As saudades do que considerávamos normal e rotineiro estão a criar modas que atingem níveis próximos do surreal. Fenómenos que provavelmente daqui a uns anos vamos negar terem existido, como voos para lado nenhum ou cafés e restaurantes para matar o desejo de comida de avião são, neste inédito 2020, uma realidade e uma tendência crescente.
A nova criação surgiu na Tailândia, um dos países mais turísticos do mundo e também um dos mais fechados ao mundo, desde que a pandemia de Covid-19 começou. Tratam-se de cafés, isso mesmo, de avião — sem ser no avião.
Tal como no caso dos voos para lado nenhum — um sucesso recente que até já resulta em lugares caros a esgotar em dez minutos — também aqui a estranheza é a primeira sensação. Até porque, novamente como nos voos — que para muitos eram até agora um meio para chegar a um fim — na comida podemos mesmo ir mais longe e dizer que era, para diversos visitantes, um sacrifício ou algo a tolerar para chegar a esse fim — o fim de viajar, em trabalho ou em lazer, pelos ares.
Há quem adore comida de avião, é um facto, mas daí a pagar num restaurante para a comer vai uma distância. Mas quando as viagens estão praticamente paradas há meses e os wanderlusters já não aguentam, é precisamente isso que está a acontecer. Segundo o “Daily Mail“, com milhões em todo o mundo presos em casa devido à pandemia, os cafés de avião na Tailândia estão a oferecer aos cidadãos daquele pais a oportunidade de fingir que estão nos ares, a bordo.
Na cidade de Pattava, na costa da Tailândia, um avião comercial reformado foi transformado num espaço para comer, com todos os interiores preservados ou adaptados.
Aqui, neste Airbus A330, os lugares são todos gratuitos e todos em primeira classe— as refeições é que são pagas, claro. Mais do que a comida, que não é aqui necessariamente de avião, neste Coffee War pretende-se recriar toda a experiência de um voo, cartões de embarque e visitas ao cockpit incluídas.
E os clientes entrevistados pela agência AFP, e citados pelo jornal, dizem que a experiência é uma verdadeira salvação em termos de pandemia. Até porque envolve embarque, assentos, fingir ser capitão e manobrar comandos, comer e beber café e claro, tirar fotos incríveis de tudo isto.
A opinião é a mesma dos clientes de um outro espaço, um café que abriu na sede da companhia aérea nacional Thai Airways em Banguecoque. Aqui, a comida é mesmo de avião, servida, em bandejas de plástico pela tripulação de cabine, tal como no ar.
Mas há mais: todo o espaço foi recriado ao milímetro, para dar a sensação, pelos vistos tão saudosa, de os clientes serem passageiros. Em tempos de quedas históricas nos voos e de distanciamento, é um dois em um: encontra o ambiente, as poltronas, desenhadas de forma a ter muito mais espaço entre pessoas, dá empregos.
Além disso, há quem comente, nas redes sociais, que a comida da Thai Airways é na verdade das melhores (de avião) do mundo, o que só ajuda ao atrativo.
A noticia surge depois do anúncio, no final da passada semana, de que um voo de sete horas da Qantas para lugar nenhum esgotou em 10 minutos. A informação chocou meio mundo mas parece ser apenas o início de uma nova e crescente tendência, nascida para apaziguar o desejo de viagens — os voos que saem e regressam ao mesmo lugar, sem nunca parar.
Depois de meses a tentar contornar as restrições globais, algumas companhias terão visto a solução nestas viagens aéreas que acontecem exclusivamente com o propósito da viagem, não com o do destino.
As economias agradecem e, voltando ao caso dos café avião da Tailândia, bem precisam: este foi o primeiro país fora da China a detectar um caso de coronavírus, mas desde então registou um número baixo, com cerca de 3.400 infecções e 58 mortes.
No entanto, as restrições de viagens estragaram a economia dependente do turismo, enquanto os tailandeses ficaram presos devido a requisitos de quarentena em outros países e no seu próprio território.
No final do mês de agosto, foi anunciado que, a Tailândia iria prolongar até 31 de setembro o estado de emergência, apesar de quase três meses sem contágios locais.
Esta foi a quinta extensão do estado de emergência decretado no início da pandemia mas, segundo as autoridades, é uma medida necessária para manter o controlo sobre as pessoas que chegam do exterior, e logo sobre a evolução da Covid-19. A Tailândia começou a reabrir as suas fronteiras para turistas estrangeiros a 1 de julho de 2020 mas apenas para empresários, trabalhadores qualificados, cidadãos com família tailandesa ou que procuram serviços de saúde tailandeses.
Estava prevista para 1 de agosto a reabertura geral mas agora, anunciam vários meios internacionais, não é certo quando ela vai acontecer. Uma previsão de um vice-governador da Autoridade de Turismo da Tailândia avançada a 18 de agosto afirmava que o país pode permanecer fechado até o final do ano.
Segundo o “Jakarta Post“, depois do anúncio do prolongamento do estado de emergência, foi dada no entanto conhecer a intenção de reabertura de Phuket ao turismo, ainda que com cuidados fortíssimos. O jornal adianta que a Tailândia permitirá que turistas estrangeiros façam estadias mais longas a partir de outubro, numa tentativa de recuperar o setor económico crucial.
Ainda assim os turistas terão que ficar por pelo menos 30 dias, com os primeiros 14 dias em quarentena numa área limitada do seu hotel, antes de poderem visitar outras áreas.