O mundo ainda não voltou ao normal mas, aos poucos, os vislumbres de alguma regularidade regressam. Em teoria, a partir da próxima semana volta a ser possível visitar e explorar o caminho mais incrível e dos mais perigosos do mundo. Na prática, tal só se aplica ainda a cidadãos espanhóis, mas pode ser um bom plano para quem acredita que, com ajuda das vacinas, vamos ter um verão ou outono próximos do normal.
Depois de, também ele, ter estado confinado ou fechado por causa da terceira vaga da pandemia causada pela Covid-19, o Caminito del Rey reabre no próximo dia 12 de março, uma sexta-feira. O icónico caminho, já apelidado por diversas vezes como o mais perigoso ou arriscado do mundo (embora isso fosse sobretudo antes de sofrer obras), começa esta temporada a abrir por enquanto apenas às sextas-feiras, sábados e domingos, embora na Páscoa (de 29 de março a 4 de abril) esteja aberto todos os dias.
Segundo a “Condé Nast” espanhola, os bilhetes podem ser adquiridos a partir de 5 de março às 18 horas, no site oficial. Por enquanto, apenas estarão à venda ingressos até ao início de abril e todos permitem a possibilidade de alteração da data ou devolução integral do valor, caso “as restrições de mobilidade sejam novamente acionadas pelas autoridades”.
Em breve, deverão começar a ser disponibilizadas as primeiras datas do verão e outono e se tiver interesse convém mesmo comprar: as visitas disponíveis costumam esgotar rapidamente e à partida a política mais flexível de devoluções e cancelamentos deverá manter-se. Mantém-se também o preço dos bilhetes, de 10€ para o geral e 18€ para o que inclui visita guiada, tanto em espanhol como em inglês.
O caminho é uma passagem de sete quilómetros, quase aérea e vertiginosa, criada pelo homem nas paredes dos desfiladeiros de Chorro e Gaitanejo, a norte de Málaga. Como a NiT já lhe contou, foi construído em 1905 porque os trabalhadores de uma central hidroelétrica precisavam de uma passagem, e era tão arcaico como o seu uso, feito por desenrasque — até que um rei o teve de atravessar para inaugurar a represa, e assim ganhou o seu nome.
Com o passar dos anos, foi sendo abandonado, desmoronando-se ou resvalando parcialmente em alguns pontos e tornou-se um perigo, chegando a ser fechado depois da morte de quatro turistas entre 1999 e 2000.
Esteve oficialmente fechado durante mais de 15 anos mas os mais audazes continuavam a visitá-lo de forma arriscada e ilegal, até que em 2015 foi feita uma gigante obra de reestruturação, avaliada em mais de três milhões de euros, com recuperação e reforço do caminho, instalação de luzes, criação de estacionamento e muito mais.
O Caminito tem agora um centro de visitantes. Está iluminado, sinalizado, tem preços e horários e um site que explica tudo isto (e dá outras informações).
O seu comprimento total é de 7,7 quilómetros, dos quais três são em passadiço e cinco em trilho. Percorrê-lo na totalidade dura três a quatro horas e é considerado de dificuldade média, com a ressalva de que pelas suas características ainda envolve algum perigo, devendo ser feito por pessoas com capacidade para tal. Até porque, mesmo antes de se iniciar, há uma boa caminhada para lá chegar, e é a subir. Por exemplo, crianças menores de oito anos não são permitidas no local.
Além disso, os calçadões e a passarela estão a 105 metros de altura e as paredes são bem íngremes, pelo que são muito comuns as tonturas e não é nada recomendado para pessoas com tendências para as mesmas. A remodelação eliminou a maioria dos perigos mas requer um certo nível de esforço físico e habilidade, o que é aceite pelos turistas que passam a seguir o percurso.
“Os visitantes não estão a arriscar as suas vidas, mas devem estar cientes da forte impressão que esse lugar pode causar neles. É por isso que esse caminho é tão atraente”, explica-se no site oficial.
Quanto à rota, não é circular, pelo que se deve planear o regresso, a pé ou de transporte. Para lá chegar pode ir por comboio (há serviços regionais para El Chorro) ou por carro. De Málaga apanha a A-357, segue até El Chorro e de lá tem transporte variado e excursões.
Os horários são estabelecidos consoante a época mas normalmente pode entrar a cada 15 ou 30 minutos, e está normalmente aberto todo o ano, com fecho certo às segundas-feiras e na época do Natal. Mas atenção, pode ser, e muitas vezes é, fechado pelas autoridades se as condições meteorológicas não forem boas. Com clima quente é recomendado uso de protetor solar, muita água e cuidados relacionados com exaustão e calor.
Desde que foi reabilitado e reaberto, tornou-se um local de passagem obrigatório para milhares de turistas e até deu um novo impulso económico para a região. Os responsáveis dizem não duvidar que o Caminito já é conhecido em todo o mundo, mas ainda assim pretendem que o número aumente, e estavam, antes da pandemia, a apostar em novas obras e na promoção da oferta hoteleira, que já existe, sobretudo nas vilas de Álora e Ardales. Aqui, estão contabilizados mais de 300 hotéis disponíveis.
Em maio deste ano, celebram-se os 100 anos da passagem do rei Afonso XIII ao Caminito que lhe deu nome, a 21 de maio de 1921. Se quiser arriscar e tornar essa a sua primeira viagem do verão ou outono, os voos de Lisboa para Málaga custam cerca de 140€ e encontra voos diretos o ano todo.