agendas, mas há sempre uma semana em agosto que reservam para viajar. Depois, aproveitam os fins de semana e feriados para fazerem escapadinhas. 

Como vivem numa zona mais de campo, são apaixonadas por caminhadas e natureza e não recusam conhecer novos trilhos que passam por lagos, cascatas ou rios. Nestes percursos, estão sempre de acordo umas com as outras.

“Não é fácil conjugar os gostos de todas, mas há uma coisa que sabemos muito bem que vamos concordar todas: não gostamos de turismo religioso, como visitar igrejas e capelas. De resto, se for um trajeto urbano ou de natureza, geralmente estamos todas de acordo”, revela. Dão preferência a locais onde podem fazer de tudo um pouco, “para quebrar a monotonia”.

Depois de completarem a EN2 de autocaravana, ainda percorreram o resto da costa algarvia pela N125, já conheceram as ilhas de Cíes e Ons, em Galiza (apesar da mais nova não ser grande fã de praia) e nunca recusam uma boa caminhada. 

“Todas acabaram por ser especiais porque temos de as planear com antecedência e vamos alimentando algumas expectativas. Adoramos evitar autoestradas e é muito comum o GPS atraiçoar-nos por estradas de cabras que adicionam sempre comédia às viagens”, conta.

Para este ano, estão a pensar conhecer ainda melhor o Gerês e gostavam de percorrer um caminho de ferro em Espanha, fazer a Nacional 222 e realizar a viagem a Roma, que está pendente deste 2022 devido à pandemia.

Carregue na galeria para ver algumas das viagens das três irmãs.

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