Subitamente, pequenas explosões simultâneas começaram a causar dezenas de feridos e mortos um pouco por todo o Líbano. Em poucas horas, a explicação foi desvendada: as forças secretas israelitas (embora oficialmente o neguem) terão instalado uma pequena quantidade de explosivos em pagers supostamente destinados aos operacionais do Hezbollah.
O que seria apenas mais um ato de agressão numa escalada de violência no Médio Oriente, poderá ter efeitos que ameaçam a segurança global e, mais concretamente, o modo como viajávamos de avião. O que é certo é que o impacto já se faz sentir.
Na sequência do ataque, o governo libanês proibiu o uso de pagers (e walkie-talkies, também alvos da operação) em quaisquer voos que aterrem e descolem dos seus aeroportos. Também o transporte comercial destes equipamentos foi proibido por via aérea. O medo alastrou-se e também a Qatar Airways decidiu banir os dispositivos.
Nas colunas de opinião, os especialistas avançam a real possibilidade de novos ataques poderem surtir efeitos na aviação comercial semelhantes aos dos de 11 de setembro de 2001, que impuseram duras barreiras de segurança e controlo nos aeroportos de todo o mundo, mudando o transporte aéreo para sempre.
“Será o fim dos telefones e dos computadores nos aviões?”, questiona o especialista e ex-oficial do Pentágono, Michael Rubin. “O uso de wi-fi tornou-se a norma nos aviões de passageiros (…) e a maioria das pessoas leva consigo portáteis, telemóveis e tablets durante os voos. A grande questão aqui é se a operação contra os pagers do Hezbollah pode ser replicada em telefones americanos ou europeus e noutro equipamento eletrónico.”
“Para que servem pequenas lâminas ou bombas dissimuladas para destruir um avião, se um sinal pode detonar uma série de tablets ou telemóveis sobre os céus do Atlântico?”, reitera Rubin, que deixa a resposta para os “especialistas em segurança”.
O ataque de 17 e 18 de setembro terá feito mais de 40 mortos e de 3500 feridos. E se a operação visava pagers e equipamentos alegadamente encomendados pelo grupo libanês, a partir do momento em que entraram em circulação, qualquer um poderia ser vítima da explosão. Foi o que aconteceu, com várias crianças e profissionais de saúde a representarem danos colaterais da operação israelita — ou “ataque terrorista”, como a apelidou Leon Panetta, antigo secretário de Estado da Defesa dos EUA e ex-diretor da CIA.
“A capacidade de colocar um explosivo numa qualquer tecnologia prevalente nos dias que correm e transformar isso numa guerra de terror, é algo realmente novo. Não creio que haja qualquer dúvida quanto ao facto de isto ser também uma forma de terrorismo.”
O ataque foi também alvo de críticas por parte do alto-comissário das Nações Unidas, Volker Türk, que acusou Israel de violar o direito internacional ao usar como armas aparelhos comuns usados no dia a dia pelas populações.
No que toca a explosivos, os equipamentos disponíveis nos aeroportos são já capazes de os detetar. É esse um dos motivos pelos quais a Transportation Security Administration (TSA), autoridade responsável pela segurança nos aeroportos norte-americanos, confirmou que não irá, por enquanto, banir o uso de pagers. “Usamos uma série de tecnologias, processos e métodos para analisar e detetar explosivos e outras ameaças”, revelam ao “The Wall Street Journal”.
A ocultação de pequenas quantidades de explosivos plásticos em voos não é nova. Aconteceu em 2001, quando Richard Reid tentou detonar o explosivo que levava na sola do sapato. Ainda assim, alguns especialistas apontam que (ainda) não existem indícios ou ameaças suficientemente credíveis para que se verifique uma mudança nos protocolos e critérios de segurança nos aeroportos.
“Se um [explosivo ocultado num dispositivo] for encontrado, assistiremos a uma caça internacional aos aparelhos eletrónicos”, reitera Jeffrey Price, especialista em segurança na aviação.