Viagens

De mochila às costas e polegar em riste, Bruno anda pelo Médio Oriente à boleia

Já fez uma viagem de 500 quilómetros num camião carregado de petróleo puro e foi tratado como um sheik na Arábia Saudita.
Tem 34 anos.

Bruno Barbosa nasceu em Faro, mas considera-se um cidadão do mundo. É “viciado em viajar” e, com apenas 34 anos, já visitou 75 países de mochila às costas. Diz ser “anti táxis” e “anti hotéis de luxo” e prefere andar à boleia, de carro em carro, sem destino ou grandes planos. Vai onde o condutor o conseguir levar, dorme no seu saco cama onde for possível, seja na rua, debaixo das oliveiras, ou nas mesquitas. É aventureiro e destemido, e está neste momento a viajar pelo Médio Oriente da forma que mais gosta: com um polegar levantado, à espera da próxima boleia. 

“Desde miúdo e dos tempos da escola que sempre fui diferente dos outros, com ideias fora da caixa. Viajava muito com o meu pai e este bichinho das viagens está-me no sangue, nasceu praticamente comigo”, começa por contar à NiT o farense. Quando o pai morreu, tinha ele 21 anos, começou “a bater terreno sozinho” e com a mochila que tanto adora. “É a melhor coisa que tenho na vida e não a troco por nada deste mundo”

Aos poucos, foi adicionando países à sua lista. Começou pela Europa e, quando deu por isso, já estava praticamente dentro deste mundo das viagens — e nunca mais quis sair. Chegou a fazer uma viagem de quatro meses pela América do Sul, também à boleia, onde foi roubado pela primeira (e única) vez na Argentina. Mas nem isso o impediu de continuar a sua viagem despreocupada pelo mundo — nem mesmo quando partiu a cabeça na Índia e teve de ir a um hospital indiano levar quatro pontos de emergência. “Fui de moto ambulância no meio das vacas e lixo, sem seguro de viagem nem vacinas nenhumas”, conta. 

Há cerca de um mês, deu início àquela a “uma das melhoras viagens” que já fez, cheia de aventura e muitos quilómetros percorridos. Começou no Egito, passou a fronteira para Israel, depois Jordânia e Arábia Saudita, até chegar aos Emirados Árabes Unidos, onde está atualmente — tudo isto durante o mês do Ramadão. “Foi especial viajar pelo mundo árabe em pleno Ramadão. Às duas da tarde, um rapaz saudita pegou no tradutor do telemóvel e perguntou-me se queria comer ou se precisava de alguma coisa”, recorda. Apesar de comer constantemente, não deixava de perguntar às pessoas se o podia fazer. Para ele, “o respeito é a chave para que tudo corra bem”.

Quanto às boleias, confessa que não espera muito mais do que cinco minutos para entrar num carro no Médio Oriente. O máximo que esperou foram duas horas — e isto porque atravessava o deserto na Arábia Saudita, em pleno dia e na altura do Ramadão. “Não passavam muitos carros porque nesta altura costumam ficar a descansar durante o dia e também estava muito calor”, diz. 

Depois dessa espera de duas horas, apanhou aquela que considera “a boleia mais marcante e especial”. Não era um carro, mas sim um camião de ouro negro, carregado de petróleo puro acabado de ser extraído da natureza, conduzido por um indiano. Foi uma viagem de 500 quilómetros, a maior que já fez até à data. 

O máximo que já fez num dia foram 1000 quilómetros (duas boleias de 500), mas também já chegou a apanhar dois autocarros — e não pagou nada pela viagem. A primeira foi no Egito, quando andava a pé e foi parado por um polícia num dos muitos check-points que existem no país. “Disse-me que não podia passar a pé porque era perigoso. Pegaram no meu passaporte e começaram a passear com ele de um lado para o outro”. 

Ao fim de três horas, a polícia também começou a perguntar a todos os condutores que passavam se alguém ia para o destino que Bruno queria. “Já estava farta de estar ali, então decidi que ia apanhar o próximo autocarro que passasse. Acabei por ir para o Cairo, que não era bem o que queria, mas foi um autocarro gratuito”, conta.

Mais tarde, já na fronteira da Arábia Saudita, apanhou boleia com dois rapazes jovens que lhe disseram que não era segundo andar de carro e carro. “Levaram-se a uma estação e ofereceram-me um bilhete para a cidade de Jeddah, no mar vermelho da Arábia Saudita. Foram 1.500 quilómetros.”

Para Bruno, o maior desafio de andar a viajar à boleia, sozinho e com uma mochila às costas é precisamente esse: “Nunca sabes onde irás parar, nem quem vais apanhar ou conhecer”.

Bruno já visitou mais de 70 países, mas confessa que o país que mais o marcou foi a Arábia Saudita. “Não imaginava que seria tão bem recebido, nem que iria encontrar o povo mais hospitaleiro do mundo. A todos os minutos convidavam-me para comer, inclusive a polícia”, diz. Foi “tratado como um sheik” e até conheceu um rapaz que ficou “maluco por encontrar uma pessoa do país do Ronaldo” e decidiu comprar-lhe a roupa típica do país.

Passar as fronteiras com o passaporte português foi, na maioria das vezes, tranquilo — mas já aconteceu ter de ficar horas à espera para entrar noutro país. “A fronteira mais chata foi a do Egito para Israel. Fiquei quatro ou cinco horas num banco à espera do meu passaporte já no lado de Israel para poder avançar. Tudo porque recentemente também estive no Líbano e tinha o carimbo no passaporte. Ao fim de muitos telefonemas e perguntas lá perceberam que não era nenhum espião”, recorda.

Quanto às próximas viagens, não sabe para onde irá nem o que vai fazer. Tem sido uma aventura baseada em imprevistos — e “é essa a parte mais interessante”, considera. “Com estas histórias tão genuínas e diferentes, quero incentivar as pessoas a saírem das suas zonas de conforto. A vida é muito curta e temos um mundo gigante para explorar”, reforça Bruno, que partilha as todas as suas viagens no Instagram.

A seguir, carregue na galeria para ver as fotografias de Bruno Barbosa nesta viagem à boleia pela Médio Oriente. 

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