De uma pequena cidade do nordeste do Brasil para o mundo, Anderson Dias, de 31 anos, tornou-se no primeiro brasileiro a visitar os 196 países reconhecidos pela ONU.
“Vim de uma família muito pobre no Brasil. Vendia capas de telemóvel em Recife, mas percebi que isso apenas me traria dinheiro e não conhecimento”, começa por contar à NiT o viajante, também conhecido no Instagram como 196 Sonhos. Com um desejo imenso de explorar o que estava além das fronteiras do país onde nasceu, começou a poupar dinheiro para abandonar a loja e seguir o seu sonho.
Entretanto, despediu-se, vendeu praticamente tudo o que tinha, e, em 2018, aventurou-se numa volta ao mundo. Viajante a solo, Anderson Dias começou a apostar nas redes sociais. Costuma dizer que “viajar não é para quem é rico, mas sim para quem tem coragem”.
A sua jornada inspirou muitas pessoas, incluindo Robson Jesus, conhecido nas redes sociais como O Nego Vai Longe. Trabalhou 10 anos no maior hospital público da América Latina, mas decidiu mudar-se para os Estados Unidos no início da pandemia para aprender inglês.
“Desde miúdo que tinha aquele sonho de visitar todos os países, mas cresci na maior favela de Osasco [em São Paulo] e isso parecia praticamente impossível”, recorda o brasileiro de 36 anos. Apesar das adversidades, não desistiu. Quando descobriu a história de Anderson Dias, sentiu-se inspirado e acreditou que poderia fazer algo semelhante.
“Entrei em contacto com ele e ajudou-me a organizar a minha viagem de sonho”, conta. Após oito meses de preparação, Robson Jesus partiu para a sua volta ao mundo a 28 de abril de 2022, com o mesmo objetivo que o seu mentor: percorrer os 196 países reconhecidos pela ONU, feito que conseguiu em tempo recorde. Reconhecido pelo Guinness World Records, Robson concluiu o desafio em apenas dois anos e 42 dias, tornando-se o homem mais rápido a visitar todos os países.
Agora, os dois viajantes embarcaram juntos numa nova aventura: irão realizar a maior travessia ferroviária do mundo, de Portugal a Singapura, passando por 16 países e percorrendo 20 mil quilómetros em mais de 40 comboios.
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O objetivo, revelam à NiT, é completar o percurso em apenas 40 dias para celebrarem o Natal com a família. “Sempre sonhei em fazer a Rota Transiberiana, que passa pela Rússia, Mongólia e China, mas muitos me falavam desta que é a maior viagem de comboio do mundo”, explica Anderson, que desafiou Robson a juntar-se a esta aventura.
Os dois partiram de Lagos, no Algarve, a 12 de novembro e, embora ainda não tenham percorrido metade do percurso, já apanharam mais de uma dúzia de comboios. O maior trajeto até agora foi entre Paris e Berlim, uma viagem que durou nove horas, mas esperam rotas ainda mais longas. Uma das mais extensas será a que liga Moscovo a Pequim, com mais de sete mil quilómetros.
De Pequim, seguirão para Kunming, antes de se dirigirem à cidade de Boten, na China, e depois à capital do Laos, Vientiane. Seguir-se-á Banguecoque, na Tailândia, e, posteriormente, Padang Besar, na Malásia, passando por Penang, Kuala Lumpur e, por fim, Singapura. Para as viagens de comboio em Portugal, Espanha e França, já adquiriram os bilhetes, mas as seguintes têm sido compradas à medida que chegam aos respetivos destinos.
Tanto Anderson Dias como Robson Jesus estão habituados a estar em movimento durante as suas viagens, mas agora enfrentam o desafio de ficar sentados durante longas horas, o que, por vezes, se torna difícil de suportar. “Este é o nosso grande desafio. Precisamos de nos entreter, conversar com pessoas, conhecer as suas histórias”, comenta a dupla.
No primeiro comboio que apanharam, de Lagos para o Porto, confessam que “fizeram uma festa lá dentro”. “Ainda existe o estereótipo de que os portugueses são mais sérios, mas conseguimos que todos cantassem.”
Noutra viagem, perguntaram a uma senhora de 89 anos qual era o segredo para uma vida longa. “Disse-nos que está em ter boas relações e trabalhar arduamente”, recordam. S
empre que não estão a viajar, aproveitam para explorar as cidades em que se encontram. Em Berlim, ficaram encantados ao ver uma mulher a cantar na rua, indiferente à chuva e ao frio. “Não tínhamos dinheiro para lhe dar, mas ela disse-nos que o mais importante era que nos divertimos”, contam.
Nos próximos dias, acreditam que viverão experiências inesquecíveis nesta que é uma das aventuras “mais desafiantes e inspiradoras” que já realizaram. No que diz respeito aos custos da viagem, estimam gastar cerca de 3.000€ cada, valor que inclui as viagens de comboio, alimentação e estadia. “Estamos a tentar manter tudo o mais low cost possível”, sublinham.
A jornada está a ser documentada nas redes sociais de ambos e continuará a ser partilhada até chegarem ao destino final: Singapura.