Viagens

Cláudia e Miguel já percorreram a Europa de bicicleta, carro e autocaravana

Trabalham alguns meses na Noruega e agora vivem numa casa sobre rodas, a Alma. Em breve, vão abrir um alojamento no Gerês.
Agora vivem na autocaravana.

Viajar e descobrir o mundo é um sonho que muitos acalentam. Há quem percorra a Europa de carro, autocaravana ou até mesmo de bicicleta. E outros, como o casal Cláudia e Miguel, já o fizeram das três maneiras — e uma delas durante a pandemia de Covid-19, com praticamente todas as fronteiras fechadas, só para o desafio ser maior. Costumam dizer que pertencem à natureza e, atualmente, vivem na Alma, uma casa sobre rodas.

Ela é do Cartaxo e ele de Alverca. Têm ambos 27 anos e conheceram-se em Lisboa, quando estavam a estudar Finanças e Contabilidade no ISCTE. Não imaginavam que, no futuro, não iriam seguir esta área profissional. Ainda chegaram a trabalhar em empresas na capital depois de terem concluído o curso, em 2016, mas não durou muito tempo.

“Tínhamos dois trabalhos porreiros, mas não gostávamos da rotina. Decidimos que não queríamos continuar ali e não fazíamos ideia do que queríamos fazer”, começam por contar à NiT. Como gostavam os dois de viajar, decidiram candidatar-se a estágios remunerados fora de Portugal e escolheram um destino de sonho: Noruega. Tendo em conta que iriam passar lá uns meses, decidiram levar o carro, que acabou por se tornou a primeira casa sobre rodas do casal.

Em 2018, fizeram as malas, pegaram no Citroën C1 e rumaram ao norte da Europa para trabalharem num restaurante durante uns meses. “A vontade de viajarmos de carro e gastarmos pouco dinheiro nasceu aí. Dormíamos em tendas sempre que conseguíamos arranjar um sítio agradável e, quando não era possível, ficávamos dentro do carro. Queríamos ir até ao norte da Noruega da forma mais barata e independente possível”, revelam.

O tal estágio remunerado durou cinco meses, e nesse período, fizeram amigos, estabeleceram contactos e aproveitaram para viajar e conhecer o país. Gostaram tanto que, depois dessa primeira experiência, ainda lá voltaram mais quatro vezes (e mais virão).

“Quando acabou o estágio, começámos a ter trabalhos normais, mas só fazíamos a época do verão. E aproveitávamos os outros meses para viajar”. Foi nesse primeiro ano que também fizeram a primeira grande viagem fora da Europa — partiram à descoberta da América do Sul durante um mês. Depois, já com vontade de regressarem à Noruega, começaram a procurar trabalho novamente e foram contratados para trabalharem num restaurante nas Ilhas Lofoten. 

“Percebemos que queríamos ter um contacto mais próximo da natureza e a Noruega é só montanhas e mar. No primeiro ano nem sentíamos que estávamos a trabalhar, estávamos maravilhados com tudo, apesar de fazermos muitas horas.”  Estavam fascinados com o novo estilo de vida e começaram a acalentar o desejo de comprar uma autocaravana. Realizaram o sonho em 2020, quando deixaram o carro numa sucateira na Noruega, depois de ter percorrido mais de 600 mil quilómetros.

A viagem de bicicleta

Enquanto a carrinha estava a ser transformada em campervan em Portugal (algo que demorou cerca de ano e meio), decidiram fazer uma viagem de bicicleta, com partida do Cartaxo. O objetivo seria chegar, novamente, à Noruega. 

Na verdade, a ideia original era percorrerem a América do Sul a pedalar, mas como deixou de ser possível devido às restrições ditadas pela pandemia, optaram pela Europa. A aventura em bicicleta arrancou em janeiro de 2021 — e foi um dos maiores desafios do casal. 

“Estávamos em plena viagem e voltou a fechar tudo outra vez. Foi um bocadinho um jogo porque estávamos limitados e tínhamos de saber que fronteiras que podíamos atravessar”, recordam. Queriam fazer todo o sul de Espanha, mas a dada  altura todas as regiões impediram a circulação e era impossível passarem por lá.

Foram obrigados a apanhar um comboio para Barcelona, depois conseguiram chegar a Itália, onde as coisas estavam mais calmas. Ainda assim, a Covid dificultou tudo: “Os restaurantes estavam todos fechados e nem podíamos entrar numa estação de serviço quando só queríamos parar para comer alguma coisa”.

Depois de Itália, seguiram viagem para a Croácia, onde as coisas se complicaram. Na altura, tinham duas opções: ou iam para a Hungria ou para a Eslovénia, cujas fronteiras estavam a 30 quilómetros. Escolheram a primeira alternativa.

“Chegámos lá e riram-se na nossa cara. Fizemos mais 30 quilómetros para chegar à fronteira da Eslovénia, também se riram, mas continuamos a insistir. Deixaram-nos entrar, mas disseram que tínhamos de sair seis horas depois”, conta o casal. Pegaram no mapa, já cansados depois de terem feito 105 quilómetros de bicicleta, e perceberam que a fronteira com a Áustria estava a 40 quilómetros. 

Ao chegarem lá, conseguiram entrar, mas com uma condição: tinham de estar sempre em movimento para sair do país. “Assim que chegámos à primeira vila, não havia ninguém e queríamos parar para descansar. Veio um militar ter connosco, pediu-nos identificação e ligou para a fronteira a confirmar a história. Mandou-nos apanhar o comboio até Viena e chegámos lá à uma da manhã, só que ninguém nos deixava ficar em lado nenhum”. Entretanto, lá conseguiram arranjar um apartamento para passar a noite.

Com tudo isto, perceberam que a melhor opção seria ir para a Polónia, o único país que estava aberto, e voltaram a apanhar comboio para Katovice. Percorreram o país de Norte a Sul e, antes de apanharem o barco para a Suécia, os planos foram novamente por água abaixo por causa da Covid-19: testaram positivo e ficaram três semanas de quarentena.

“Perdemos o timing todo, quando chegámos à Suécia tivemos muitos desafios de meteorologia e então decidimos voltar para Portugal”, contam. Apesar de não terem conseguido chegar à Noruega, ainda percorreram 2500 quilómetros ao longo de três meses.

Quando chegaram a Portugal, começaram a transformar a carrinha, que tinha ficado nas mãos de duas pessoas experientes. Nessa altura, inspirados pela liberdade, natureza e slow-living, decidiram criar a Vanbora, uma empresa que “cria campervans à medida”, juntamente com a dupla Rui e Paulo, que concretizam tudo o que é idealizado.

Em janeiro do ano passado, o casal começou a viver definitivamente na autocaravana e andaram a conhecer o País sobre rodas. Em abril, levaram pela primeira vez a campervan para a Noruega, numa viagem com várias paragens pelo meio. “Depois de tanto tempo a dormir no carro e em tendas, viver aqui é um luxo”, revelam.

Regressaram novamente a Portugal e estacionaram a carrinha no Gerês. “Nunca vamos deixar de viajar, mas temos aqui este terreno onde estamos a construir uma casa de madeira que vai estar no Airbnb. Era uma ideia do meu pai já há muito tempo, até porque sempre vimos para esta zona passar férias”, conta Cláudia. A construção do alojamento está já na reta final e deverá abrir portas em breve.

No final de março, o casal irá partir para a Índia, onde vão fazer um curso de montanhismo nos Himalaias. No futuro tencionam começar a fazer viagens guiadas para a Noruega. “Ficámos tão apaixonados pelo país que queremos lá voltar e levar pessoas connosco.”

De seguida, carregue na galeria para ver algumas fotografias dos locais por onde Cláudia e Miguel já passaram.

ver galeria

ÚLTIMOS ARTIGOS DA NiT

AGENDA NiT