“Isto de La Palma soa-me a premeditado”, revela uma utilizadora no Twitter. “Penso o mesmo, isto não é casual”, responde outra. E assim se começou a montar a teia negacionista que, depois da pandemia, aponta as armas a outro alvo: a erupção do vulcão na Cumbre Vieja, em La Palma, que já desalojou milhares de pessoas.
Contrariamente ao que aconteceu desde o arranque da pandemia, envolvida em contornos que eram até então desconhecidos para o comum dos mortais — e que potenciaram o surgimento de suspeições, ainda que infundadas —, ninguém esperava que uma catástrofe natural com esta natureza pudesse ser colocada em causa. Subestimou-se, portanto, o poder do negacionismo.
Foi precisamente nas redes sociais que na última semana estalou este movimento, de palavra em palavra, de tweet em tweet, de teoria em teoria, os negacionistas foram gravitando para o centro deste novo negacionismo onde tudo se supõe e nada se prova.
“É tudo feito. Se repararem nas imagens e nos vídeos, o vulcão sai dos lados e não do topo, que é de onde se supõe que deva sair a lava. Estranho, estranho, estranho… é tudo planeado”, afirma outra utilizadora.
A primeira pergunta que se impõe e que foi colocada por muitos é simples: como é que uma erupção destas poderia ser orquestrada? E como sempre, há uma resposta. Muitos falam na HAARP ou nas “ondas HAARP”.
Referem-se ao Programa de Investigação de Aurora Ativa de Alta Frequência, um centro criado no Alasca para analisar a ionosfera terrestre. Os estudos são feitos através da emissão de sinais de rádio de alta-frequência. A natureza complexa da operação levou a que o HAARP se tenha transformado num tema querido aos negacionistas e criadores de teorias da conspiração.
“Ondas Haarp = erupção. Assim as pessoas esquecem-se da vacina”, escreveu um dos negacionistas. “Tenho a certeza de que o vulcão de La Palma foi provocado pelo HAARP.”
Este não é, nem de longe nem de perto, o único desastre atribuído ao HAARP. Milhares invadiram as redes sociais para acusar o centro de investigação de estar por detrás da queda do avião da Malaysian Airlines em 2014; ou de ter provocado os sismos no Haiti; ou até de ter causado o desastre do vaivém espacial Columbia. Tem sido assim desde 1993, ano em que foi construído.
Provas? Não as há. Mas nem isso impede que os negacionistas batam o pé e até liguem o desastre a outras questões. “Casual? Não. E logo agora quando rebentam as manifestações cada vez mais furiosas. O último a sair que apague o HAARP.”
Esta é outra das questões que se impõem: se o evento foi orquestrado, quais as intenções? A doutrina divide-se entre os que acreditam que se trata de uma manobra de diversão da pandemia; outros apontam para o preço da luz.
“Provocaram a erupção do vulcão para que nos esqueçamos que o kilowatt roça hoje o seu máximo histórico”, explica uma utilizadora das redes sociais. Outros revelam que é a única forma dos governos distraírem a população, enquanto os protestos contra os passaportes e certificados Covid continuam a surgir nas ruas.
Entre tantas teorias, sobram apenas duas certezas: nenhuma das afirmações tem qualquer base científica; e o negacionismo não irá terminar com o fim da pandemia.