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CUBO: dentro deste edifício envidraçado na Suíça, luta-se por um mundo sem fumo

Fomos conhecer o centro de investigação e desenvolvimento da Philip Morris International, uma das maiores indústrias de tabaco do mundo.
Fica em Neuchâtel.

Ainda não tínhamos chegado à estação de Neuchâtel, mas já se via ao longe um edifício que se destacava de todos os outros da região. O nosso destino? O CUBO, o Centro de Ciência Inovação e Design da Philip Morris International (PMI), na Suíça. Situado mesmo à frente do lago, com um espelho de água e grandes janelas do chão ao teto é desenvolvido tudo o que diz respeito à inovação, ciência e design de uma das maiores empresas de tabaco do mundo. Naquele marco da arquitetura, que foi inaugurado em 2019, foram investidos 128 milhões de euros.

O CUBO é praticamente tudo o que esperávamos que fosse: futurista, com centenas de divisões e janelas envidraçadas, amplos espaços abertos, áreas modernas e coloridas e vegetação cuidadosamente cuidada. Tudo isto ao longo de uns fantásticos 34 mil metros quadrados. Ali há 1.058 salas com propósitos variados. Algumas são espaços de trabalho comum e individuais, enquanto que outras servem para reuniões ou para armazenamento. Assim que entrámos, não pude deixar de reparar nas plantas que decoravam o edifício, como se fosse um jardim interior, e as cores vibrantes que, não sei bem porquê, me traziam alguma tranquilidade. 

Ao longo dos quatro pisos, encontram-se laboratórios, escritórios e espaços de lazer, sempre com o rio do outro lado do vidro. Por lá, existem mais de mil colaboradores, dos quais mais de 400 são cientistas. Pelos corredores, encontram-se ainda engenheiros químicos, cardiologistas, médicos e toxicólogos de 40 nacionalidades, que estão a trabalhar em conjunto para a grande transformação que a Philip Morris está determinada a criar: um mundo sem fumo. Perceber as mudanças desta indústria de tabaco foi o principal motivo que nos levou a Neuchâtel.

O CUBO — desenhado pela empresa de arquitetura Burckhardt & Partner e construído entre 2006 e 2009 — é o coração de toda a operação (e onde foi criado o primeiro cigarro sem combustões, o iQOS). Antes, todas as inovações decorriam num edifício da K Properties em Moulin, neste mesmo país. Agora, estão a ser desenvolvidas soluções que dizem ser menos nocivas para a saúde, o que pode parecer irónico, tendo em conta que foram um dos impulsionadores dos cigarros em todo o mundo — mas já lá vamos. 

Mais conhecida pela sua marca Marlboro, a Philip Morris, da qual a Tabaqueira (maior empresa de tabaco em Portugal) é subsidiária, foi criada em 1902, em Nova Iorque, pela família do inglês Philip Morris, dono de uma tabacaria londrina do século anterior. Hoje em dia, é detentora de seis das 15 marcas de tabaco mais vendidas do mundo, mas está a caminhar para uma das maiores revoluções do setor: a gigante internacional do tabaco quer abandonar os cigarros e mudar para uma estratégia sem fumo. E a ciência é a chave para esta transformação. 

A PMI quer criar um mundo sem fumo

Ainda antes da viragem do século, começaram a pensar em soluções para reduzir a toxicidade de produtos de tabaco. Desde 2008 a PMI investiu mais de  8,1 mil milhões de dólares na investigação e desenvolvimento de produtos sem combustão e fumo, incluindo o CUBO, a unidade de pesquisa de última geração da multinacional. Apesar de ser norte-americana de origem, o centro mundial de operações está baseado em Lausanne, na Suíça, que acaba por ser a casa-mãe da PMI.

Em 2016, a tabaqueira anunciou que quer um mundo sem cigarros nos próximos anos e o objetivo é que, até 2025, a maior parte das receitas líquidas venha de produtos sem fumo. Ao longo da última década, a PMI tem desenvolvido um portfólio de produtos sem combustões, como os heets para as máquinas IQOS, com o objetivo de substituir o consumo de cigarros por alternativas potencialmente menos nocivas. 

Atualmente, existem cerca de 1,1 mil milhões de fumadores no mundo, mas a mensagem que a PMI pretende passar é bastante clara: “se não fuma, não comece; se fuma, deixe; se não deixar, mude para algo melhor”. É este o mote da gigante internacional do tabaco.

Se nove em dez fumadores não conseguem deixar de fumar, a empresa defende que a melhor solução será mudar para uma alternativa menos prejudicial à saúde. Foi a pensar nisto que começaram a desenvolver produtos sem fumo, cuja absorção de nicotina é feita sem a combustão do tabaco.

Muitas pessoas acreditam que a nicotina, a substância viciante que provoca dependência, é a razão pela qual o fumo dos cigarros é nocivo, mas são outros constituintes químicos presentes no fumo que constituem as principais causas de doenças relacionadas com o tabagismo. Sempre que um fumador acende um cigarro, dá início a uma reação de elevadas temperaturas que se chama  combustão — e essa sim, é a principal causa de doenças relacionadas com o consumo do tabaco, como o cancro no pulmão. 

A empresa apostou então em formas alternativas de utilizar produtos de tabaco, sem recorrer à combustão (que origina vários constituintes químicos nocivos). Ao longo de vários anos de investigação e desenvolvimento, os cientistas e engenheiros do PMI descobriram formas alternativas e satisfatórias de consumo de nicotina e conseguiram alcançar uma nova classe de produtos de tabaco aquecido, ou seja, sem combustão — que, apesar de não serem isentos de risco, acreditam ser a melhor alternativa.

Como nenhum destes produtos queima tabaco, não atingem temperaturas elevadas, ou seja, superiores a 600 graus. Sem combustão, também não há fumo, pelo que contém níveis significativamente mais baixos de constituintes químicos nocivos do que os cigarros.

O primeiro país a arrancar com a estratégia de produtos de tabaco aquecido foi o Japão, em 2014, e Portugal foi o quarto. Desde então, as máquinas iQOS já chegaram a 24,9 milhões de consumidores no mundo — 400 mil em Portugal, através da subsidiária da PMI, a Tabaqueira —, segundo o relatório integrado da empresa, referente ao ano de 2022. 

Contudo, estes produtos ainda suscitam algumas dúvidas de quem continua a fumar cigarros tradicionais e críticas dos antitabagistas. Afinal, quais são as evidências de que os produtos representam menos riscos para a saúde? 

“Do ponto de vista clínico, já sabemos que estes produtos geram 95 por cento de níveis inferiores de substâncias nocivas comparadas com o cigarro. Já há estudos feitos que mostram que as hospitalizações por algumas doenças relacionadas com o consumo de tabaco diminuíram, paralelamente à introdução no mercado destes produtos. A correlação é bastante clara, não é conclusiva, mas tudo indica que os produtos sejam bem melhores do que o tabaco”, explica à NiT, Tommaso Di Giovanni, vice-presidente de comunicação da PMI.

Outra das maiores preocupações relacionadas com as máquinas iQOS são os novos fumadores. Há quem considere que os produtos de tabaco aquecido podem ser um incentivo para a aquisição de hábitos tabágicos, sobretudo no caso dos jovens.

“É uma preocupação legítima e também a temos, mas existem leis que proíbem a venda de menores e é importante que essas leis sejam aplicadas pelos governos. Mas do que já vimos, no caso da iQOS, podemos concluir que não atrai nem os menores, nem os não-fumadores, devido às nossas práticas responsáveis”, esclarece.

Embora não sejam isentos de riscos, os produtos de tabaco aquecido já foram cientificamente comprovados como uma melhor alternativa ao fumo contínuo. Ainda assim, a PMI continua a reforçar: a melhor escolha que um fumador pode fazer é deixar de fumar.

De seguida, carregue na galeria para ver mais imagens deste incrível CUBO.

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