Em outubro do ano passado, a portuguesa Teresa Araújo, conhecida nas redes sociais como Teresa Around The World, foi expulsa de um avião da companhia aérea norte-americana Spirit Airlines por estar a usar um top curto. A viajante de 34 anos e a miga, Tara Kehidi, voavam entre Los Angeles e Nova Orleães quando passaram por situação que descrevem como “terrível” e “vergonhosa”.
“Fui apanhada totalmente desprevenida, jamais pensei que isto pudesse acontecer. Já viajei imenso, ainda agora estive um mês na Europa e apanhei uns sete voos e nunca na minha vida me tinha acontecido isto”, contou à NiT, na altura, a jovem que trabalha numa empresa de software na Califórnia.
O caso, que gerou indignação nas redes sociais, ganha agora novos contornos. A companhia norte-americana atualizou o “contrato de transporte” a 22 de janeiro, estabelecendo os novos termos e condições que devem ser respeitados por todos os passageiros.
As novas regras, citadas pelo jornal “The Independent”, afirmam que pessoas com tatuagens consideradas “ofensivas” pode ser recusado no momento do embarque. Além disso, se estiver “descalço ou inadequadamente vestido”, também não será autorizado a entrar a bordo do avião.
A empresa explica que as peças de roupas proibidas incluem “vestuário transparente, não adequadamente coberto, exposição dos seios, nádegas ou outras partes privadas”.
A decisão também se aplica no caso de passageiros desordeiros, violentos, que tenham uma doença contagiosa, que se recusem a sentar com o cinto de segurança apertado, com “odor ofensivo, exceto se causado por uma deficiência qualificada” ou se colocar em risco a segurança a bordo.
O caso de Teresa Araújo
Quando Teresa e a amiga chegaram ao aeroporto ao final de manhã de 4 de outubro, para apanhar o avião, às 13 horas, tudo decorreu normalmente. Tranquilas, foram beber um café, passaram pela porta de embarque e entraram no avião, onde foram recebidas por três tripulantes de cabine que lhes deram as boas-vindas.
“Ninguém fez qualquer referência à forma como estávamos vestidas, mas quando estávamos a ir para o nosso lugar, um comissário de bordo, chamado Jay, olha para mim e manda-me vestir o casaco”, recordou à NiT portuguesa. Inicialmente, não percebeu o motivo da solicitação. Ainda equacionou a possibilidade de ter a ver com o facto de se tratar de uma companhia low cost e não permitir que levasse o casaco à cintura, mas estava enganada.
Desconcertada, Teresa decidiu procurar informações sobre o dress code da Spirit Airlines na Internet, mas não encontrou nada. “Perguntei-lhe se me podia mostrar-me o código de vestuário da companhia, mas ele respondeu que não. Disse que ia chamar a supervisora para discutirmos. Isso deixou-me ainda mais nervosa, pois não queria entrar em conflito com ninguém”, recorda.

Quando a supervisora se aproximou novamente, fez uma ameaça: se não saíssem do avião, chamaria a polícia. “Pedimos para ficar, a dizer que vestíamos a camisola, mas não quis saber de nós. Alegou que nos marcaria um novo voo, mas era tudo mentira”, afirma.
Relutantes, acabaram por deixar o avião, ainda na esperança de um reembolso ou nova marcação, mas descobriram que não havia forma de remarcar ou receber compensação em caso de expulsão. Além de Teresa e Tara, a mulher com a filha de três anos também foi obrigada a sair.
O incidente custou-lhes mais 900€, a cada uma, para viajarem com a Delta Airlines, seis horas depois. “Não recebemos qualquer explicação e passámos por uma situação humilhante. Nem nos disseram o sobrenome do comissário de bordo”, admite.
Teresa apresentou queixa contra a companhia aérea e que cerca de 16 passageiros que estavam naquele voo também avançaram com queixas contra a Spirit Airlines. “Este é um serviço terrível. Em 2024 estamos a ser expulsas de um avião porque um comissário de bordo homem não gostou das nossas roupas. Todos os que trabalham no aeroporto concordaram que isto foi um ato de preconceito, discriminação e misoginia e que deveríamos tomar medidas legais”, escreveu nas redes sociais.